segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Shelter

Isto aqui não é carta, poesia , prosa ou conto com um final surpreendente. Aqui escrevo por um dia de fraqueza, um dia em que assumo a primeira pessoa, um dia em que não conseguiria colocar sentimentos meus em nomes de outrens. Não seria personagem feminino, não teria nome bíblico, não deixaria figuras de linguagem falarem por mim. Hoje, eu não conseguiria.

Um louco. Para muitos apenas artíficio, uma auto proteção ou algo para se contar numa roda de cerveja e passar por companheiro divertido. Para alguns, uma constante;não se lembrar, cair, quebrar alguma parte do corpo ou abraçar a privada enquanto amigos riem do lado de fora do banheiro.

Muitas vezes, sentenciam-me essa definição. A insanidade cuspida aos quatro ventos, a não moral, o desprendimento como resposta para um entendimento pifio e doloroso. E já com preguiça, passei a concordar e gostar disso.

Passaria eu a discordar de sinais tão expressivos de loucura? Criador de histórias - Certamente, nunca acredite na palavra de alguém que já passou a noite dentro de um carro na frente da casa do amado . Bipolaridade - Ainda há alguma dúvida? Vou de ápices de felicidade à pensamentos suicidas, um quebra cabeça kafkaniano. Infatilidade -Pois é, ainda acredito em livros. Claustrofóbico - ambientes fechados somente em casos de bebedeiras extremas. Por essas e tantas outras, evidencia-se que louco , em meu caso, é apenas apelido. Além dessas , acrescentaria a definição de importância regente ao meu eu, hoje, plenamente exaltado. Ironia - Sim, releia todo o parágrafo.

Loucura deveria ser artigo de luxo. E em meu caso, a loucura permeia atitudes altamente conhecidas, tanto para mim como para os poucos que, algum dia, tiveram o mínimo contato com ela. Não dormi na porta de amados, não sou de quebrar a cabeça e utilizo Kafka apenas para inspiração ou estudos acadêmicos.

No entanto, após um final de semana de fimes percebo que já consegui ter o gostinho da insanidade. Mas assumo que não cheguei perto de um final que eu julgasse de filme. Não convenci alguém com minhas palavras ou tive uma batida em minha porta da pessoa esperada ,em lágrimas, na calada da noite.

Afirmo que já senti o cheirinho gostoso de cartas, a esperança sensacional em lê-las, seguida após o fim do último parágrafo de um: "Puxa, quase lá! Quem sabe mais algumas provocações e não consigo o que quero?" E o que eu tanto quero encontro apenas em filmes. Por mais clichê que esta realidade seja, finais de filmes me suprem. E se no real , estes não existem. Que puta vida de merda.

Prefiro que os casos de uma semana que julgam me conhecer apontem o dedo em minha cara e continuem a me chamar de louco. Porra, muito mais legal. Ganho destaque e a auto estima vai a mil. Sem finais de filme, até o THE CHOSEN ONE perde a graça. E olha que esse há muito anda sem sal.

A permanência do trato frígido, a manutenção da filosofia do "foi bom enquanto durou" ou "o que tive com você nunca terei novamente" são enfadonhos e dignos de descrença.

Gente, originialidade nas relações amorosas. Se permitam a loucura. Vamos deixar "Querelle" no chão, fazer de Almodóvar um mero retratista do cotidiano humano. Vamos amar "pelicularmente" - entenderam a sacada?

Aqui vos fala, um jovem que pouco fez. Porém, alguém que consegue algum tipo de felicidade com ácidas doses de egocentrismo, um jovem que consegue deixar o medo de lado com algumas vodcas, alguém que ainda sabe chorar por amor.

O bode é tamanho, eu sei. Porra,fica mais fácil apertar o play - você chora da mesma forma e nunca com uma história sua. Conheço tanta gente assim...

Eu ainda sou chamado de louco

Lucas Galati

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Almas Gêmeas / Luiz Tatit

Se faço uma cara carente
É melhor me mimar
Se tenho expressão de doente
É melhor me curar
Se a minha cabeça está quente
Cê deve assoprar
E mesmo proposta indecente
Convém aceitar
Cê tem que cuidar
Cê tem que
Cê tem que evitar
Que a esta altura da vida
Eu despenque
Você me aparece sempre
Na hora certa
Você é a dependência
Que me liberta
E conserta


Se estou com frio
Você sabe o que é bom
Pra aquecer
Se estou vazio
Você vem preencher
Se desconfio
Você fala de um jeito
Que eu volto a crer
Se me arrepio
Você chega a tremer
Quando inicio
Você lá na frente
Põe fim, conclui!
Se sou vadio
Me substitui
Nunca uma dupla
Foi tão homogênea
Almas gêmeas!


Se faço uma cara de fome
Vem me alimentar
Se vivo morrendo de sede
É melhor me molhar
Se digo sempre a mesma coisa
É bom concordar
Se pensa ir embora pra sempre
É só me levar
Por onde cê for
Eu sigo
Não posso viver
Muito tempo
Sozinho comigo
Você é o chão seguro
Em que eu piso
Você é o que ainda resta
Do meu juízo
É isso


(a incerteza de um achado/ achado incerto/ certo não acho/ se ache certo/acerto)

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Pingente de ouro

Faço de ti, peça minha
Escapulário de Deus tão próprio.
Relíquias daquelas que adentram mar escuro,
já não pedindo voltar.
Ressuscito histórias e as prendo em pingente de ouro.

Sou maré,
conheço o som de ressaca.
Sou peça de mar e carrego em relicário contos antigos,
primeiros encontros.
De marinheiros pegos por Iemanjá, presos pela areia,
escondidos em parágrafos de Amado.

Escrevo por navegantes de pele escura e tatuagem no pescoço.
Homens que de tanta água se perderam em terra.
Homens que desconhecem leitura e,em tempo livre,
fazem poema de frente para a Lua

Homens de mulheres infindas, mas de única amada - Amor de terra distante.
Marinheiros que apenas desconhecem o caminho de voltar.
Vida de mar, retorno em samba. Em choro.
Assim são seus poemas,
Assim são suas marolas,
Assim são esses homens do cais.
Assim sou eu:
maré,
ressaca e amor.

Lucas G.
(poema dedicado à Constance Sotos, amiga que entendeu minha necessidade de solidão)

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

E tenho dito...

Texto de Drauzio Varella na Folha do dia 4/12

Violência Contra Homossexuais

A HOMOSSEXUALIDADE é uma ilha cercada de ignorância por todos os lados. Nesse sentido, não existe aspecto do comportamento humano que se lhe compare.
Não há descrição de civilização alguma, de qualquer época, que não faça referência a mulheres e a homens homossexuais. Apesar de tal constatação, esse comportamento ainda é chamado de antinatural.

Os que assim o julgam partem do princípio de que a natureza (leia-se Deus) criou os órgãos sexuais para a procriação; portanto, qualquer relacionamento que não envolva pênis e vagina vai contra ela (ou Ele).

Se partirmos de princípio tão frágil, como justificar a prática de sexo anal entre heterossexuais? E o sexo oral? E o beijo na boca? Deus não teria criado a boca para comer e a língua para articular palavras?

Se a homossexualidade fosse apenas uma perversão humana, não seria encontrada em outros animais. Desde o início do século 20, no entanto, ela tem sido descrita em grande variedade de invertebrados e em vertebrados, como répteis, pássaros e mamíferos.

Em alguma fase da vida de virtualmente todas as espécies de pássaros, ocorrem interações homossexuais que, pelo menos entre os machos, ocasionalmente terminam em orgasmo e ejaculação.

Comportamento homossexual foi documentado em fêmeas e machos de ao menos 71 espécies de mamíferos, incluindo ratos, camundongos, hamsters, cobaias, coelhos, porcos-espinhos, cães, gatos, cabritos, gado, porcos, antílopes, carneiros, macacos e até leões, os reis da selva.

A homossexualidade entre primatas não humanos está fartamente documentada na literatura científica. Já em 1914, Hamilton publicou no "Journal of Animal Behaviour" um estudo sobre as tendências sexuais em macacos e babuínos, no qual descreveu intercursos com contato vaginal entre as fêmeas e penetração anal entre os machos dessas espécies. Em 1917, Kempf relatou observações semelhantes.

Masturbação mútua e penetração anal estão no repertório sexual de todos os primatas já estudados, inclusive bonobos e chimpanzés, nossos parentes mais próximos.

Considerar contra a natureza as práticas homossexuais da espécie humana é ignorar todo o conhecimento adquirido pelos etologistas em mais de um século de pesquisas.

Os que se sentem pessoalmente ofendidos pela existência de homossexuais talvez imaginem que eles escolheram pertencer a essa minoria por mero capricho. Quer dizer, num belo dia, pensaram: eu poderia ser heterossexual, mas, como sou sem-vergonha, prefiro me relacionar com pessoas do mesmo sexo.

Não sejamos ridículos; quem escolheria a homossexualidade se pudesse ser como a maioria dominante? Se a vida já é dura para os heterossexuais, imagine para os outros.
A sexualidade não admite opções, simplesmente se impõe. Podemos controlar nosso comportamento; o desejo, jamais. O desejo brota da alma humana, indomável como a água que despenca da cachoeira.

Mais antiga do que a roda, a homossexualidade é tão legítima e inevitável quanto a heterossexualidade. Reprimi-la é ato de violência que deve ser punido de forma exemplar, como alguns países o fazem com o racismo.

Os que se sentem ultrajados pela presença de homossexuais que procurem no âmago das próprias inclinações sexuais as razões para justificar o ultraje. Ao contrário dos conturbados e inseguros, mulheres e homens em paz com a sexualidade pessoal aceitam a alheia com respeito e naturalidade.

Negar a pessoas do mesmo sexo permissão para viverem em uniões estáveis com os mesmos direitos das uniões heterossexuais é uma imposição abusiva que vai contra os princípios mais elementares de justiça social.

Os pastores de almas que se opõem ao casamento entre homossexuais têm o direito de recomendar a seus rebanhos que não o façam, mas não podem ser nazistas a ponto de pretender impor sua vontade aos mais esclarecidos.

Afinal, caro leitor, a menos que suas noites sejam atormentadas por fantasias sexuais inconfessáveis, que diferença faz se a colega de escritório é apaixonada por uma mulher? Se o vizinho dorme com outro homem? Se, ao morrer, o apartamento dele será herdado por um sobrinho ou pelo companheiro com quem viveu por 30 anos?

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

E se...

E se te quero, por favor, não pense,
Pois quando sofro, regurgito verbos.

Não ataco, colho flores e olho céu.
Do todo pequeno, cresci de recortes.
Sou partes,
sou apenas, contudos e entatos.

Não faço sentido,
eu blasfemo.
Finjo não olhar,
e no escuro, escorro vermelho.

E se te falta,
sonho o toque,
recolho-me,
ululo e
prometo preencher suas ranhuras,
reescrever seus parágrafos.
Arrancar sorrisos. Nunca meus.

E se te choro,
afago cartas em copos de pinga,
recolho véus
e gasto aquarelas.

E se te minto,
faço por não ter noites a pensar,
faço incompreendido,
faço pelo prazer de desconfiar,
faço por poesias e redundâncias.
Meu hedonismo, sua juventude.

E se te corto,
abro um caderno velho
e escrevo que o melhor amor é aquele que nunca existiu.

E se te tenho...

Lucas G.

domingo, 28 de novembro de 2010

Tabacaria / Fernando Pessoa

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos, 15-1-1928

Indicação preciosa, caro Bruno Flaixer!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Páginas frias

Desconheceu metáforas por
anos de ardência.
Em cima da cama,
debaixo da mesa,
em perfumes e canetas.
Em nuvens.
No inverno.

Um corpo.
Seu corpo.
As mãos, apunhalavam carícias.
No peito, o desejo de uma vida longe de tudo.
Longe de si.
Daquilo.
Do que seria.

O passado ainda não tinha feito páginas e
ele ainda não tinha chorado.
Rascunhava um texto,
indolor, de página única e seu personagem já não tinha nome.

Da primeira palavra, escorreu amor de forma juvenil.
Pelo recente, desconhecia sentimentos.
E se deliciou nas suspeitas,
num bombear silencioso,
em lembranças de luas e jangadas.

Início errado?
O pequeno começava apenas a acreditar.
Das corridas, um gozo.
De porradas, sua forma.
De poemas, os sonhos.

Ele amava assim.
Um romântico em potencial,
um sádico ou um louco?

E por anos, calado permaneceu.
Numa noite, deu um nome.
Especificou aquilo que ele tão pouco sabia.

Na tarde seguinte,
a porra esfriava em cima da pia,
os textos haviam sido cortados,
os poemas, agora, em sátiras.
E o tão pequeno ainda não entendia.
E , talvez, nunca entendeu.

Vieram anos,
e ele murmurou já em ápices de insanidade:
seria o vento lá fora? Ou a janela sempre esteve fechada?
Não se via.
Se culpava.
Tinha aprendido a amar assim.

No vigente,
descobriu que o distante novamente se aproxima.
O inexistente tão tácito no recente,
fará vida em confins. Em corpos de outras terras.
Tentará outro nome.

E o pequeno sempre rasurado, terminará em folhas frias.
Buscando alguém que possa colocar cor no grafite de tempos antigos.


Lucas G.

domingo, 14 de novembro de 2010

Armando e Rogério

Do Armando ela tinha a companhia. Uma tarde no cinema, um café depois , quem sabe uma cerveja. Com ele, ela conseguia conversar sobre seus problemas financeiros, as crises na família e a vontade de ser mãe.
Ela falava de seus livros e ele de seu amor por carros. Ela reparava em mendigos e ele pulava poças.
Uma manhã no Ibirapuera, beijos na nuca e cafunés. Ao deixá-la em casa sempre seu celular tocava: "Boa noite querida! Durma bem, amanhã te ligo.
E Armando ligava.


Rogério a consternava. Dois anos mais novo e morava com os pais. A cama como a melhor poesia. Arquitetavam posições em ângulos sexualmente perfeitos. O tempo inexistia e o ápice era atingido todas as vezes.Em horas ou segundos. Sua boca, os pêlos de seu peito, ela tinha vontade de ter aquilo por dias. Semanas. Ela queria poder ligar, queria mandar mensagens ou passar tardes no Ibirapuera.
Mas Rogério sumia.
A conversa dos dois era feita de corpo, suor e altas dosagens alcóolicas. Denso o suficiente para quase esquecer preservativos. Intenso , percorria distâncias. Partindo sempre dela. Ela estudava horários, buscava alguma brecha, um resto de salário.
Ele desmarcava.


Armando e Rogério. A companhia de um, o sexo do outro. Ela: mulher formada, independente, de casa alugada e viagem planejada no final do ano. Ela: amante de coração infantil, vagava nas promessas de Rogério, se divertia com os comentários de Armando. Cada um, saciava uma particularidade, acalmava seu interno ainda tão imaturo. Não decidia e não pedia mudanças, vivia esperando mensagens de Rogério e acalentava as ligações de Armando.


Dessa forma, ela conseguia o status de menina-mulher. Uma auto aprovação, uma brincadeira feita por ela e com ela mesma, uma forma encontrada de se vangloriar dizendo ser adepta aos relacionamentos abertos. Ela não era.


Na aparência ou na arrogância. Na incerteza ou no orgasmo. Na completude ou no inato. Até que a morte os separe.


Ela já não sonhava com vestidos brancos.

Lucas Galati

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Meu ladrão, o nunca.

Desse todo tão pequeno,explorei garranchos de alta estatura. Já provei sabores de outras terras, fui atrás daquilo que não conhecia. Longe da alma de aventureiro e léguas das descrições de horóscopo. Sim, sagitariano e só. Do signo, característico apenas minha intransigência. Diria melhor, minha inconstância. No entanto, desde quando astros podem falar de mim.
Não satisfeito, caminho.
Relembrar, sangra
e quando perfura,
sofro. Sozinho.
Nesse caminho, me faço egocêntrico e consciente de meu escudo. Seria esse humano tão enfadonho em falar de seus próprios sentimentos? Seria niilista um jovem colecionador de nostalgias? Afirmo minhas pífias experiências, mas o que poderia eu escrever senão aquilo passado, o que tanto teria pra dizer aos outros senão que amo. Que sofro. E que, de certa forma , aprendi a dizer . Não por respostas, mas perguntando.

Delimitar um começo? A primeira vez que ele me roubou tudo. Ele me roubou o Chico,o Tom e o Vinicius. Ele tirou todo o sabor de minha Clarice e me proibiu de ler Kafka.
Se aponto um final? O dia em que conseguir ter tudo isso de volta.

Crescer é se desconhecer. Cada dia um pouco mais. Deitar em sua cama já com os cabelos todos brancos e não ter resposta alguma. Não saber dizer se foi bom e sentir vontade de começar de novo.
A vida brinca com os sujeitos da vida. Cabe a nós entender que o tempo só finda abaixo da terra e que ser humano será sempre duvidar.
E que o final sempre se deu na palavra nunca.


(texto dedicado a Juliana Yzumida que numa tarde relembrou um lado meu esquecido em asfalto)

Lucas G.

domingo, 7 de novembro de 2010

Metade Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

NÃO SE MATE Carlos Drummond de Andrade

Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas, vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, pra quê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor, no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.

domingo, 24 de outubro de 2010

A noite

(...)E só então entendi que histórias de amor não precisam de cavalos brancos, trilha sonora ou um conhecimento de anos. Elas podem durar instantes, estar permeadas por doses de álcool ou mesmo acontecerem dentro de uma balada. Elas são feitas pelo imprevisível e emaranhadas por uma sintonia da não explicação. São tácitas e palavras são falhas quando se tenta uma descrição. Elas acontecem em noites de quinta ou feriados prolongados. Elas ficam na cabeça e tem um gosto bom, pois viram capítulos. Registros eternos, documentação pessoal e altamente restrita.
Pela irrealidade, muitos desacreditam. À mim, faço tônico. Uma tarde de escrita, quem sabe. Relembrar carícias, beijos e suspiros, que mal há nisso? - simplesmente acordar e se ver bonito.
Que noite!

Lucas G.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Sem título ou Lembranças

Antes de noites de sonho,
relembro a passagem retratada em simples instante.
Três almas que se entregaram a uma paixão visceral,
etérea,
três jovens que criaram uma fábula
e não imaginaram final. Seria perda de tempo.
E se tivessem o feito, não seria o que se prontifica.
Por isso, a estante expõe o instante,
para espantar lembranças ruins,
pesadelos
e refrescar a mente de todo o dia ou
,talvez, dormir coçando certezas.Quem sabe desta forma poder sonhar.

Na atual conjuntura, isso basta.

Lucas G.

domingo, 17 de outubro de 2010

Dia cinza

Aquele marasmo voltava a cansar e se eu te dissesse , você não acreditaria: ao sair lá fora o dia estava cinza.
Cor aquela de um tom só, pesada, arqueava as costas e dava vontade de voltar pra cama. Com muito esforço, ainda consegui deitar por ali mesmo. Não queria o conforto, dar risadas teatrais ou beber uma cerveja. Queria um dia assim, queria estar deitado naquela posição. Queria sentir a espinha estranhando o gelado do concreto. Não queria pássaros coloridos, uma mão acariciando meu pêlo ou uma música ao fundo. Não queria ninguém de família, ou de relativa proximidade, queria olhar a cor e fazer dela responsável por qualquer devaneio.
Naquele dia eu não queria palavras humanas. Poderia vomitar frente a qualquer sinal de mimetismo descabido ou de uma falação a respeito de rodopios empíricos, quase sempre inexistentes.
Eu estava farto dessa necessidade e do dia cinza não haveria água, pomba ou gritos de criança que me tirasse daquele estado de inanição.
Eu degustava o momento. Sólido, aos poucos, controlava as dores de meu corpo após uma noite de balada, tinha esquecido o comentário ríspido do amigo que tentava impressionar o namorado e conseguia deturpar a face de meu maior engano - levantava a bandeira da auto proteção.
Na cabeça, apenas a insatisfação de ter que dar certo, a infelicidade do dia seguinte, em que novos relatórios esperavam para serem preenchidos. Eu estava cansado.
Seguir um contrafluxo teria seus desenganos?
Para ser estranho , você precisa de permissão.

Havia me cansado até das noite de bebida. As mesmas pessoas, fazer aquele olhar na esperança de ser reconhecido. Na possibilidade de alguém te olhar e captar algum sinal de conectividade que não se baseie apenas em dentes bonitos , um corpo musculoso e uma calça de marca. Não querer chamar a atenção por razões que não vão além de um copo a mais de vodca.
Queria me sentir homem, queria alguém que sentisse sem pesares e grandes elocubrações.
Queria , uma vez, abraçar e me sentir protegido.
Mas não. Não naquele dia.Não naquele dia cinza. Ao me olhar no espelho, estava sem cor e não tinha a menor aptidão para reverter situações ou processos altamente definitivos.Estava longe de querer vermelhos, rosas ou azuis.
Propagaria em sinal de protesto. Até um dia que finalmente pudesse sentir que alguém , de fato, olhava pra mim e não para o meu copo de vodca.Uma pessoa que simplesmente não mandasse na manhã seguinte: "Desculpa! Estava muito bêbado! Você curtiu?". Alguém que não sumisse.
Esperava um dia que pudesse voltar a ter cor.

Lucas G.

domingo, 19 de setembro de 2010

Maria Alguém

Ela já havia chegado aos seus 70 anos. Carregava consigo uma bolsa de flor, andava com parcimônia e suas pintas começavam a criar pêlos.
Nas tardes quentes gostava de andar pela praça e jogar comida aos pombos, num estereótipo perfeito da terceira idade.
Tinha se casado, já criara seus filhos e tinha três netos. Nas tardes frias, gostava de sentir o arrepio ao entrar na piscina aquecida para aula de hidro.
Seu nome não importa. Quando viveu? Muito menos. Ela odiava especificações... Nome era apenas para os conhecidos e nostalgia deixava para roda de amigas no carteado de todas as quartas.
Em qualquer outra situação, se julgava Maria Alguém. Dessa forma, acreditava ser tão normal quanto o nome Maria, ao mesmo tempo se julgava diferente por se sentir viva, ter cabeça fresca, como gostava de dizer, e sentir já poder escrever um livro. Uma crônica. Talvez, uma estrofe. Era alguém.
Alguns dias mais Maria, outros com doses maiores de Alguém. Fato é que ela chegara ao posto de setentona em forma e saúde de ferro.
Essa Maria nunca tinha traído, nunca arriscou transar sem camisinha e nunca conseguiu ser moralista com os pequenos. Já deu cigarro para filho, escondido do pai. Já havia fumado um beck com a irmã mais nova. E chorava de dar risadas com os amigos de seu neto. Dormia ao fechar os olhos e nunca teve grandes abalos psicológicos.
Numa noite de muito frio, tinha reunido uma pesada munição de cobertores e se ajustava até encontrar a melhor posição para dormir. Deu um beijo em seu marido Alberto, que já roncava e , antes de apagar a luz, abriu a gaveta do criado mudo, tateou o fundo do móvel até encontrar um papel já bastante amassado. Ao abrí-lo, as lágrimas vazaram e teve de colocar o travesseiro na boca para os soluços não serem ouvidos.
Maria Alguém tinha um segredo. Algo nunca antes dito. Uma preciosidade em forma de papel. Terminou de ler tudo que ali estava escrito, beijou a folha e ,quando estava colocando de volta, sentiu algo em seu peito. O coração bateu uma , duas e na terceira cansou do movimento de toda uma vida e resolveu descansar e adormecer Maria.Maria não acordou mais. Dormiu com a carta ainda em suas mãos.
Alberto acordou e tomou um susto ao ver Maria toda fria. Ainda tentou chacoalhar, beijar, mas nada adiantou. Maria já dormia. Sono pesado, levado para o algum lugar ao som das últimas três batidas. Quando levantou e se preparava para avisar toda a família , viu a carta na mão da esposa.
Na frente, uma caneta de pena dizia: A minha Maria Alguém. Desenrolou com cuidado, pois o papel estava em péssimo estado. Seguia cada linha e a água cortava seus olhos, rachados pelo tempo. Era Maria gélida em sua frente ou tudo o que lia?

"Minha Maria, a sua voz por aqui ainda ficou. Todas as elocubrações regadas, agora, a cervejas americanas. Lembro ainda de nossos sonhos. E não esqueço de você me dizendo que o real amor se esconde".
Nos escondemos em armários, verborragias e suspiros. Nos resguardamos para nós mesmos.Apenas ali, intensos. Entrega por instantes. Demos formas a uma mentira já tão sólida. Sentimos gosto de verdade. De forma faceira, inconsequente e infantil.
Olho e não te vejo, meu amor.
Porque não veio comigo?
Do seu amado,
Antônio".

Essa foi Maria. Sem nome e sem idade.Foi também sem forma, traçou duas vidas e morreu sendo ninguém aos braços. Morreu ao som de três batidas e Alberto remoendo toda a verdade. A certeza de que, ao longo de setenta anos, sua Maria era mais conhecida e tão mais incompleta. A certeza de que seu coração sossegava com as letras de Antônio. Com o gosto de saudade. Do pouco. Do efêmero. Que seu coração sossegava com o real amor.E não era ele.

Antônio não foi ao enterro.

Lucas Galati

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O mar de Amado

Lembro de pegar o saveiro quando a tarde ainda caía. De Seu Antônio contando as estórias dos sete metros de carne branca. Lembro de barbatanas costurando as marolas.Rápidos instantes cor de rosa.
Lembro do caminho até a praia e do cheiro de boas vindas do mar. Maconha e areia molhada. Lembro ter tirado uma foto.
Do pouco tempo na terra do olho discreto, fui atrás de caranguejos e nadei com sereias criadas; fiz de buracos na terra, cadeiras de vento. De uma despedida do Sol, um motivo para dar um abraço. Nessa viagem quase disse te amo e entrei em água de rio. Nadei com crianças que voltavam da escola, tomei cachaça da terra.
Corri na velocidade de trovões, escalei montanhas e cortei o pé.No pouco tempo , interpretei colorindo sentidos,pulsões e vontades. Fiz desenhos e algumas poesias. Dancei agarradinho e descobri a congada.
Pouco tempo foi este em terra de ninguém. De peito aberto e trejeitos tão inatos, de malícias ilusionistas, um malabarista de estrofes extinguindo um passado cinza e ganhando asa de gaivota - pose para fotografia.
A intensidade faz falta.Daquela forma. Hoje ganho arreio e tênis de lata. Sou cinza e dizem que desaprendi a chorar. A certeza apenas de um coração bombando hemácias pelas memórias.Pelo um antigo escondido em caderno amarelo.Vermelho. De vento. Amado.

Lucas G.

(texto feito após ler o livro Mar Morto de Jorge Amado)

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sem título

Você ainda dirá que sou louco,
enquanto eu murmurar não saber.

Saiba que feliz fico com a liberdade,
minha e sua.
Não tenho vontade de copiar passos ou
de reafirmar insólitas semelhanças. Já nada existe.

Tendo o vazio, aprendo com as não escolhas.
E há muito não sofro.

Estranho pensar nas guinadas dessa vida.
Quero apenas que se lembre de que nada sabia e que
desconhecendo , fizemos as mesmas escolhas!

Lucas G.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

De tão pouco

Caro Alberto:

Por aqui, as pessoas ainda namoram em carros e as azaléias continuam com cor.
Ainda olham nos cantos dos olhos e procuram o mar para esquecer.
Aqui, vê-se a fé acesa numa ceia de Ano Novo e o companheiro enrolado em cobertores degustando latrina. Rezas ecoam em vazio.
Vácuo congruente, um acordo entre o dentro e o fora.
Uma balança equânime pesando o nada -
E ainda se paga caro por isso.

Desses arredores, há mães que correm atrás de filhos,
há filhos que choram a ausência de mães.
Alguns cantam para as gotas de chuvas,
outros declamam em cima de palcos.
Por aqui, dicotomias aglutinam:
Rico de alma tão pobre,
pobre que oferece o pouco obtido.
Neste lugar, pessoas acreditam em amores invisíveis,
outras enlouquecem.

Poucos conhecem a palavra escrita.
Já não se pensa,
se posta.
Por aqui, ser humano vira bicho,
anseia sangue,
suga em seco,
fede e não se olha.

Os cientistas afirmam retrocesso,
os poetas clamam por cinco reais.
Por aqui, já não se vive...
se vaga.

Neste lugar, nunca mais alguém olhou para cima

Lucas G.

Pout Pourri do Amor / Lu Lopes

"Eu vou te amar , você vai ver.
Só não vale economizar amor para se proteger.

Já cresci , sem querer.
Invisível movimento .

O amor está escrito,
não nas folhas de papel.

Repare
Repare,
já te escrevi um livro
são letrinhas redondinhas.

Os olhos escrevem sem querer,
para quem vier ler em sliêncio.

Eu vou te amar , você vai ver.
Só não vale economizar amor para se proteger".

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Fone de ouvido

Era ação diária. Te tirava da minha bolsa e colocava nos ouvidos. As vezes, você me fazia chorar; em outras, minhas pernas não se aguentavam de tanta vontade de dançar. Em noites de lua cheia, você ouvia meus segredos, dando-me os sussurros em doses exatas, numa precisão que escorria em gozo perfeito.
Teve dias que te coloquei apenas para ouvir um outrem. Nem percebia você ali, sua função era basicamente repercutir ,em afagos e risadas, as intenções do outro que tanto me dizia.
Muitas vezes, você me pintou, fez eu me sentir dentro de um filme da década de 20 ou me impulsionou numa atitude almodovariana. Em contrapartida, já fez eu esquecer. Numa sinergia, em um fluxo constante de interno e externo, de música e corpo, do certo e do descabido.
Você também já fez eu lembrar. Memórias de não saber, das mentiras transformadas em grandes verdades. Primeiros amores. Graças ao seu som, eu cultivei instantes e escrevi cartas.
Por você, dei ritmo aos meus passos, pulei paralelepípedos e consegui dar 360° em um poste. Com você, voltei a ser criança; não tive vergonha e ganhei um beijo. Engolido pelas ruas da Augusta, consternado em um sonho juvenil. Você me deu a boa música, fez eu personificar divas e criou minha tatuagem.
Por som, choro, metáforas, ereções e flertes, assumo o trabalho cumprido.Tudo que me entregou por eu apenas ter te tirado da bolsa. Não gosta de escuridão?
De fato, na luz, você reluziu, marcou e muniu com cuidado e apreço os instantes de minha vida.

Lucas G.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ânsia

Mais uma elucidação de uma vã hipocrisia? Não surpreende.
Se sempre tão longe do real; mantenha-se também distante de memórias que não são suas.
Não chegue perto do passado dos outros, das lembranças bonitas, de pequenos instantes jamais contados.De um sentido tão pessoal.
Saber que aconteceu já me enoja. E, dessa vez, fechei as mãos, algo que há muito não fazia, apenas para agradecer as escolhas feitas.
A noite fria de ontem, trouxe dois novos esclarecimentos. Ambos de uma sujeira e de uma baixeza incabível.
Não posso delimitar ou querer trasmitir princípios de berço a corações tão mais confusos , ou apenas, mais gélidos. Porém, posso me abster.
Quando ouvi pela primeira vez, revirou um sentimento de indecência. Tentar o disfarçe frente ao incrédulo.Mas foi maior, muito maior...
E senti , mais uma vez, aquela vontade de sumir.
Pois cansa tamanha irrealidade; pois irrita a falsa proximidade; pois consterna ver que tudo não se passou de um jogo. Um jogo para acalentar a si próprio e , quando for possível, se satisfazer.

E um vento cortou a cara. E avistei a torre iluminada da Paulista e eu estava ali perto. Poderia tirar satisfação, cuspir, ou quem sabe até bater. Por razão nenhuma, apenas para eu finalmente deixar alguma marca. Senão memorável, pelo menos dolorida. E o que me adiantaria?
Logo então, comprovei aquilo por muito negado. A falsidade da sua postura, a leveza de sua fala, as risadas pelas angustias alheias. O seu desejo em colocar para baixo aquilo que jamais teve. A sua maior insegurança: a realidade.
Se fazer presente, galgar um caminho sólido de consquistas e reciprocidades, nunca existiu em seu discurso. Ao ponto de me perguntar, quem afinal seria o tal pseudo?

Existem as mensagens não respondidas, as experiências de um dia e o discurso bem elaborado a outrem. Mas , pare e pense, palavras tão hipócritas que ao serem ditas poderiam refletir, pois assim ou quem sabe assim, ninguém derramaria lágrimas, enquanto você caísse no riso. Ninguém sonharia, enquanto você goza, ninguém sofreria, enquanto você se contorce numa noite descabida.

Ontem, senti nojo de ti. Capcioso discurso. Travestir-se em uma pessoa que não é e nunca existiu. Ou eu nunca conheci.
Ontem, não foi só vento, barulho de carro e goles de cerveja. Foi também ver em você sombra, um vulto que por impulso tenta descobrir como é viver. Viver de fato.

Lucas G.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Santiago Nazarian

Minha mãe morreu e eu ganhei um apartamento com vista para o mar. Uma ilha distante – da vida que costumávamos viver. Depois que eu saí de casa e meu pai morreu de câncer, minha mãe, que costumava não sorrir para não causar rugas de expressão, decidiu torrar o resto da vida sob o sol. Eu nunca fui visitá-la – não naquela ilha, ao menos. Nos encontrávamos quando ela vinha a São Paulo, no Natal, na casa da minha tia, no dia das mães. Agora eu me encontrava numa casa estranha, numa nova vizinhança, com uma vizinha explicando onde minha mãe guardava as contas, onde guardava o sal.



Fui até a ilha cuidar do enterro, dar baixa nos papéis, ventilar o apartamento. Pretendia vender a propriedade, mas ponderava se não podia viver por lá. Largado há três meses de um longo namoro, suspeitando que a qualquer momento eu podia ser demitido, viajei com o leve prurido da possibilidade de que, se eu fosse outra pessoa, vivendo aquela minha mesma vida, eu poderia deixar tudo para trás.



Deixar o quê?




Deixando o sol e o sal entrarem pela janela, aquela balneabilidade toda entre paredes, reafirmei a mim mesmo que eu não poderia ficar por lá. Acendi um cigarro tentando recuperar o carbono da cidade. Abri gavetas, peguei papéis, decidi ser rápido e objetivo. Minha camisa era escura e pesada demais para aquele clima, eu suava. A vizinha pareceu reparar na minha palidez – me olhava com pena – mas não ousaria sugerir que eu aproveitasse a praia; o luto me absolvia de ser feliz.




Eu voltava pelo calçadão no dia seguinte. Sábado de praia, ainda de manhã. Tive de ir cedo ao escritório do advogado, ou teria de esperar até segunda. Eu pensava de fato quanto tempo teria de ficar. Quanto tempo demoraria para vender o apartamento. Se eu teria de ficar por lá. Se seria capaz de cuidar de todos os detalhes, de todos os cuidados, não podia apenas deixar minha mãe partir? A morte é uma lenta e dolorosa burocracia – mesmo quando se morre de um câncer de pele fulminante. Talvez não tenha sido exatamente assim, a vizinha deixou implícito. Já fazia alguns meses que minha mãe descobrira; estava se tratando em casa, silenciosamente. Quem sabe com a ajuda das amigas – a vizinha guardava isso como um rancor contra mim? Eu voltava pelo calçadão, pensando, vendo todas aquelas pessoas queimando sob o sol...




Uma felicidade intensa refletia da areia em mim. Lamentei não ter passado protetor. Abri a camisa o máximo que pude, e ainda não pude conter a vergonha da magreza generalizada, a gordura nos lugares errados, os pelos escuros e indecisos em minha pele pálida. Pensei se todos aqueles olhares ao redor eram de pena, ou nojo, mas as pessoas não conseguiam deixar de sorrir.

Um ruflar de asas me fez levantar o olhar. Um urubu pousava num poste próximo. Tão vestidinho de preto, veja só, de luto, como eu. Todos aqueles mamíferos despidos na praia, e o urubu circunspecto e soturno, como eu.




Mais à frente, mais um.




Um segundo urubu pousou num poste próximo, quando eu passava. Estão me seguindo? Me perguntei. O segundo urubu também olhava para mim. De repente era como uma figura bi-dimensional, que parece sempre estar nos olhando, onde quer que estejamos. Essa é a mágica dos urubus, pensei eu, essa é a mágica da natureza, seu truque de sobrevivência. Parecem que estão sempre alerta, sempre nos olhando, onde quer que estejam. Um terceiro urubu pousou no próximo poste, assim que passei.




Na praia, as pessoas sorriam e se esqueciam, nadavam à superfície, dançavam o Rebolation. Não notavam os urubus nem o que se passava comigo. Logo, todos os postes da orla, do calçadão em frente à praia, estavam tomados pelos pássaros.




Cheguei ao apartamento e tranquei a porta. Eu pingava. Tirei minha camisa encharcada de suor. Meu corpo não fora feito para aquilo. De repente, meu corpo se adaptava àquilo? As glândulas se ativando, a pele se preparando para o sol. Eu me transformando num mamífero despido, como aqueles que tostavam e se esqueciam, meu corpo se moldando para dançar o Rebolation. Tomei uma ducha fria para interromper a metamorfose.




Olhei pela janela, os urubus ainda estavam lá. Com aquele olhar bi-dimensional, olhando para a mim e para a praia. E as pessoas ainda tostando, bebendo, dançando sob o sol e o mar. Já nem se lembravam de mim, pálido animal de luto. Era começo de um sábado de sol, e as pessoas ainda teriam muito mais a queimar. Mas urubus ficavam a espreita. Eram pacientes. Os urubus poderiam esperar.

(texto extraído do blog Jardim Bizarro de Nazarian)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Marionete

Num repente, desenharia sua cabeça. Colocaria nela chuteira, nuvens, homens, mulheres e um cuspe unindo tudo em um retrato difuso. Daqueles que não se tem um jeito certo de se olhar.
No peito, latejaria um círculo cortado ao meio. De um lado, o vermelho do crayon mais antigo, do outro um preto feito por nanquim. Por qualquer razão, o círculo dispararia e ficaria difícil delimitar as duas cores do começo.Artifício pictórico.
No meu desenho, traçaria duas genitais. Assim , me supriria mediante a qualquer rompante ou necessidade diária. Dos meus traços, te faria o ser mais incompleto. Não sendo homem, muito menos mulher. Você existira somente frente as minhas consternações e da maneira que eu o quisesse naquele dia.
De suas pernas, faria canelas dançantes. Rabiscaria passos jamais inventados e apenas seus. Só para poder me levar junto num dia de inverno e bom vinho.
Das orelhas, a percepção pelo pequeno som e, todo dia, comporia uma tablatura nova de tantos sujeitos. De tal forma, eu não me enjoaria. No meu desenho,você faria do vento , uma música e de um beijo, uma estrofe.
Nas mãos, traços de piano misturados com os quadros braçais de Amaral. Pela dualidade, misturaria o jeito e a força e, ao chegar em casa, me faria cafunés.
Na voz, cantaria em acordes femininos e em gracejos tão singelos como um carinho a uma parte do corpo há muito esquecida.
Seus olhos sempre estariam fechados, pois te encantaria pelo som das palavras.
Te faria de grafite e deixaria guardado em um caderno no fundo do armário. Você seria só meu e todos os testes findariam,não haveria jogos, pois quando quisesse poderia modificá-lo.
Por não ser, você me completaria. Na irrealidade de uma folha sulfite, na rapidez de batidas inconstantes, em ritmos únicos, em sexos relativos, em cantigas de interior...
Todos os dias. Até o cansaço chegar, até a razão esfaçelar. Não sendo, porém meu. Até...

Lucas G.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Despedida

- Oi! Vim aqui me despedir! Não sei se estava me esperando. Acho que não, né? Fazia tanto tempo... Você emagraceu? Engordou? Vi que está namorando ? Faz quanto tempo? Sua mãe como está?
É, eu continuo na mesma. Ainda me acabo nas noites, volto andando do Metrô Vila Madalena. Ainda tomo café no Vanilla e mando cartas. Por vezes, passo na sua rua... Aliás , basta apenas algumas para dar aquele aperto e relembrar tudo o que foi . Você se lembra? Lembra mesmo?
Pois é... Não sei a razão de tudo isso. Talvez um romântico de nascença, um poeta melindroso ou um sonhador transviado. Já achei que fosse hábito, já até pensei em vidas passadas, vê se pode?
Hoje, por mais etéreo, faço de consciência limpa. A culpa por inanição não faz mais sentido. Passo e ouço o barulho das folhas secas se quebrando, o mesmo Poodle late pra mim e o porteiro do prédio da frente me olha com cara feia. Mal sabe ele minhas reais intenções: O prazer de não ter intenção.
A nostalgia arranjando espaço em meus dead lines, as saudades poetando minhas apurações.
Pois então, mas hoje não venho mais relembrar. Vim me despedir. Estou indo pra longe e acho que não volto . O meu ponto final, entende? Acho que finalmente consegui. Chegou minha vez de ir lá pra fora. Você sempre soube que nunca gostei de tudo isso. O tempo foi indo e eu não me dei conta. Eu parei nessa hecatombe toda e nunca me perguntaram o que eu, de fato, queria. Aliás, acho que eu nunca me fiz essa pergunta. Olha, mas eu levo comigo as cartas, se lembra delas? Lembra mesmo?
Dessa composição tão imperfeita, faço de você personagem principal. Enquanto o tudo, soubemos entender os rabiscos, acrescentamos cores e fez muito sentido. Para nós. Uma razão obsoleta, um soneto de amantes. Que, hoje, levo comigo apenas no passar rápido de músicas e no vício maldito por tabaco. Pois é, não deixei de fumar, vê se pode?
Agora, também sei apreciar vinhos. E aprendi a assistir os filmes do HSBC. Vou a teatros e tenho lido ótimos livros. Te envio sugestões por correspondência. Ainda posso?
Não quero me alongar. Meu voo sai daqui duas horas e já estou atrasado para o aeroporto. Vim apenas me despedir. Dizer adeus, explicar que foi bom. E que ...
Então,seja muito feliz. Tenho a impressão de que ainda nos vemos. Manda um beijo pra sua mãe. Acho que enviarei cartas, já que sua rua estará muito distante. Acredito que dormirei no metrô, quando a andada não fizer sentido. E das minhas noitadas, acho que acabarei sozinho num quarto de hotel. Ou, talvez acompanhado. Quem sabe me esvaindo em gozo e cansado por aquele mais um. Mas chegou minha vez.
Quem sabe eu me encontro e esse passado deixe minha cabeça.Tem doído demais...
Ai chega! Deixo um beijo pra você e agradeço por tudo. Até o um dia.

Lucas G.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Era o crescer impedido,
aos poucos, a posse do não tido.
Em segundos, tinha em não sentidos.
Terminei, não tendo o mais querido.
Incrédulo, galguei o invisível,
conforto de um ombro tão amigo,
de um amor nunca antes visto.

Lucas G.

Sem título

Ainda reli pra ver se realmente estava pronto.
Não somente palavras inexatas de uma estória com tantas vertentes e tão bem contada por muitos. Eximiu-se qualquer tipo de culpa, ou sentimento de ombros arqueados. Reescrevi aquele capítulo em cores de aquarela, que por mais suave que sejam , adentraram fundo. Fizeram rodopiar num ritmo tão desconhecido, que não se delimita onde está e nem o cheiro que tem.
Gostinho de praia, do vento sertanejo, vivo como a cor de gema fresca do ovo preparado pela avó. Sinestesias e lembranças , que remetem ao sempre idealizado.
Fascínio por esse tardio possível. Que renegado, esforçou-se e me fez acreditar que finalmente havia chegado minha vez.Que eu ouvia aquelas palavras e que todas elas eram para mim. De que as promessas não eram vãs. Que a palavra gostar nunca teve tanto significado e um beijo tamanha reciprocidade. Que aquela noite seria sempre lembrada. E que tudo isso me remontava e reluzia em lampejos de sorrisos em frente ao espelho.
Desacreditei ao apagar os sonhos de que , algum dia, alguém viria. Aquelas lágrimas marcaram minha face e achei que não sairia da cama. Uma vida que se fez sem sentido e por pífia razão, por brincadeira de menino.
Não descrevo ainda o que é acordar e ver que existe e está ao seu lado.
E eu gosto tanto.Palavras me faltam...


Meu livro ganhou outro final.

Lucas G.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Sem título

E perceber que meus verbos já não dizem o que quero,
mas o que guardo. O que tanto guardei.
E que, hoje, não há sentido.
O regalo de alma, o rubro poço e a praia da Divisa,
memórias lindas de um tempo criado.
O real é infrutífero,
raso e vago.
Não foi,
e , por fim, tenho o certo:
não cuspo a vontade,
apenas gorfo aquilo, uma vez, não tido.

Lucas G.

sábado, 26 de junho de 2010

Redenção

Engoles ácidos,
suas palavras usadas para outrem.
Azeda inanição,
sua obra trasmutada em cópia perfeita. Sua.
Sulfúrica,
a culpa.
Corrói laços só teus,
recria, disserta e
se insere em uma narrativa
já assinada.
Encontra espaço em um texto tão próprio
e dissolve significados de tão grande importância.

Lucas G.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Paulatino

Passado criado
alojando alma morta.
De cuca doída,
se pensava,
achava,
e eram tecidas as melhores obras.

Linearidade,
esmiuçada pela extravagância
e gestos forçados a convencer.
De não começos,
criou-se enfins.
Pois então, se virou.

Para muitos, apenas mais uma vez,
para ele, o cansaço de um dia de trabalho intenso.
Era seguro a não mudança,
o pensar demasiado em mentiras refazia,
e cansado do contrário, recriava o intangível.

Mas dessa vez havia de ser diferente,
sem cheiro,
sem cor,
sem olhos.
Virou espaço,
eco rugindo no fim da sala,
atrás da cabeça,
em sonhos coadjuvantes.

E ele nunca tinha agradecido tanto pela mudança feita,
se não pronta,
a delícia em pronunciar: VAGAROSA - tente!
Era real e ele estava conseguindo.

Pela primeira vez sentia o cansaço do que já tinha sido e entendia o imutável


Lucas G.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Terapia

Eu caí.
Ainda não sei aonde sangra, mas a perna lateja e repuxa. Não nessa ordem.
Eu caí acreditando que vodcas e energéticos poderiam falar por mim. Fazer por mim. Que aquele álcool ao transpassar venosas, não me faria responsável por nada ou ,pelo menos, não sentiria o peso nos ombros, ou melhor, as dores nas pernas. Não sabia envelhecer. Não queria ter nome completo, trabalhar todos os dias ou ser pai de família. Não estava certo de meus gostos e nem das escolhas que , um dia, tinha feito. Pensar nas que eu faria então, era tremedeira na certa. E aquelas doses, por muito, me salvaram de qualquer limite, enclave ou solapada da vida.
Eu me fazia distante de tudo e só me sentia vivo naquele bar, na sexta feira e quando não precisaria acordar cedo no dia seguinte.
E numa dessas noites, o tombo foi feio e eu sangrei. Nunca tinha visto uma cor minha. Era vermelho e escorria de meu corpo. Foi a primeira vez que me senti incapaz. A perna tremia , o corpo doía e meu reflexo no espelho era amargo. Eu estava doente. Uma doença de não sintomas, sem motivos e que veio destruindo a fragilidade de minhas noites de baladas, dos porres coletivos e de sexos casuais.
Dia após dia, ela arranhava as antigas feridas, denegria meus dogmas e expunha a dor mais aguda. Uma dor que sempre escondi: a dúvida.
Galguei minha vida na efemeridade, na ingenuidade de uma criança travestida pelas poses de menino maduro.
Minhas pernas doem, pois não quero ser em minha própria vida, prefiro o estado espúrio das noites de gandaia. De não pensar em dias seguintes, em caçar as migalhas de instantes. De segundos de prazer copiados de sites de pornografia virtual.

Ainda tenho medo de crescer e meu grafite já não quebra em pontos finais.


Lucas G.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Em não memórias

Desse rosário, fui em sem destinos,
da forma mais densa, do canto mais fino, de líquido inato.
Cuspi palavras e existia. Tinha cor e eu queria.

E veio o um dia.
Conheci a noite,
fiquei sozinho
e sua voz secou.

Nada me espanta
se, por fim,acabo esquecido.
Talvez, sempre sido,
sendo,
em curtas palavras,
em frases vazias,
em não sons,
desfaço-me.

De uma promessa não cumprida,
de um soslaio,
de um vulto,
de sombra roubando cor e
querendo virar quadro.
Não fui.
Não sou.

Distante foi opção,
não houve contra fluxos,
rebeldias ou discordâncias.
Argumentos da compreensão,
acenando a cabeça -
retórica sofista.
Gumes que vermelho acenaram,
patuás escondidos por trato feito -
fatídico conceito esse de verdade.

Não aplique surpresa a um novo tão conhecido ,
as mudanças não se fazem frias,
não se sente aquilo
que nunca houve.
E se acabo vazio,
se o desenho se faz de recortes,
da areia,
se , hoje, se coloca como criador
e se sofre ou escreve textos,
seria eu apenas fagulha?
Permaneço vulto?
Criei mesmo essa estória, como havia dito?

Perguntas no sem tempo,
inúmeras, mas caladas.
sem cor, sem nexo, deixadas em antigos poemas amarelos.
Estado amorfo, caderno vazio.
Chorei esse diferente.

Acabo ainda como pergunta:
E se o arrepio deixou a espinha,
foi o vento que deixou de bater
ou foi a janela que sempre esteve fechada?

Lucas G.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Pequeno flat

Então, você entrou. Deixou as chaves naquele mesmo lugar. Estralou as costas, dizia estar cansado das horas de trabalho. Foi até a geladeira, pegou uma cerveja da marca que mais gostava e a abriu com os dentes. Deu um primeiro gole e disse estar estranha. Seriam todas ou você não gostava da bebida? Nunca perguntei.
Foi até minha cama e procurou por mim. Gritei do banheiro que terminava o banho.
Tirou suas calças, abriu a gaveta esquerda do criado mudo e passou o resto de perfume que ,um dia, disse que gostava. Se olhou no espelho, ajeitou os cabelos e viu que o bigode já dava os primeiros sinais de gilete. Não ligou.
Entrou no banheiro.Eu não ouvi.Apagou as luzes e de dentro do box eu gritava verborragias ao velho síndico e aos problemas elétricos do pequeno flat.

Silêncio...
Uma mão e estava erguido.
Quente, o cheiro do cabelo no momento em que a água começava a cair.
Era doce e vagarosa. Preenchia cada ranhura.
Em passos , nas bocas.
Duas bocas, o não movimento de corpos amantes.
Nossos.
Seu instante e minha alma esvaindo-se pelo ralo. Água de dentro e resto de cama.
Dois brincando de um só.
Num beijo, no falo, da noite.
Vieram também promessas e você abriu minha mochila e pegou o shorts que gostava de dormir. Eu aceitei.
E sonhei.

Na manhã seguinte, deixou em cima da mesa da sala, um bilhete. Já não voltaria. Dizia que a gira do mundo segue e que outros cantos davam viço a uma alma envelhecida. Se utilizou de sóis, luas e nossos poemas como possíveis explicações. Fechou a porta e arrastou a chave para debaixo da porta. Saiu. Eu não ouvi.

Uma última noite ou objetos estrategicamente alocados?
Eu nunca mais te vi.

Lucas G.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Luiza e Paula

Quero,enfim, dizer que foi bom.
E valeu a pena.
Não sei ser tantos,
sou pequeno e ralo.
E, ao fim, não agradei.

Sou curto também e
quando tenho medo, mascaro -
em faces vermelhas e risadas fora de hora.

Quero assegurar que não fui indiferente por não saber ser e
que fiz tudo por ingenuidade.
Sádico prazer em ser diferente,
um descrédito ácido quando não se tem e
o choro calado das não posses.

Saiba que foi intenso,
até livro pensei em escrever.
Saiba que existiu e descrevo palavras que me faltam.
Enfim, foi meu e isso ninguém tira.

No entanto,estranho mundo gira.
Trouxe canto,
novas cores e
sabor.
Ainda desconhecidos por obra do destino,
mas ganhei esse presente em maré de azar
e não largo até que o contrário mostre a cara.

Lucas G.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Nós Dois / Cartola

"Está chegando o momento
De irmos pro altar
Nós dois

Mas antes da cerimônia
Devemos pensar em depois
Terminam nossas aventuras
Chega de tanta procura
Nenhum de nós deve ter
Mais alguma ilusão
Devemos trocar idéias
E mudarmos de idéias
Nós dois

E se assim procedermos
Seremos felizes depois
Nada mais nos interessa
Sejamos indiferentes
Só nós dois, apenas dois,
Eternamente"

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Texto Feito em 31.12.2009

Apaga a luz. E deixa o sol queimar. Deixa as mentiras do lado de fora e te veste pra mim.
Te veste do que tu és, e nunca foi. Desfaz tudo aquilo que te disseram, que te botaram. Limpa aquela mancha e te suja (de mim).
Apaga a luz e vê. O tempo que perdemos. A distância que inventamos. Inventa palavra pra fingir que esquecemos.
E esquece. Do corpo que tens e que pensas que não é teu. Veste teu cabelo, veste tuas costas. Veste-te de ti e seja outro.
Seja borboleta, hoje. Brinca de nuvem. Desmancha-te no concreto do céu. Firma os pés no chão e voa.
Confunda tua cabeça com teus poros. (Lê sem usar os dedos. Amplie seu detalhes.)
Reinventa o agora. Distorce o tempo. Contorce a nuca. Comprime os lábios e grita.
Grita pra todos ouvirem. Chama os outros. Faz escarcéu e seja apenas meu.
Ata minhas mãos e me afoga. Entra em mim como canoa ao mar, que se fica à deriva.
Deixa-te e me controla. Dirige-me ao imenso. Traga-me a dor do ser. E a pureza do estar.
Conforta-te em meus peitos e finge que nunca esteve aqui. Transcende. Abusa de mim pra sentir que é verdade.
Minta. Diz que acabou. E goza, entregando aos lábios a culpa.
Cresce, com a força de criança que procura acalanto. Com medo do escuro, chora.
Agarra-te em minhas mãos, em minhas costas, em minhas pernas.
Sinta o prazer que ainda tenho e me completa. Como quem usa o amor de máquina.
E lembra que choras. Enxuga minhas lágrimas.
Dita poema com os pés. Inventa canção de sopro. Beija meus olhos e vira.
Aceita-te como berço, pro meu parto de mim.
Sejamos pequeno, e eternos.
(E que continuemos, na escuridão de nós.)

(Livia Albano)

A beleza era tamanha que não tive como não propagar esse rio de palavras tão lindas.

sábado, 22 de maio de 2010

Parangolés

E bem de tardinha,
alguns me disseram
que ali estaria.

Disseram que
estaria de verde,
eu queria você de azul.

Em juízo de segredos,
contaram que debaixo do braço ,
trazia escritos.
E que todos tinham meu nome.

Afirmaram que o papel tinha cheiro
de areia e de mar.
Relembrava antigos segundos
daquela praia que jamais dividiu.
Aglutinando.
Escritos azuis, verdes e rubros.
Escritos extensos,
Palavras minhas.


A tarde em noite fria,
o vento soprava a criação
de um alguém que nunca chegou perto de ter escritos.
Do menino que inventou estória de começo , meio e fim.

Ainda não sabia muito como dizer,
nem se alguma dia o faria.
Só sei que vieram muitas manhãs.
Veio o lusco fusco e o esfriar da noite.
Até que ficou entendido que aquele conto não
passaria de cores, suspiros e lembranças não escritas.

Passa o vento e remove chão...

Lucas G.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

E não tendo os seus versos,
tive que fazer minha própria canção.

Lucas G.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Trecho da música "De favor" de Luis Tatit

"Embora de favor
morar num coração
é íntimo demais
e o ritmo que faz
de cada batimento
Promessa do momento
É ótimo sentir
poético ouvir
O som que vem do
fundo
Do músculo que é
um dos
últimos locais
de sonhos dos casais
embora no porão
morar num coração
REFAZ"

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Vermelho (ou Dizeres)

E você quis as palavras,
você silenciava,
e sonhava.
Sempre em noites de verão.

E então te disseram que seria,
e você acreditava.
Gostoso sabor de verdade,
a espera contida,
como presente de Noel -
minhas unhas estavam ao chão.

Capcioso regalo,
mistura sádica
que não existindo, se justificou.
Me fiz presente,
coloquei pedidos em caixas secretas e
me protegi em cobertores.

Meus contos noturnos,
aquela última peça,
quebrado completo
da grandeza de um não ter
gostoso de sentir.

A despedida implodiu,
conheci o silêncio e tive medo.
Disseram que chorei.

Dos sorrisos, a imaculada certeza de um prazer juvenil.
Do retrato, nostalgia e provocações.
A pureza rasgando o peito,
e dali,
fui em frente
e olhar para trás, relembra vermelho.
Vermelho amor.
Vermelho sangue.

Disseram que chorei.

Lucas Galati

domingo, 9 de maio de 2010

Mingão

E você veio,
arrumou a cadeira,
puxou a toalha da mesa,
quebrou um copo,
e então se foi.

Outra mão,
toca a minha,
conheço a canção.
Amor,
penetra,
devaneia e some,
sem explicação.

Ressurgo,
de cara limpa e
vontade contida,
subtraindo o que compadece,
cultuando aquele último reflexo
na caixa pequena debaixo da cama.

Um outro aquém,
da melodia que não se esquece.
Lágrima divina,
teceu céu e
me deu os sonhos.

No aqui dentro,
floresce.
Feridas que ainda sangram,
sempre então,
flores que estancam,
perfume de casaco antigo,
eterno "Mingão".

A bola em campo,
saio da frente.
Seu choro calado,
o olho de azul perfeito
de um cansado coração.

Memórias nos bolsos,
conversas a sóis,
trazendo o tanto do nunca tido.
Levo comigo
o som da sua voz,
meu grande amigo,
meu velho "Mingão".

Dessa ciranda,
voo preciso,
pego carona na última toada.
Aquele seu conselho sem hora marcada,
segue aqui,
no sempre,
minha vida,
conselheiro "Mingão".

Lucas Galati

(escrito para alguém que me contou segredo de mar, que fez eu olhar pro céu pela primeira vez e apertava a sua mão na sintonia de um abraço)

sábado, 8 de maio de 2010

Blah

Por fim , ainda digo em tom ameno:
Minha escrita não se faz de pontos nas horas certas e travessões indicando diálogos,
e se caso ,algum dia, me contestem,
relerei os escritos e os deixarei mais confusos ainda.
Escrevo em emoção, e por muito , descobri e aceitei que a imprecisão compõe a forma de minhas palavras.
São os poucos que encontram nesse emaranhado, uma vontade de releitura.



Pois bem ,eu fico com os poucos.

Lucas G.

domingo, 25 de abril de 2010

Recado

Será que sabe tudo o que foi?
Escrevo apenas para acalmar esses devaneios.

Feliz tenho certeza que sou apenas por ter conhecido.
Conhecido alguém que soube valorizar,
que viu em uma garrafinha razão para compor música.
Que ligou lá de longe e disse eu te amo - sem medo.

Alguém que despertou uma intensidade há tanto escondida.
Alguém que misturou cores a um quadro imperfeito.

E se, hoje, quer a distância, eu aceito.
E se não ler o que aqui escrevo... Eu respeito.
E, talvez, tenha você apenas em canção
mas cultivo as lembranças e me delicio com os momentos.

Uma pedra que guardo no bolso, um rouxinol que escuto toda manhã.
Saiba disso.

Lucas G.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Promessa

Estamos combinados.
Amanhã naquele mesmo horário e teremos nossas vendas.
Nas suas mãos , minha bagagem e nas minhas, sangue.
Não esqueça do isqueiro, certo?
Minha última esperança. Quem sabe ele não acenda minha alma de volta.
Leve a lamparina, uma lágrima e a lembrança mais recente de beijo que tiver.
Estarei com a corda, com o vento e uma fresta de sol que roubei num dia de janeiro.

Só fale quando eu te pedir,
ande segundo o velho mapa,
ouça as cantigas da Divisa e
Não olhe pra trás.

Falarão de rapto,
de loucura,
virão atrás de nós,
mas a canoa corta a água e
já passava a hora de derramarmos nosso sangue,
queimar os últimos capítulos do diário,
não pensar...estar feito.Pronto!

Da bagagem , a roupa do todo dia.
Do sangue, o dentro mais íntimo.
A lamparina, abrindo o caminho,
uma lágrima recordando o antigo,
do beijo , o romance.

Só então viria a corda,
se um dos corpos enrijecer, que alguém o puxe.
O vento, sensação de mudança e , por fim, uma fresta de sol, caso você apague de vez e só sobre mar e escuro.

Deixo as vendas para o não retorno,
as escolhas foram feitas,
destinos selados de um caminho do não dever.
E desconhecendo faremos uma nova estória,
juntos,
a noite nos cobriremos com os nossos contos,
uma fogueira aquecerá nossos pés,
deitaremos na grana e , no dia seguinte, o coçar não será importante.

Em não dias,
deixaremos de ser.
Inexistirá semanas,
e estaremos sorrindo.
Quando os anos desaparecerem do calendário,
nada nos terá feito mais completos.

Lucas Galati

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Sem título

Revirei procurando ,
procurei os não entendidos.
Antigos,
fatídicos, nossos.

Aquele estranhar ,
da época em que os homens ainda se guiavam por estrelas...

Não sentir,
não querer,
dói,
machuca,
silêncio,
deixe-me... só hoje!

A planta cuspiu seu verde,
o amarelo ofuscava o olho
e o vermelho... Ai! O vermelho...
minhas saudades.

Era o crescer impedido,
aos poucos, a posse do não tido.
Em segundos, tinha em não sentidos.
Terminei, não tendo o mais querido.

Ontem , decidi minha nova tatuagem

Lucas Galati

domingo, 4 de abril de 2010

E ter tanta saudade daquela velha calça jeans guardada no fundo do armário.
Aquela mesma... Que um dia se põe e parece que o sol ganha outra cor.

Lucas Galati

sábado, 3 de abril de 2010

Quem sabe?

Poderia ser mais gordo,
mais magro?
E se meus pés fossem menores?
Quem sabe uma plástica no nariz?
De leve...

Posso parar de roer unhas,
esbranquiçar meus dentes,
parar de beber não deixa de ser uma opção.

E se eu nunca tivesse dito,
quem sabe um outro formato as minhas sobrancelhas?
menos orelhas,
mais tórax,
barriga trincada,
olhos de descanso.

Imagine ainda, que poderia desaprender a chorar.
Que a ansiedade pudesse não ser uma constante,
que não tivesse sonhos de amor,
que riscos desaparecessem.

Ao fim , tudo isso faria e
, com o nariz em pé, diria que sempre foram escolhas.
Estranho mentir...
Lidar com o não ser , entende?
Inexistir na essência,
divagar em promessas e princípios -
uma mistura sádica de tentar e não ser.

Lucas Galati

domingo, 28 de março de 2010

Cabeça inimiga

E , então, retorno. Não ainda com aquela certeza encabeçada de que tudo daqui pra frente se ordenará diferente. De que foi uma fase, uma maré de azar que se seguiu depois daquele ano passado tão incrível.
De seguro, carrego que muita coisa foi tirada dessa hecatombe que completa aniversário de dois meses dia seis de abril.
Ensinamentos que vieram em ondas de Gardenal e ansiolítico. Período em que nada abstraia, o pensamento desembocava em um lugar só e dava vontade de mexer a perna embaixo da mesa.
A resposta era sempre aquela, teria de ser aquela: Vocês não entendem!
Os achismos e uma gama de opiniões que gotejavam desespero e davam vontade de desmaiar. Um corpo cansado de uma mente inimiga.
E, disso tudo,relativizei preceitos, ou melhor, dogmas que sempre carreguei em minha vida. As memoráveis lembranças de Clarice na época do colégio, aquele gostinho tão saboroso de começar uma nova fase, de provar de um desconhecido e começar a se encontrar nele. Lembrava aquela brincadeira da caixa, um objeto escondido e com perguntas alguém no final arremata dizendo: É UMA CANETA??
À mim, chegou o momento, em que na caixa nem eu sabia o que se escondia e que as perguntas passaram a cortar, dar sudorese e crise de desespero.
Nada era tão bonito. Não existia o amor perfeito. E minhas lágrimas não findariam depois daquela primeira vez.
Jamais poderia dizer que Clarice errou ao querer ser aquela pergunta, mas isso não seria para mim. A certeza pautava minha vida, a apuração até chegar a verdade máxima, querer o incontestável. Dormir abraçado com ele e nunca titubear em afastá-lo do dia dia.
Mas , as vezes, tudo é reordenado. A vida vira de ponta cabeça e , como mostrou Buñuel, não se pode sair da sala até que tudo volte a posição inicial.
Hoje, já consigo dormir. Aqueles sonhos voltaram. Consigo sorrir e os cortes das tantas perguntas estão cicatrizando. Faço desta passagem por aqui , uma forma de galgar respostas as minhas perguntas mais escondidas. Talvez, não podendo ser uma pergunta,porém estar apto a encontrar várias respostas. Coloridas, recíprocas e minhas.

Lucas Galati

domingo, 14 de março de 2010

Fechado para reparos

Ainda é muito estranho. E o tudo muito mais complicado. Aliás, não apenas o tudo , mas doses cavalares de tanto...Excessos que invertem, ao acaso. Eu tremo agora e já não sei do que tenho medo.E não quero. Enrijeço, desconsidero, mas tem sido tão forte. E cansa... e dói.
A cabeça doente, o coração na boca e a dúvida aniquilando os poucos momentos de tranquilidade. Até uma prova , um veredito,até não sentir água saindo do corpo, ou quem sabe, parar de tremer.
Ter proteção, um aconchego, um entender que deixe a inconstância e se faça presente. Deixar de lado o cultivo de fotografias e lembranças do preto e branco. Ocupar o tempo, fazer uma viagem, namorar.
Faço-me decrépito, um resto de sujeira apodrecendo no canto esquerdo do espelho. Que de tão perto , que por tanto tempo, perdeu o reflexo, e se faz de espelho. Amorfo , numa postura fatídica, num achar despercebido.Quase arrogante. Mas pessoas passam e olham.
Alguns nem ligam, outros nem sabem que existe. Mas há sempre aqueles que farão o possível para limpar e fazer o espelho voltar a ter o mesmo brilho.
Espremer o parasita até sair o sangue, até abrir as patas e dilacerá-lo com uma faca.
Os seres humanos e seus sadismos.
Saudade daquilo que gosto, do cheiro de chuva, do esfregar de mãos dentro de três cobertores num dia de muito frio, uma lareira, o prazer de um ônibus vazio.
Saudade do meu reflexo, do meu espelho. A minha sujeira enegreceu tudo o que lutei para ver refletido. Me fez sombra, vulto. E tento limpar, mas tem sido tão difícil.

E aquela velha estória da madeira e dos pregos não sai de minha cabeça. Tudo estaria cumprido?

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Hoje, molhei os pequenos seres na orla da praia da divisa.
De água minha.
Confabulei, revirando o conteúdo do fundo do copo,
da carne, o corte fundo em ver que tudo leva ao não retorno...
Sangue e escolhas feitas.
O nunca ser de impulsos e negativas.

Lucas Galati

sábado, 27 de fevereiro de 2010

A não semana

Por enquanto , não muito posso dizer.
Mas essa semana senti a vida saindo de tudo .
O sol já não era tão amarelo, as folhas já não faziam aquele som e o vento não foi percebido.
Suei e senti Medo. Muito Medo. Medo de ter minha vida saindo. Medo de ser obrigado a viver ultimas vezes.
Essa semana, o imutável fez eu sangrar.

E um pássaro de cor verde deixou um bilhete.
E eu sonhei,
Azul,
Amarelo
e Também verde.
Fortes, todas as cores que tinha perdido durante minha semana.

E guardei o bilhete,
e na dúvida,
pedi para você dormir ao meu lado.
E você disse que sim.
Só então,
voltei a Sentir o vento,
o quente,
e tudo aquilo extraido,
foi retornando em canção.
Regalos de notas perdidas,
sentimento mais puro de jovialidade humana - aquece e descansa.

Lucas Galati

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Tudo aquilo

- Porque já vai?
- Porque não mais escolho.
- Mas ainda nem dançamos...
- Minhas pernas me falham. Carrego peso demais pelas costas.
- Pois então, ainda decide: Quer ir embora, certo?
- Decide-se apenas o que se quer. Já não posso me dar a esse luxo.
- Qual luxo?
- O de querer algo.
- Salgada frieza. E isso porque agora?
- Quis durante toda vida.
- E errou por isso?
- A vida não é de certos e errados.
- Como sabes?
- Por que se fosse, não poderia ter mais sonhos.
- Não entendi.
- Se tudo tivesse decidido, teria a completude de minhas vontades saciadas. O que são os sonhos, senão os mais internos desejos?
- Logo, não teve tudo decidido.
- Decisões não podem ser simplistas. Carregam mimetismos, uma mutabilidade que foge do controle humano. Muitas vezes, opta-se pelo silêncio. Separa-se, em certos casos. Há aqueles que golpeiam verbos assassinos. Porém , tudo vindo de você.
- Calma! Mas isso não seriam escolhas?
- Escolhas são para aqueles que ainda enxergam outras opções, que ainda tem tempo para uma última dança, uma última taça, um último beijo. Decide-se quando o tempo corroeu a carne, quando o cansaço não veio em forma de suor, quando o todo dia deixou de ser saudável.
- Acha certo?
- Como já disse, não há maniqueísmos em decisões. Nunca acharia certo algumas decisões minhas e eu sempre criticaria outras suas.
- E o futuro? Não pensa?
- Não mais. Carrego o final dentro de mim. Tenho prazo de validade.Não posso pensar além de alguns meses.
- Dói tanto pensar nisso. Mas fez o tudo que queria?
- Não. Eu quis demais, decidi o tanto e desconheço a vida.
- Pois corra! Ainda dá tempo!
- Não tenho mais meus vinte anos. Estão me dilacerando por dentro e tenho de aceitar. Entender a chegada da morte.
- Por que quis tanto?
- Porque vi o amor no mundo. Era tão colorido. Um cheiro de perfume de grife. Fui tão feliz.
- Viveu esse amor?
- Nunca. Apenas o quis. E decidi estar distante.
- Por medo?
- Por nunca ter sido. Não sei explicar.
- E como te fez feliz?
- Por ser amor. Era um sorriso, um toque, a esperança. Eram até as brigas, os filmes, nossos gostos.
- Não imagino.
- Já não fazem amores como antigamente. Agora, eles vêm em papel bolha e tem senha para entrar.
- Você não entenderia , meu velho amigo.
- Não mesmo. Não depois de tudo aquilo.

Ele fechou os olhos e teve preguiça de os abrir de novo.

Lucas Galati

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Depois daquele show

Nascer predestinado. Não sei de que forma... Gostar de ver sangue, ser afinado, desenhar como ninguém, mas não aqueles mangás da cabeça grande e olhos vesgos. Desenho mesmo, daqueles que se pode até brincar com as cores , de novas proporções, em manchas ou retilíneo.
Nascer com a certeza de uma profissão, um bom discurso, círculos perfeitos. Vontade mesmo? O ser reconhecido em todo dia, saber que se tem talento, ver as pessoas te invejando, e ter algo tão seu.
Um dia de show, platéia lotada...Querem te ver. Querem que mostre aquilo que nasceu contigo, querem a progressão, pois a voz acompanha o canto; o pincel, a sensação e o sangue, recupera a vida.
Sair com a certeza de que valeu a pena, pois gritaram seu nome, de uma lágrima ter escorrido com aquele abraço e , logo depois, ouvir o tímido: Obrigado; de se ter marcado a história com um pedaço de pano e uma idéia.
Uma completude que desabrocha e finca bandeira ao chão. Sim , esse é meu nome. O eterno frio na barriga e a esperança de que tudo aquilo continue.
Se não pra sempre, pelo tempo que for. Segundos ou semanas, de um reconhecimento do não atravessar de rua, das buzinadas, de poder tacar um óculos para uma multidão, que antes, chorava com as palavras que você dizia.
Talento que for... Admitido, por si só. Excelência em degustar vinhos ou virar shots de vodca, um beck bem bolado, persuadir bem as pessoas, não engolir cara feia, admitir as quedas.
Não maiores ou menores.Predestinações somente.
Mas,por apenas um dia, sentir o peito inflar e poder dizer com gosto:Mandei bem!

Lucas Galati

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Sem título

E ficaria...
mas daquela viagem ,
você nunca mais voltou.

Marolas dos barquinhos de papel,
perdido no intrigante,
naquele boiar em final de dia quente.

Sem culpados,
Por tão intenso foi-se feito,
que tantas memórias permaceram,
e apenas isso já me completa.

Lucas Galati

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

We just want the attention por Juliana Xavier

Eu olho pra sua vida e tento achar alguma fresta, nicho ou até quina onde eu possa caber.
Eu olho pra minha vida: examino os espaços que eu deixaria você tomar.
Aí eu cruzo as nossas vidas e a história é exatamente a mesma: escola católica, primeiro beijo, primeiro porre, íris, more than words, gás de isqueiro, kurt cobain, benflogin, primeiro beck frouxo, donnie darko, primeira vez, los hermanos, viagem de formatura, c.r.a.z.y., cursinho, faculdade, estágio e as únicas mudanças palpáveis são duas: agora temos carta, taking risks com o carro da família e admitimos escutar música pop sem grandes problemas. Pra terminar bem o ciclo: madonna, justin timberlake e lady gaga estão sim no seu e no meu ipod.
Eu paro no estágio e nos gostos musicais porque é aonde estamos agora. E mais: eu paro no estágio porque eu não sei se eu aceito essa cartilha pré-fabricada. É como se todos os velhos do mundo virassem pra mim e dissessem que não tem mais surpresa alguma. Tudo bem, pode até ser verdade. Mas eu prefiro acreditar que não.
Você entende?! Eu tenho 1000 kg nas minhas costas. Tenho duas mãos também. E não vai ser o tempo, o acaso, a predestinação ou qualquer explicação patética que tenta ordenar caminhos diferentes que vão conseguir margear o meu pragmatismo – ou eu posso seguir essa cartilha ou eu posso rasgá-la.
Se eu quero passar pela sua vida, que seja pra tirar os seus pés do chão. E se você tem a pretensão de ter algum papel na minha, que seja pra me trazer de volta.

Ponteiros

E no relógio tantas voltas se deram,
que agora,
minha camisa volta suja de sangue.

Nas trincheiras do demasiado,
cantei aquela última estrofe,
lembrei de seu adeus,
senti teu carinho.

E meninos sonham,
acreditam e se arrepiam
entre torres e espadas.
Caem e desfilam entre naipes,
aprendem a sensação de voar,
dançam como nunca depois farão.

Mas o cuco bate incessante.
E, então, se cai e o choro já não é permitido.
Nem mais em sonhos a realidade inexistia,
As torres, em espinhos,
as espadas atravessando peito,
e o vermelho justificando a camisa.

Carinhos saudosos,
retratos vãos de memória infantil.
Cantando ritmo de saudade, os sambas de Nogueira.
Naipes queimados ao chão,
descendo de asa quebrada e fala comprimida,
o declive que se teve de encontrar um fim e
A cor já deixava o estado de mancha.

Lucas Galati

domingo, 31 de janeiro de 2010

Kátia B / Só deixo meu amor na mão de quem pode

Só deixo meu coração
Na mão de quem pode
Fazer da minha alma
Suporte pr’uma vida insinuante

Insinuante
Anti-tudo que não possa ser
Bossa-nova hardcore
Bossa-nova nota dez

Quero dizer
Eu tô pra tudo nesse mundo
Então
Só vou deixar meu coração
A alma do meu corpo
Na mão de quem pode

Na mão de quem pode e absorve
Todo céu
Qualquer inferno

Inspiração
De mutação
Da vagabunda intenção
De se jogar na dança absoluta
Da matança do que é tédio

Conformismo
Aceitação
Do fico aqui
Vou te levando
Nessa dança
Submundo pode tudo do amor (pode tudo do amor)

Porque não quero teu ciúme que é o cúmulo
Ciúme é acúmulo de dúvida, incerteza
De si mesmo
Projetado
Assim jogado
Como lama anti-erótica
Na cara do desejo mais
Intenso de ficar com a pessoa
E eu não tô à toa
Eu sou muito boa

Eu sou muito boa pra vida
Eu sou a vida oferecida como dança
E não quero te dar gelo
Jealous guy

Vê se aprende
Se desprende
Vem pra mim que sou esfinge do amor
Te sussurrando
Decifra-me (decifra-me)

Só deixo minha alma
Só deixo o coração
Só deixo minha alma
Na mão de quem pode

Só deixo minha alma
Só deixo meu coração
Na mão de quem ama solto

Eu vou dizendo
Que só deixo minha alma
Só deixo meu coracão
Na mão de quem pode
Fazer dele erótico suporte
Pra tudo que é ótimo fator vital

Migalhas enjoativas

E não por efeito da raiva. Muito menos, por brincadeiras - daquelas de gente tão pequena.
Não seria por conta de espinhos da última rosa vermelha arrancada. Duvidaria em bajular tão fatídicos anseios,eram pequenos e sempre soube dos respectivos tamanhos.

Nunca soube, porém, cantar na velocidade de interruptores, nunca estive preparado a mudança da luz. Tomava tanto tempo definir claro e escuro...

E eu, por vezes, conseguia. Hoje,ainda mais rápido. Tão rápido que a intermitência me excita mais. Aquele cheiro de queimado , a lâmpada explodindo, e você já no chão
suspirando em vultos de prazer.

Por tanto foi assim e nunca quis reverter o sibilar de algumas letras, sempre calei aqueles que não entendiam uma explosão.E seguia em frente.

Lembrar da última vez,o sempre velho bom amigo brindando a mesa.
Uma hora e três goles mais tarde, viria o mais difícil - reconhecê-la. Ciência dos calados, artimanha dos vividos. Daquelas apreendidas ao se olhar no espelho pela primeira vez.

Naquele começo de dia tão insosso, o reconhecimento me cortou, explodi o espelho e quebrei a lâmpada. Eu convergia numa ira de sem definição, do inquieto saltar a cara e o ar me fazer falta.

Não se aproxime, isso tudo que você acha que toca faz parte de mim. O tudo feito em seu dia dia, tem dedos meus.E sabes, entendes e sempre disse respeitar:
Pois então, desapareça, faça seus abraços, construa seus carinhos...
Longe.

Farto, há muito me encontro, na postura daquele respeitar enjoativo, querendo verbalizar a saliva de meus olhos.

Apenas uma vez, apresente-me.Não queira reverter a ordem, carregas consigo o fardo de criatura, nunca dando origens, sempre reproduzindo e seguindo a postura do criador.

És frágil como cerâmica e , naquela manhã, aquilo tudo foi jogado ao chão.No desejar de uma vida de ímpetos, e , talvez, por isso, não olhei para trás buscando ver os pedaçinhos de lâmpada, espelho ou cerâmica espalhados ao chão. O ar ainda me faltava.

Luas Galati

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Pedras e Metrópole

Quero dos meus escritos o cheiro de bueiro. Cor de pés encardidos. Quero ver fumaça cinza saindo com o digitar de cada letra.
Desejo os mal dizeres das mesas de bar, o sotaque carregado e mãos gesticulando. Quero ver a descrença se misturando ao ônibus lotado, se perdendo junto a tosse catarrenta da senhora ao meu lado.
Quero afirmar os amores fugazes, as luzes de baladas underground, quero reforçar o peso de um "foda-se".
Dos meus escritos, sair pedaços de cimento, junto ao vômito escorrendo pelos pedregulhos, ainda colados, da Augusta. Quero as cores das roupas das prostitutas, os piercings, tatuagens e mais gírias.
Quero não privar isso do surgir de palavras. Quando imagino sempre reconto. E enfatizando, cuspo minha estória. Por fim... Tudo isso me faz tão bem.

Lucas Galati

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Sem título

E se há arrependimento por intensidade? Jamais recairia culpa por tão nobre façanha. Nobreza, sim. Por vezes, quis muito acreditar em contrários, achar que ainda se entregavam, que casais se permitiam e que dizer: “eu te conheço”, poderia ser algo concreto.
E não por mim. As vezes, penso que nem foi preciso chegar em mim. A descrença era paulatina, chegava nos meus ombros os tantos casos de celulares desligados, de mensagens e e-mails não respondidos. Daquele atravessar de rua, que foi-se visto, mas o não cumprimentar é mais fácil. Talvez, mais digno.
Ninguém se rebaixaria. As ligações alcoólicas tiveram seus tons mudados. Não seriam mais declarações de amor, mas um terreno perfeito para pronunciar o término daquele nada já tão enfadonho. Ainda em forma de ligação, seria eu tão arcaico em achar absurdo?
Acredito que se cansa, mas dói demais desconfiar do existente. Adentro os sentimentos, mas incomoda a chamada cancelada. Rezo antes de dormir, mas já não encontro outras formas de não ser descrente.
Não, simplesmente, descartar sentimentos. Contudo, não farei parte de um ringue, não quero ver no amor uma luta por ego. Pronto! Bandeira branca e logo nos primeiros dois minutos. Serei daqueles que concorda, endossarei a mentira alheia, até se confundir com a verdade.
Darei subsídios, não irei vetar, serei daqueles a dizer, mas nunca ligar. Serei ainda dos tão poucos que não terá medo de afirmar inexperiência, de não arranjar desculpas e ser sincero na primeira possibilidade.
E farei tudo isso. Pois, de fato, arrepender-se por intensidade. Jamais.Disso, apenas orgulho.
Mas lágrimas , não mais, saíram dos olhos por inverdades. Por aquela sensação de criação. Do psicótico, ansiando por novas emoções. De lidar com o prazer , lambuzando a cara, pelo não vivido. O outrem chorando por risadas.
Você tem a alma de poeta. És ingênuo. Nunca foi dito. Foi apenas um tratamento de choque.Tanta criatividade.
E te prometo que nada será feito, além de concordar. E seguir, sem nunca desistir de intensidade alguma. Foi bom, eu vivi, agora durmo, pois já é tarde.

Lucas Galati

Amar / Carlos Drummond de Andrade

" Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho,
e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor à procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita".

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Farto

Sinto repuxar,
troveja aqui dentro,
faço sentidos,
rio de suas mentiras.

Tudo tão trivial,
tudo tão informal,
tudo sempre tão.

Em riso de gargalhadas,
sentencio aquilo que desconheço,
faço minhas regras.
E, dessa vez, salto.

Para um longe,
por tão pecaminoso,
somente assassino e
tanto.

Os olhos já fecham e
sabia o que viria.
Pessoas na simplicidade em bolhas,
fragéis,
temendo aquilo que ainda não se teve.
Mesmice enfadonha,
pergunto-me apenas por que a incredulidade não evaporou de meus olhos...

Lucas Galati

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Trato feito




E ontem,
estava frio e
eu fiquei na espera.

Segui o trato admitido,
era maior,
minha vontade estopim.
Reneguei o beijo do poeta,
esqueci os porres pelo surrealismo
de desenhos antigos,
tranquei minha boêmia e
,em verborragias, assumi mudanças já saindo de casa.
Estava a sua espera e tinha confiança.

Você se lembra?
Estava muito frio e
você disse que viria.
Eu esperei. Me vestia da forma que gostava:
Colorida. Old school e Jack Daniels,se lembra?
Era noite e eu tremia em meu vestido.
Esperava seu carro.

Eu esperei, ele não veio.
E
ele jamais viria...
Meia a Lua,
silêncio e
passos de Amelie.
Lembranças de Anne.

No outro dia, a roupa permanceu em cima de minha cama e
eu acordei sem frio.

Lucas Galati

domingo, 10 de janeiro de 2010

Alice

Ter tudo aquilo, ver aquela gente do alto do prédio compondo em verde, amarelo e vermelho. Dança cuspida da latrina. Carros de outras cores em tantas mais velocidades, olhar da janela do metrô e ver mistura: coturno, corrente de prata, scarpan, boné com aba reta, calça larga e blusinha justa ou vice e versa. Todos ao mesmo tempo, na mesma rua, ou as cruzando. Sentados na esquina, rindo ou chorando. Dando as mãos ou caçoando. Mas dali tudo saia.
A madame com o cachorro recém saído do pet shop, a mulher com lenço na cabeça e unhas encardidas. Sentir o 212 men, mudar de banco e o Avanço dominar o ambiente. Sentir cheiro de gente, sentir cheiro de banho tomado, reconhecer o Monange e apesar de relutar, ter de admitir a diferença entre o Victoria Secret que rapidamente passava.
Viver em paradoxos, mas estar atento a eles. Estar feliz de estar dentro de um todo tão grande. Sendo pequeno pintou-se um enorme. Notar tudo isso e saber que outros olhares pelo mesmo passavam. Também te viam e suas interpretações faziam. Queriam, quem sabe, até saber as horas, mas sua postura não convenceu. A velhinha achou que atrapalharia a sua música, o menino ficou entristecido por sua bala não ter sido notada.
E você passa. Em um dia, quantos outros pequenos não olham para você? Quantos , ontem , não tiveram uma noite ardendo em sexo? Quantos ficaram a noite toda no Messenger distribuindo cantadas? Quantos não choraram? Quantos pensaram na morte? Quantos não viam a hora do amanhã , pois seria um dia a menos?
Mas você não percebeu. Redomas em estilo High Tech. Por celulares, em mensagens, no Ipod esvai-se a humanidade.Não existem diferenças. O fim em bitucas tacadas pelos bueiros...Todas iguais.
Arrogância genuína, mas ainda carregada de tão grande semelhança com aquele cheirando a mijo que acabara de pedir uma moeda para ti.Ops! Não tinha visto, estava ocupada, cansada, chateada. Fechada dentro do seu privado bem público. “Nossa, minha vida é um túmulo... Ai menina! Acabei de trocar meu profile no Orkut, finalmente resolvi colocar namorando”. Estar dentro das grandes diferenças e não saber entendê-las. Preferir a cegueira.
Então, se reclama das mãos atadas. Enchem os bolsos dos psico tantos, medicina alternativa, ervas e pronto: “Nossa! Foi síndrome do pânico. Ainda bem que passou!” E não aprender nada com isso. Não se pensar numa vida diferente, numa vida feita do pânico e poder rir dele. Poder ver na diferença um conhecimento empírico. Que nunca horas em salas de aula possibilitariam. Chegar aos máximos e não tomar remédios. Sentir o corpo latejando, ter dúvidas, errar e sentir a força da mola: Suba , meu filho!, lamber o limbo, querer o fim do poço. Sendo dentro ou fora de uma normalidade. Mas respirando. Não tão descartáveis quanto bitucas de cigarros. Ser além. Ser sendo. Sentindo humano. Aceitando outros pequenos.Fagocitando, ou simplesmente, percebendo .

Lucas Galati