domingo, 24 de outubro de 2010

A noite

(...)E só então entendi que histórias de amor não precisam de cavalos brancos, trilha sonora ou um conhecimento de anos. Elas podem durar instantes, estar permeadas por doses de álcool ou mesmo acontecerem dentro de uma balada. Elas são feitas pelo imprevisível e emaranhadas por uma sintonia da não explicação. São tácitas e palavras são falhas quando se tenta uma descrição. Elas acontecem em noites de quinta ou feriados prolongados. Elas ficam na cabeça e tem um gosto bom, pois viram capítulos. Registros eternos, documentação pessoal e altamente restrita.
Pela irrealidade, muitos desacreditam. À mim, faço tônico. Uma tarde de escrita, quem sabe. Relembrar carícias, beijos e suspiros, que mal há nisso? - simplesmente acordar e se ver bonito.
Que noite!

Lucas G.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Sem título ou Lembranças

Antes de noites de sonho,
relembro a passagem retratada em simples instante.
Três almas que se entregaram a uma paixão visceral,
etérea,
três jovens que criaram uma fábula
e não imaginaram final. Seria perda de tempo.
E se tivessem o feito, não seria o que se prontifica.
Por isso, a estante expõe o instante,
para espantar lembranças ruins,
pesadelos
e refrescar a mente de todo o dia ou
,talvez, dormir coçando certezas.Quem sabe desta forma poder sonhar.

Na atual conjuntura, isso basta.

Lucas G.

domingo, 17 de outubro de 2010

Dia cinza

Aquele marasmo voltava a cansar e se eu te dissesse , você não acreditaria: ao sair lá fora o dia estava cinza.
Cor aquela de um tom só, pesada, arqueava as costas e dava vontade de voltar pra cama. Com muito esforço, ainda consegui deitar por ali mesmo. Não queria o conforto, dar risadas teatrais ou beber uma cerveja. Queria um dia assim, queria estar deitado naquela posição. Queria sentir a espinha estranhando o gelado do concreto. Não queria pássaros coloridos, uma mão acariciando meu pêlo ou uma música ao fundo. Não queria ninguém de família, ou de relativa proximidade, queria olhar a cor e fazer dela responsável por qualquer devaneio.
Naquele dia eu não queria palavras humanas. Poderia vomitar frente a qualquer sinal de mimetismo descabido ou de uma falação a respeito de rodopios empíricos, quase sempre inexistentes.
Eu estava farto dessa necessidade e do dia cinza não haveria água, pomba ou gritos de criança que me tirasse daquele estado de inanição.
Eu degustava o momento. Sólido, aos poucos, controlava as dores de meu corpo após uma noite de balada, tinha esquecido o comentário ríspido do amigo que tentava impressionar o namorado e conseguia deturpar a face de meu maior engano - levantava a bandeira da auto proteção.
Na cabeça, apenas a insatisfação de ter que dar certo, a infelicidade do dia seguinte, em que novos relatórios esperavam para serem preenchidos. Eu estava cansado.
Seguir um contrafluxo teria seus desenganos?
Para ser estranho , você precisa de permissão.

Havia me cansado até das noite de bebida. As mesmas pessoas, fazer aquele olhar na esperança de ser reconhecido. Na possibilidade de alguém te olhar e captar algum sinal de conectividade que não se baseie apenas em dentes bonitos , um corpo musculoso e uma calça de marca. Não querer chamar a atenção por razões que não vão além de um copo a mais de vodca.
Queria me sentir homem, queria alguém que sentisse sem pesares e grandes elocubrações.
Queria , uma vez, abraçar e me sentir protegido.
Mas não. Não naquele dia.Não naquele dia cinza. Ao me olhar no espelho, estava sem cor e não tinha a menor aptidão para reverter situações ou processos altamente definitivos.Estava longe de querer vermelhos, rosas ou azuis.
Propagaria em sinal de protesto. Até um dia que finalmente pudesse sentir que alguém , de fato, olhava pra mim e não para o meu copo de vodca.Uma pessoa que simplesmente não mandasse na manhã seguinte: "Desculpa! Estava muito bêbado! Você curtiu?". Alguém que não sumisse.
Esperava um dia que pudesse voltar a ter cor.

Lucas G.