domingo, 28 de fevereiro de 2010

Hoje, molhei os pequenos seres na orla da praia da divisa.
De água minha.
Confabulei, revirando o conteúdo do fundo do copo,
da carne, o corte fundo em ver que tudo leva ao não retorno...
Sangue e escolhas feitas.
O nunca ser de impulsos e negativas.

Lucas Galati

sábado, 27 de fevereiro de 2010

A não semana

Por enquanto , não muito posso dizer.
Mas essa semana senti a vida saindo de tudo .
O sol já não era tão amarelo, as folhas já não faziam aquele som e o vento não foi percebido.
Suei e senti Medo. Muito Medo. Medo de ter minha vida saindo. Medo de ser obrigado a viver ultimas vezes.
Essa semana, o imutável fez eu sangrar.

E um pássaro de cor verde deixou um bilhete.
E eu sonhei,
Azul,
Amarelo
e Também verde.
Fortes, todas as cores que tinha perdido durante minha semana.

E guardei o bilhete,
e na dúvida,
pedi para você dormir ao meu lado.
E você disse que sim.
Só então,
voltei a Sentir o vento,
o quente,
e tudo aquilo extraido,
foi retornando em canção.
Regalos de notas perdidas,
sentimento mais puro de jovialidade humana - aquece e descansa.

Lucas Galati

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Tudo aquilo

- Porque já vai?
- Porque não mais escolho.
- Mas ainda nem dançamos...
- Minhas pernas me falham. Carrego peso demais pelas costas.
- Pois então, ainda decide: Quer ir embora, certo?
- Decide-se apenas o que se quer. Já não posso me dar a esse luxo.
- Qual luxo?
- O de querer algo.
- Salgada frieza. E isso porque agora?
- Quis durante toda vida.
- E errou por isso?
- A vida não é de certos e errados.
- Como sabes?
- Por que se fosse, não poderia ter mais sonhos.
- Não entendi.
- Se tudo tivesse decidido, teria a completude de minhas vontades saciadas. O que são os sonhos, senão os mais internos desejos?
- Logo, não teve tudo decidido.
- Decisões não podem ser simplistas. Carregam mimetismos, uma mutabilidade que foge do controle humano. Muitas vezes, opta-se pelo silêncio. Separa-se, em certos casos. Há aqueles que golpeiam verbos assassinos. Porém , tudo vindo de você.
- Calma! Mas isso não seriam escolhas?
- Escolhas são para aqueles que ainda enxergam outras opções, que ainda tem tempo para uma última dança, uma última taça, um último beijo. Decide-se quando o tempo corroeu a carne, quando o cansaço não veio em forma de suor, quando o todo dia deixou de ser saudável.
- Acha certo?
- Como já disse, não há maniqueísmos em decisões. Nunca acharia certo algumas decisões minhas e eu sempre criticaria outras suas.
- E o futuro? Não pensa?
- Não mais. Carrego o final dentro de mim. Tenho prazo de validade.Não posso pensar além de alguns meses.
- Dói tanto pensar nisso. Mas fez o tudo que queria?
- Não. Eu quis demais, decidi o tanto e desconheço a vida.
- Pois corra! Ainda dá tempo!
- Não tenho mais meus vinte anos. Estão me dilacerando por dentro e tenho de aceitar. Entender a chegada da morte.
- Por que quis tanto?
- Porque vi o amor no mundo. Era tão colorido. Um cheiro de perfume de grife. Fui tão feliz.
- Viveu esse amor?
- Nunca. Apenas o quis. E decidi estar distante.
- Por medo?
- Por nunca ter sido. Não sei explicar.
- E como te fez feliz?
- Por ser amor. Era um sorriso, um toque, a esperança. Eram até as brigas, os filmes, nossos gostos.
- Não imagino.
- Já não fazem amores como antigamente. Agora, eles vêm em papel bolha e tem senha para entrar.
- Você não entenderia , meu velho amigo.
- Não mesmo. Não depois de tudo aquilo.

Ele fechou os olhos e teve preguiça de os abrir de novo.

Lucas Galati

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Depois daquele show

Nascer predestinado. Não sei de que forma... Gostar de ver sangue, ser afinado, desenhar como ninguém, mas não aqueles mangás da cabeça grande e olhos vesgos. Desenho mesmo, daqueles que se pode até brincar com as cores , de novas proporções, em manchas ou retilíneo.
Nascer com a certeza de uma profissão, um bom discurso, círculos perfeitos. Vontade mesmo? O ser reconhecido em todo dia, saber que se tem talento, ver as pessoas te invejando, e ter algo tão seu.
Um dia de show, platéia lotada...Querem te ver. Querem que mostre aquilo que nasceu contigo, querem a progressão, pois a voz acompanha o canto; o pincel, a sensação e o sangue, recupera a vida.
Sair com a certeza de que valeu a pena, pois gritaram seu nome, de uma lágrima ter escorrido com aquele abraço e , logo depois, ouvir o tímido: Obrigado; de se ter marcado a história com um pedaço de pano e uma idéia.
Uma completude que desabrocha e finca bandeira ao chão. Sim , esse é meu nome. O eterno frio na barriga e a esperança de que tudo aquilo continue.
Se não pra sempre, pelo tempo que for. Segundos ou semanas, de um reconhecimento do não atravessar de rua, das buzinadas, de poder tacar um óculos para uma multidão, que antes, chorava com as palavras que você dizia.
Talento que for... Admitido, por si só. Excelência em degustar vinhos ou virar shots de vodca, um beck bem bolado, persuadir bem as pessoas, não engolir cara feia, admitir as quedas.
Não maiores ou menores.Predestinações somente.
Mas,por apenas um dia, sentir o peito inflar e poder dizer com gosto:Mandei bem!

Lucas Galati

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Sem título

E ficaria...
mas daquela viagem ,
você nunca mais voltou.

Marolas dos barquinhos de papel,
perdido no intrigante,
naquele boiar em final de dia quente.

Sem culpados,
Por tão intenso foi-se feito,
que tantas memórias permaceram,
e apenas isso já me completa.

Lucas Galati

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

We just want the attention por Juliana Xavier

Eu olho pra sua vida e tento achar alguma fresta, nicho ou até quina onde eu possa caber.
Eu olho pra minha vida: examino os espaços que eu deixaria você tomar.
Aí eu cruzo as nossas vidas e a história é exatamente a mesma: escola católica, primeiro beijo, primeiro porre, íris, more than words, gás de isqueiro, kurt cobain, benflogin, primeiro beck frouxo, donnie darko, primeira vez, los hermanos, viagem de formatura, c.r.a.z.y., cursinho, faculdade, estágio e as únicas mudanças palpáveis são duas: agora temos carta, taking risks com o carro da família e admitimos escutar música pop sem grandes problemas. Pra terminar bem o ciclo: madonna, justin timberlake e lady gaga estão sim no seu e no meu ipod.
Eu paro no estágio e nos gostos musicais porque é aonde estamos agora. E mais: eu paro no estágio porque eu não sei se eu aceito essa cartilha pré-fabricada. É como se todos os velhos do mundo virassem pra mim e dissessem que não tem mais surpresa alguma. Tudo bem, pode até ser verdade. Mas eu prefiro acreditar que não.
Você entende?! Eu tenho 1000 kg nas minhas costas. Tenho duas mãos também. E não vai ser o tempo, o acaso, a predestinação ou qualquer explicação patética que tenta ordenar caminhos diferentes que vão conseguir margear o meu pragmatismo – ou eu posso seguir essa cartilha ou eu posso rasgá-la.
Se eu quero passar pela sua vida, que seja pra tirar os seus pés do chão. E se você tem a pretensão de ter algum papel na minha, que seja pra me trazer de volta.

Ponteiros

E no relógio tantas voltas se deram,
que agora,
minha camisa volta suja de sangue.

Nas trincheiras do demasiado,
cantei aquela última estrofe,
lembrei de seu adeus,
senti teu carinho.

E meninos sonham,
acreditam e se arrepiam
entre torres e espadas.
Caem e desfilam entre naipes,
aprendem a sensação de voar,
dançam como nunca depois farão.

Mas o cuco bate incessante.
E, então, se cai e o choro já não é permitido.
Nem mais em sonhos a realidade inexistia,
As torres, em espinhos,
as espadas atravessando peito,
e o vermelho justificando a camisa.

Carinhos saudosos,
retratos vãos de memória infantil.
Cantando ritmo de saudade, os sambas de Nogueira.
Naipes queimados ao chão,
descendo de asa quebrada e fala comprimida,
o declive que se teve de encontrar um fim e
A cor já deixava o estado de mancha.

Lucas Galati