domingo, 31 de janeiro de 2010

Kátia B / Só deixo meu amor na mão de quem pode

Só deixo meu coração
Na mão de quem pode
Fazer da minha alma
Suporte pr’uma vida insinuante

Insinuante
Anti-tudo que não possa ser
Bossa-nova hardcore
Bossa-nova nota dez

Quero dizer
Eu tô pra tudo nesse mundo
Então
Só vou deixar meu coração
A alma do meu corpo
Na mão de quem pode

Na mão de quem pode e absorve
Todo céu
Qualquer inferno

Inspiração
De mutação
Da vagabunda intenção
De se jogar na dança absoluta
Da matança do que é tédio

Conformismo
Aceitação
Do fico aqui
Vou te levando
Nessa dança
Submundo pode tudo do amor (pode tudo do amor)

Porque não quero teu ciúme que é o cúmulo
Ciúme é acúmulo de dúvida, incerteza
De si mesmo
Projetado
Assim jogado
Como lama anti-erótica
Na cara do desejo mais
Intenso de ficar com a pessoa
E eu não tô à toa
Eu sou muito boa

Eu sou muito boa pra vida
Eu sou a vida oferecida como dança
E não quero te dar gelo
Jealous guy

Vê se aprende
Se desprende
Vem pra mim que sou esfinge do amor
Te sussurrando
Decifra-me (decifra-me)

Só deixo minha alma
Só deixo o coração
Só deixo minha alma
Na mão de quem pode

Só deixo minha alma
Só deixo meu coração
Na mão de quem ama solto

Eu vou dizendo
Que só deixo minha alma
Só deixo meu coracão
Na mão de quem pode
Fazer dele erótico suporte
Pra tudo que é ótimo fator vital

Migalhas enjoativas

E não por efeito da raiva. Muito menos, por brincadeiras - daquelas de gente tão pequena.
Não seria por conta de espinhos da última rosa vermelha arrancada. Duvidaria em bajular tão fatídicos anseios,eram pequenos e sempre soube dos respectivos tamanhos.

Nunca soube, porém, cantar na velocidade de interruptores, nunca estive preparado a mudança da luz. Tomava tanto tempo definir claro e escuro...

E eu, por vezes, conseguia. Hoje,ainda mais rápido. Tão rápido que a intermitência me excita mais. Aquele cheiro de queimado , a lâmpada explodindo, e você já no chão
suspirando em vultos de prazer.

Por tanto foi assim e nunca quis reverter o sibilar de algumas letras, sempre calei aqueles que não entendiam uma explosão.E seguia em frente.

Lembrar da última vez,o sempre velho bom amigo brindando a mesa.
Uma hora e três goles mais tarde, viria o mais difícil - reconhecê-la. Ciência dos calados, artimanha dos vividos. Daquelas apreendidas ao se olhar no espelho pela primeira vez.

Naquele começo de dia tão insosso, o reconhecimento me cortou, explodi o espelho e quebrei a lâmpada. Eu convergia numa ira de sem definição, do inquieto saltar a cara e o ar me fazer falta.

Não se aproxime, isso tudo que você acha que toca faz parte de mim. O tudo feito em seu dia dia, tem dedos meus.E sabes, entendes e sempre disse respeitar:
Pois então, desapareça, faça seus abraços, construa seus carinhos...
Longe.

Farto, há muito me encontro, na postura daquele respeitar enjoativo, querendo verbalizar a saliva de meus olhos.

Apenas uma vez, apresente-me.Não queira reverter a ordem, carregas consigo o fardo de criatura, nunca dando origens, sempre reproduzindo e seguindo a postura do criador.

És frágil como cerâmica e , naquela manhã, aquilo tudo foi jogado ao chão.No desejar de uma vida de ímpetos, e , talvez, por isso, não olhei para trás buscando ver os pedaçinhos de lâmpada, espelho ou cerâmica espalhados ao chão. O ar ainda me faltava.

Luas Galati

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Pedras e Metrópole

Quero dos meus escritos o cheiro de bueiro. Cor de pés encardidos. Quero ver fumaça cinza saindo com o digitar de cada letra.
Desejo os mal dizeres das mesas de bar, o sotaque carregado e mãos gesticulando. Quero ver a descrença se misturando ao ônibus lotado, se perdendo junto a tosse catarrenta da senhora ao meu lado.
Quero afirmar os amores fugazes, as luzes de baladas underground, quero reforçar o peso de um "foda-se".
Dos meus escritos, sair pedaços de cimento, junto ao vômito escorrendo pelos pedregulhos, ainda colados, da Augusta. Quero as cores das roupas das prostitutas, os piercings, tatuagens e mais gírias.
Quero não privar isso do surgir de palavras. Quando imagino sempre reconto. E enfatizando, cuspo minha estória. Por fim... Tudo isso me faz tão bem.

Lucas Galati

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Sem título

E se há arrependimento por intensidade? Jamais recairia culpa por tão nobre façanha. Nobreza, sim. Por vezes, quis muito acreditar em contrários, achar que ainda se entregavam, que casais se permitiam e que dizer: “eu te conheço”, poderia ser algo concreto.
E não por mim. As vezes, penso que nem foi preciso chegar em mim. A descrença era paulatina, chegava nos meus ombros os tantos casos de celulares desligados, de mensagens e e-mails não respondidos. Daquele atravessar de rua, que foi-se visto, mas o não cumprimentar é mais fácil. Talvez, mais digno.
Ninguém se rebaixaria. As ligações alcoólicas tiveram seus tons mudados. Não seriam mais declarações de amor, mas um terreno perfeito para pronunciar o término daquele nada já tão enfadonho. Ainda em forma de ligação, seria eu tão arcaico em achar absurdo?
Acredito que se cansa, mas dói demais desconfiar do existente. Adentro os sentimentos, mas incomoda a chamada cancelada. Rezo antes de dormir, mas já não encontro outras formas de não ser descrente.
Não, simplesmente, descartar sentimentos. Contudo, não farei parte de um ringue, não quero ver no amor uma luta por ego. Pronto! Bandeira branca e logo nos primeiros dois minutos. Serei daqueles que concorda, endossarei a mentira alheia, até se confundir com a verdade.
Darei subsídios, não irei vetar, serei daqueles a dizer, mas nunca ligar. Serei ainda dos tão poucos que não terá medo de afirmar inexperiência, de não arranjar desculpas e ser sincero na primeira possibilidade.
E farei tudo isso. Pois, de fato, arrepender-se por intensidade. Jamais.Disso, apenas orgulho.
Mas lágrimas , não mais, saíram dos olhos por inverdades. Por aquela sensação de criação. Do psicótico, ansiando por novas emoções. De lidar com o prazer , lambuzando a cara, pelo não vivido. O outrem chorando por risadas.
Você tem a alma de poeta. És ingênuo. Nunca foi dito. Foi apenas um tratamento de choque.Tanta criatividade.
E te prometo que nada será feito, além de concordar. E seguir, sem nunca desistir de intensidade alguma. Foi bom, eu vivi, agora durmo, pois já é tarde.

Lucas Galati

Amar / Carlos Drummond de Andrade

" Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho,
e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor à procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita".

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Farto

Sinto repuxar,
troveja aqui dentro,
faço sentidos,
rio de suas mentiras.

Tudo tão trivial,
tudo tão informal,
tudo sempre tão.

Em riso de gargalhadas,
sentencio aquilo que desconheço,
faço minhas regras.
E, dessa vez, salto.

Para um longe,
por tão pecaminoso,
somente assassino e
tanto.

Os olhos já fecham e
sabia o que viria.
Pessoas na simplicidade em bolhas,
fragéis,
temendo aquilo que ainda não se teve.
Mesmice enfadonha,
pergunto-me apenas por que a incredulidade não evaporou de meus olhos...

Lucas Galati

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Trato feito




E ontem,
estava frio e
eu fiquei na espera.

Segui o trato admitido,
era maior,
minha vontade estopim.
Reneguei o beijo do poeta,
esqueci os porres pelo surrealismo
de desenhos antigos,
tranquei minha boêmia e
,em verborragias, assumi mudanças já saindo de casa.
Estava a sua espera e tinha confiança.

Você se lembra?
Estava muito frio e
você disse que viria.
Eu esperei. Me vestia da forma que gostava:
Colorida. Old school e Jack Daniels,se lembra?
Era noite e eu tremia em meu vestido.
Esperava seu carro.

Eu esperei, ele não veio.
E
ele jamais viria...
Meia a Lua,
silêncio e
passos de Amelie.
Lembranças de Anne.

No outro dia, a roupa permanceu em cima de minha cama e
eu acordei sem frio.

Lucas Galati

domingo, 10 de janeiro de 2010

Alice

Ter tudo aquilo, ver aquela gente do alto do prédio compondo em verde, amarelo e vermelho. Dança cuspida da latrina. Carros de outras cores em tantas mais velocidades, olhar da janela do metrô e ver mistura: coturno, corrente de prata, scarpan, boné com aba reta, calça larga e blusinha justa ou vice e versa. Todos ao mesmo tempo, na mesma rua, ou as cruzando. Sentados na esquina, rindo ou chorando. Dando as mãos ou caçoando. Mas dali tudo saia.
A madame com o cachorro recém saído do pet shop, a mulher com lenço na cabeça e unhas encardidas. Sentir o 212 men, mudar de banco e o Avanço dominar o ambiente. Sentir cheiro de gente, sentir cheiro de banho tomado, reconhecer o Monange e apesar de relutar, ter de admitir a diferença entre o Victoria Secret que rapidamente passava.
Viver em paradoxos, mas estar atento a eles. Estar feliz de estar dentro de um todo tão grande. Sendo pequeno pintou-se um enorme. Notar tudo isso e saber que outros olhares pelo mesmo passavam. Também te viam e suas interpretações faziam. Queriam, quem sabe, até saber as horas, mas sua postura não convenceu. A velhinha achou que atrapalharia a sua música, o menino ficou entristecido por sua bala não ter sido notada.
E você passa. Em um dia, quantos outros pequenos não olham para você? Quantos , ontem , não tiveram uma noite ardendo em sexo? Quantos ficaram a noite toda no Messenger distribuindo cantadas? Quantos não choraram? Quantos pensaram na morte? Quantos não viam a hora do amanhã , pois seria um dia a menos?
Mas você não percebeu. Redomas em estilo High Tech. Por celulares, em mensagens, no Ipod esvai-se a humanidade.Não existem diferenças. O fim em bitucas tacadas pelos bueiros...Todas iguais.
Arrogância genuína, mas ainda carregada de tão grande semelhança com aquele cheirando a mijo que acabara de pedir uma moeda para ti.Ops! Não tinha visto, estava ocupada, cansada, chateada. Fechada dentro do seu privado bem público. “Nossa, minha vida é um túmulo... Ai menina! Acabei de trocar meu profile no Orkut, finalmente resolvi colocar namorando”. Estar dentro das grandes diferenças e não saber entendê-las. Preferir a cegueira.
Então, se reclama das mãos atadas. Enchem os bolsos dos psico tantos, medicina alternativa, ervas e pronto: “Nossa! Foi síndrome do pânico. Ainda bem que passou!” E não aprender nada com isso. Não se pensar numa vida diferente, numa vida feita do pânico e poder rir dele. Poder ver na diferença um conhecimento empírico. Que nunca horas em salas de aula possibilitariam. Chegar aos máximos e não tomar remédios. Sentir o corpo latejando, ter dúvidas, errar e sentir a força da mola: Suba , meu filho!, lamber o limbo, querer o fim do poço. Sendo dentro ou fora de uma normalidade. Mas respirando. Não tão descartáveis quanto bitucas de cigarros. Ser além. Ser sendo. Sentindo humano. Aceitando outros pequenos.Fagocitando, ou simplesmente, percebendo .

Lucas Galati

sábado, 9 de janeiro de 2010

Desconhecido procurado

Ontem , você saiu com meu gosto. Roubo concedido. Não haveria como, fui contrário. Achei errado, quis inverter os passos. Todos achariam que ocorreria com outra pessoa, mas não a ti. Fica em segredo. Nosso.
Inomináveis. Desconhecidos e procurados. Minha melhor lembrança dos quinze. Meu retorno ao passado, ao gosto do que ainda não sabia. Não creio que meu número por ali jazia. Terras distantes, olhares desviados. E, por assim, você aparece.
Meu caminho não seria de terra e tinha final completo. Tinha enredo, de caídas a subidas. E tudo no exato. Dessa vez, não esperei. Enquanto relembrava momentos tão tristes e evitava o estranho indesejável, chega a minha porta pintura de cara espanhola regada a fumaça de cigarrilho aceso.Você existe?

Por ontem , fiz minha certeza.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Sem título

Coberto de folha seca. Já não lembrava a última vez. O dourado revezava com as frestas que iniciavam o dia. Não me mexia e só por essa premissa o desejo por movimento era inegável.
Sinto formigas, não as temo. Queria me fazer madeira, queria folha seca, queria não sendo. Aos poucos, sinto os carinhos dos galhos de árvore, sinto a textura do que tudo ali jazia. Pedrinhas, areia, água, picão. Percebo as cores. Muito além dos amarelos e dourados daquelas folhas. Um movimento de mão única, a natureza escondia o intacto. Silenciava o despercebido, dava outra cara ao natural.
Aos poucos, vou desfiando meu movimentar. Numa imprecisão que até as letras evidenciam. Queria meu silenciar e sentir meu corpo respirando natural.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Previsões juvenis

Como gostava da exclusividade. O laço preto amarrado ao pé da cama, presente de pessoa importante. Bracelete rosa estampado em letras já bem apagadas: "Multishow", aquela rave e as drogas - Inesquecível. Um piercing, o grito aos pudores sociais. Uma carta amarelada, nunca arrancada do caderno. Hoje, já não relida.Rascunhos .
Um canguru em miniatura, seu intercâmbio. A água girava ao contrário por aquelas bandas.
E girando não só a água... A exclusividade trasmutava pelo passar de ponteiros. Agora, uma foto relembrava cores e cheiros, o abraço de um pai, o ouvir daquele primeiro te amo. Soava gostoso. Um aperto de mão seguido de um: "Amanhã a gente se fala", e de fato, acontecer. Ou uma simples carona após uma viagem de horas.Melhor... não ouvir perguntas apenas, mas palavras, uma frase,quem sabe. Querer dialogar.Estar ali. Não sentir medo.
Perguntas, por vezes, calam mais que respostas. Os dizeres da antiga carta amarelada deixaram o exclusivo e passaram ao trivial. Ao escritor, o renegar escorrido vermelho. Para o leitor, cócegas na lembrança. Dizeres que os giros de água calavam. Uma rotina ali, uma viagem acolá, uma nova pessoa e pronto, tudo estaria esquecido. Como quase já se tinha sido.
Sobra ao remetente a vontade de não ter sido apenas formador de cicatrizes. Que lembrado tenha sido por suas pequenas exclusividades.
Os medos que escorriam da carta ainda tão juvenil, eram as verdades abstraídas do agora. Caladas, cínicas e imutáveis. Uma mistura preta adjunta do vermelho das primeiras intenções. Uma nova cor ainda se forma.E por ontem, virou a folha e outras novas previsões foram escritas. Esperará, mais uma vez, pelo amarelar.

Lucas Galati

Parágrafo do livro Venenos de Deus, remédios de Diabo de Mia Couto

" Que também ele, Bartolomeu Sozinho, fora dado a poesias. E pela centésima vez reabre a gaveta para reler num bloco de notas algo que escrevera sobre tempos e pensamentos. Avança para o centro do aposento e faz de conta que vai lendo um invisível manuscrito: " Aos dez anos todos nos dizem que somos espertos, mas que nos faltam ideias próprias. Aos 20 anos dizem que somos muito espertos, mas que não venhamos com ideias. Aos 30 anos pensamos que ninguém mais tem ideias. Aos 40 achamos que as ideias dos outros são todas nossas. Aos 50 pensamos com suficiente sabedoria para já não ter ideias. Aos 60 ainda temos ideias mas esquecemos do que estávamos a pensar. Aos 70 só pensar já nos faz dormir. Aos 80 só pensamos quando dormimos". A mão tomba-lhe num inesperado abatimento e Bartolomeu sacode a cabeça como surpreso pela sua própria criação. "
Meu tão novo ano velho.
Dos sete pulares, um ainda se fez o mesmo.

Lucas Galati
"(...) Tudo , por aqueles lados, me chama. Não só o fora,mas em dentro. Não se sabe o mais belo. Por aquelas terras, achei poder viver diferente.Transgredir e conseguir sorrir todos os dias. Só ali, não teria medo."

Lucas Galati