domingo, 27 de setembro de 2009

Não satisfeito com o uso abusivo de tantas mentiras, de um discurso mergulhado em vão e frieza. Vai-se além , mostra-se, agora, fraco e vira as costas. Pede-se para esquecer de tudo. Acomoda-se em tão trivial postura.

Pedido concedido, promessa feita. Mais um rascunho de grafite, onde só contorno se faz a figura. Jovem e incompleto. Rascunho.

Um dia sentirá falta das cores, só espero já ter nas mãos um quadro pronto.

Lucas Galati.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O não silêncio

O cigarro aceso no escuro. A janela aberta e a fumaça levando o vento. Um rangido de cidade, um barulho de porta abrindo. Um bocejo, uma gota de água na pia.
Barulho repentino ensurdece o não silêncio. Janela fechando. O não silêncio perdido. O repente som enegreceu a percepção dos assovios da noite. Calou os pensamentos de janela.
Sabido estava, que a janela fechada minha não era. Alguma outra, de um outro alguém, se fechando em meio a noite. Silenciando o meu não silêncio, rasgando as notas mínimas ouvidas ao alguém, antes, tão atento.Um outrem calava a minha noite.
Uma tragada longa. Um susto perfazendo-se em gotas, desnudando aquele momento em um eu ressabiado. Circundava o ambiente, olhava o fora e algo procurava. O alguém, o barulho ou a janela.
Ninguém. O não silêncio retorna, ouvem-se novamente as gotas da pia, as notas da metrópole. Porém, alguém. Sabia de fato. Alguém ali tinha o visto. A janela já não era mais sua, aquele não silêncio já não era seu. Joga o cigarro na privada. Alguém. Alguém tinha o visto. Alguém fantasiado de ninguém. De som. Da janela. Calando e sumindo. Em meio à noite, de dentro da metrópole. Do seu som. De dentro daquele não silêncio. Antes, seu. Agora, de ninguém.

Lucas Galati

domingo, 20 de setembro de 2009

A sádica ingenuidade entre ler e aplicar. Correnteza que leva, marola regurgitando onda grande. Bate em pedra e estilhaça em menores pedaçinhos. Talvez, só assim vire areia. De tamanho grão.


E uma distinção passe a existir.

sábado, 19 de setembro de 2009

Como a tora, como fogo e cinzas.

De promessa feita, tiro as claves desta canção. Como aquela semana de insônia, como a face de mesmas vezes, como aquele resto de fogueira, que depois de tamanha labareda ficam toras. Vermelhas, pulsando em agonia. Saudosista madeira, lágrimas de luz; de fogo, queimando por tudo aquilo que já foram. Tora chora fogo. De tal maneira, que difícil fica definir se ali em meio a tanta luz existe ainda a primeira tora ou se tudo já não se passa de lágrimas. Lágrimas de fogo. Lágrimas em fogo. Em tora.
Mas a madeira vê-se a si e só. Queima por razão natural. Estopim de forma retesada, de vida contada, porém de um estória que vai além. Além daquele pedaço ainda frio. A tora emana de si os maiores contos do mundo, expelidos pela labareda, chorados em rodas, em amarelos, azuis e vermelhos. Chorados em fogo.
De promessa feita, queimada está a última estória. O fogo foi tão grande, iluminou, esbravejou , mas, hoje,em cinzas. De promessa feita, cinzas não mais ocultas. A tora, hoje, lembrança. O fogo, as maiores sentimentalidades. Queimaduras pelo excesso de palavras, de um contingente de detalhes inoportunos. Daquela impossibilidade cega e verossímil. A tora apagou em lágrimas. O fogo escorreu de dentro e rachou-se em cinzas.
De promessa feita, emancipação. Fogo lacrado, estórias, contos escritos no caderno velho. Da saudade e das gostosas lembranças de um futuro de outras toras, fogos e cinzas. Porém , outras. Aquela fogueira há muito apagada estava, apenas eu não via.

Lucas Galati

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Dela para ela

- Da sua boca, carne puramente desejada. O que havia de promíscuo em dois lábios se tocando?
- Mas não, assim não seria. Jamais, feia da forma que o espelho gritava. Os óculos, as espinhas, esse jeito torto, parecendo toda vez estar com cólica.
- A pele clara, as unhas intactas, as mãos torneadas culminando em veias tão bem limitadas, carne viva. Movimento perfeito.
- Pois disso já se sabia. O mundo endossava. Porém, as tantas críticas. Pense, pense... Os defeitos. Os erros – as unhas na boca e o pé em repetições aflitivas. A classe toda a notava.
- Pequenas, pequenas nesse mar que carrega aí dentro. És pequena apenas no tamanho, guarda rios de cores e sabores. Desejo, hoje, é segundo nome. Dentro de ti. Você inunda sentimento. Pois diga.
-Já disse! Em nada adiantou.
- Quem sabe outra vez?
- Louco só pode estar! Não sou dessas, tenho respeito a mim mesmo.
- Tens orgulho!
-E se for?
- Engula. E o diga. Ande!
- Não adianta, gostar é injusto. A estória se formou em via única. E assim seria! Foi dito. Acostumei-me.
- Assim vejo! Pois as máquinas deste século de fato dizem?
- Claro que sim! De uma forma fácil, sem contato... Não se vê!
- Dizem tão fácil quanto mentem.
- Nada se aplica neste caso. Sinceridade em busca de amizade. Forte demais, entende? Não transforma.

A luz do sol entra pela janela e bate exatamente no olho. Olho dele. Azul que reflete vermelho dentro dela e relembra aquele sonho. Queima e fogo. Afoga em angústia. Ela muda de posição, bebe um gole da água da garrafa em sua mala e tenta se concentrar no que o professor dizia.

- O cabelo liso, o acostumado não toque. Nunca havia o abraçado. Imaginava como seria. Tocar em seus braços, beijar a ponta do nariz menino. Olhar no fundo daquele mar em forma de olho. Se perder em tais águas.
- Pois aqui te conto um segredo. Dentro de mim jaz algo que ninguém pode tirar. Sonhos. Sempre tão bons e completos e tão meus. Acontecendo em minutos, mas em ritmo conhecido. Acalenta.
- Dentro de você?
- Desculpe-me , dentro de nós!
- Melhor assim. Porém, pretende viver de sonhos agora?
- Viver é tão amplo. Se em sonhos me completo. Deixo a realidade sem compreensão.
- Pisará em nuvens daqui pra frente. E o calor, seu fogo? Esse vermelho quando irá sair de você?
- O vermelho sai apenas pra mim. Quando fecho os olhos e resgato o mais querido , aquele desejo do meu entender. No toque suave, no preenchimento onírico, do calor de mim de dentro para eu mesma aqui fora. Curativo aos solavancos de uma vida de poucas falas. Porém, vida cheia de pensar. Eles, hoje , são parte de mim e os aceito como existência.
- Deveria tentar dizer isso algum dia.
- Não penso em algum dia. Se ainda não pude, me apaixono pelas situações que aqui dentro planejo - toca em sua cabeça e nota que a classe inteira vira o gesto e a fingi coçar, mas continua - Amar de forma intensa. Ser intensa e saber esperar. Não esperar concretude, esperar que um alguém apareça e que minhas posturas possam ser outras, ou talvez, as mesmas. Mas sempre densas a mim. Sentir o vermelho pulsando. Meu vermelho.

Aquela outra voz, aquela voz dela que se tanto perguntava, por fim, cala-se . Ela havia se convencido de que o amor não precisa de reciprocidade. Talvez, não o amor em si, mas o amor dela. A sua forma de amar e de se sentir sua, completa, vermelha. Uma discussão de uma aula. Dela para ela mesma. Dois pontos eqüidistantes, moral e desejos. Engolfados num dentro tão dela. Num amor que apenas ela entendia e esperava. Esperava mais sonhos, mais calores e vermelhos de outros tons.

O sinal toca. Assustada, mexe as mãos buscando reavivar a circulação interrompida por horas de apoio de cabeça, dá um gole de água. E diz baixo, a si mesma:
- E se, acerca de tudo, ele não vier. Tudo bem será apenas mais um dia. A noite o roubo ...

Lucas Galati

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Irremediável insanidade

E visto errado
Por mais que fosse,
A cansada estada
Numa roda maior.
Um maior estranho.

Laços tão seus,
Tão leves, mas soltos.
Laços de constância,
Pouca balburdia.
Laços retilíneos,
Cooptando certezas
E feliz em estar.
Era parte.

Porém, o avesso em si se mostra.
A loucura desenfreia,
Uma presença angustia,
Vê-se inimigo.
Aquele mesmo lutado pelo perto,
Por contato,
Pelo choque,
Ou por um beijo.

O que ocorria com a sanidade?
Passa , hoje, léguas do antigo ponto de partida.
Vociferava acidez,
Trança as pernas e apaga velas.
Desacredita.

E desse nó de peito,
O desespero angustia
Em novela,
Romance de capa dura,
O cortejo estranho ao novo contato
Na cabeça.

Mãos dadas,
Coração a boca.
Vontade de gritar, sem poder
Sem saber.

Só não queria,
Não podia,
Discordava em caras.
E, assim, apagaria fogo
Em boca,
E silenciaria.

Traga,
Retorce,
Afunda.
Aprenderia , por fim, lidar com
o aquilo.
O aquilo mais querido,
Cantaria em alusão ao fim da posse.
Ganharia controle,
Leria um livro,
Daria um abraço e
Pediria desculpas em sinal de fraqueza.
Corrompendo-se ao histórico,
Desnudando em soluços,
Num ciclo nocivo de
Querer e poder,
De amor e ódio.
Num ciclo fatídico
E oposto.
Assim seria.

Lucas Galati

domingo, 13 de setembro de 2009

Entre alcoolicos cigarros e grades em dia de chuva

E exemplos já não faltam frente aquilo que não se quer. São os beijos, são sorrisos, mãos e dentes a mostra. Um arrepio na espinha – não se podia assim ser.

Uma felicidade regada a álcool da pior espécie, veias drenando matéria morta. Purulenta. Organismo cuspindo altas doses de líquido e só. Já não se cuida, não importa. Não se podia dizer feliz. Desaprendido estava.

Traça roendo livros, os tantos na estante. Nem literatura, cinema, artes. Seu corpo estava salobro, sua mente afogada em descrença.

No fim da tarde, o cigarro entre as grades do banheiro. Em frente, a cidade em dia de chuva. O barulho de água e seu líquido caindo em cinzas, em lágrimas. Não era a falta de palavras, essas sempre em riste. Agora, porém, até elas enfadonhas estavam. Eram redundantes. Mesmice de final sabido.

E tudo sempre acabava nos cigarros, em grades e altas doses de água, resquício de noite anterior.

Na mente, as vagas lembranças de felicidade drogada. De sorrisos esquecidos. De uma raiva latente e indesejada. Mais cigarros e aquela água encarcerada em corpo e caindo lá fora.

Cospe, olha-se no espelho para assegurar se ali ainda estava e vai dormir.

Na privada, boiava líquido de dentro. Lá fora, ainda chovia.

Lucas G.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Na ordem inversa?



A escada que cansava pelos imensos degraus, daqueles que se abrem bem as pernas, apóia as duas mãos no joelho, conta um , dois e vai.A folha de jornal dobrada em formato de barquinho. Perfeito chapéu.
As tentativas frustradas de se colocar os pés nos chão quando sentado na cadeira durante o jantar. O quão difícil amarrar os tênis, ou segurar da forma certa no lápis durante a lição de casa. O cachorro como cavalo e a vassoura a mais potente espada. Derrotando demônios e monstros por sons de socos e chutes emitidos pela boca.
O dente no chão preso pela linha amarrada na porta recém batida pela irmã mais velha, os pés descalços e a cara lisa. A vontade de ter barba, espinha. “Cadê meus cravos?”.
Vestir o terno do pai, querer sair à rua assim. O gosto ruim da acelga, a surpresa dada pela mãe depois de “rapar o prato”.
O choro doído ao cair. A primeira visão do vermelho vivo rachando de um corte. O medo do escuro, dormir abraçado aos pais. Gato-mia, barra manteiga, lego, playmobil.
Quando ainda assim se é parece tudo ser tão grande. Grande de fora, enorme lá dentro. Coração de criança bate mais forte, fala dos dedos aos mindinhos. Respira essência e vai atrás daquilo que se quer. Sabe-se exatamente o querido.
Aí, talvez, se esconda o grande karma humano. Ver os anos passarem e a cada dia tudo menor ficar. Desapercebe o diferente, aparece o indizível, as ações se repetem, as coisas ficam sem sentido. Nasce a raiva, dá-se um grito e vai dormir de peito retorcido. Como desculpa, o desejo do dia seguinte: ser indiferente. Um pouquinho menor , menor, invisível ... e evaporar.


Lucas G.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Segredo negado

Basta passar a expelir seqüencialmente líquido amarelo,
Que na cabeça estanca a imagem mais negada,
O passado engolido em horas de travesseiro e desculpas.
O inteligível , o retrogrado, o secreto.

Eu transpiro o querer,
Abraço em desejo,
Eu suo das (im)possibilidades.
E disso sempre soube.

Por fim, também sabido é
o caminho já testado.
A retórica perfeita e um fluxo
Por demais jovem.
Não houve impedimento,
E não haveria.
(o primeiro peteleco, pois deslancharia.)
Boa sorte.

Mas aquela conexão há muito deixara a regra
Para tornar-se exceção. E nada podia se fazer.
Assentou, barro duro, asfalto. Enfim.
Ainda desacreditava do amor e, hoje, já não mais escreveria sobre isso.

Havia se cansado de palavras não entendidas,
Resgatadas como pente acariciando cabelo de ego
Em frente ao espelho.
Enfadonho ser assim,
O que foi , nunca mais.
Sobra apenas olhos abertos e o corte certo em oníricas possibilidades.
Em alguma.
Nenhuma.
Sem... qualquer.
Barro asfalto,
Assento duro.
E fim.
Assim eu entenderia.
(Secreto) .

Lucas G.

domingo, 6 de setembro de 2009

Tudo de novo / Roseli Martins

"Se eu tirar você do poço
Se eu falar a sua língua
Você vai sair do limbo
Vai ganhar prêmio no bingo
Vai gritar feito maluco
Vai perder tudo no jogo
Você vai saber que tudo que era muito
Vale pouco

E com o rabo entre as pernas
Com as lágrimas caindo
Vai pedir
Arrego
Vai pedir
Socorro
Implorar
Implore que eu faço tudo de novo"

Gentileza / Marisa Monte



"Apagaram tudo

Pintaram tudo de cinza

A palavra no muro

Ficou coberta de tinta


Apagaram tudo

Pintaram tudo de cinza

Só ficou no muro

Tristeza e tinta fresca


Nós que passamos apressados

Pelas ruas da cidade

Merecemos ler as letras

E as palavras de Gentileza


Por isso eu pergunto

À você no mundo

Se é mais inteligente

O livro ou a sabedoria


O mundo é uma escola

A vida é o circo

Amor palavra que liberta

Já dizia o Profeta"