quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Mescla

Nos lençois, aquele cheiro.
Uma voz,
Maçã?
Estranho , odor de estrofe única... seria chuva?

Tecia, roçava, coçava a perna e eu queria dormir.
Aroma ao lado e a cabeça no frenesi daquele entrar de sonhos.
Travesseiro, dos tantos meus cheiros.
Ah! Sim . Esses sim, meus...

Mesclando entre reconhecimentos e o sentir daquele outrem,
Instintos puramente humanos,
Como quando se corta e chupa-se o sangue,
Como uma flor cheirando... intuitivo. Se sabe e só.
Sente, leve ... longe, lenços e lençóis.
Cheiros meus e o gostinho especial de dúvida,
Adentrando mundos,
Fazendo cócegas,
Reinventando,
Sendo feliz com o não sabendo. Vê se pode?
Era fácil a não espera.

Lucas Galati

domingo, 22 de novembro de 2009

Os passionais/ Luiz Tatit



"Já passamos muitas aflições
Também jogamos tudo ou nada
E não foi bom
Já nos despedimos, mas depois
Só sentimos pena de nós dois

Que somos assim sabemos já de cor
Lamentamos muito por não ter
Realizado algo maior
Ou bem melhor

Um volta pro outro quase todo mês
Quê que faz a gente fazer o que fez
Ambos atordoados com a estupidez
Eu você na vida juntos outra vez

Mas
Não dói não
Só vim
Para dar parabéns
Sim!
Parabéns para nós
Os passionais
Parabéns para nós
E aos demais
Que também como nós
Se vão, voltam atrás
Que assim como nós
Não têm paz
Parabéns para nós
Irracionais
Parabéns para nós
Sem rivais
Parabéns para nós
Parceiros infernais"

sábado, 21 de novembro de 2009

Conhecido

Por ontem ,
Remontei aqueles pedaços.
Por horas, as peças não se encaixavam.
Em instantes, aquele desespero comia a carne –
E não se notava .

Desacreditava, pois momentos sempre foram mais coloridos.
O sacrifício de arrancar um sorriso,
Retorcer um abraço,
Beijos e bocas fechadas.
Também não notava.

Uma hora,
Rasgam-se as folhas,
Taca-se tudo pro alto e
O homem inventa as desculpas.
Tenho listado...desculpas pragmáticas.
Vamos logo com isso!

O prazer uno:
Boa sorte, siga em frente...
Já cansei de olhar pra trás e
Sei de cor as cores dessa pintura,
Vermelhas, azuis, roxas.
Mentidas, vividas...
Cores mortas.

Lucas Galati

domingo, 15 de novembro de 2009

Vanessa Love, Lambe, Limbo



Visitavam-na apenas a noite. Quando muito, ela ainda torneava os cílios com um lápis preto dado pelo último namorado, quer dizer, pela última promessa. Quando ela ainda caia nelas, quando ainda acreditava que as fábulas podiam não ter cores, quando achava que a Lua podia ser algo além da iluminação natural de todo dia, além de um raio de sol noturno.
Exaltava os beiços no espelho de bolso e o batom riscava aquele pedaço de carne humana, invertendo a ordem. Sangue por fora, lábio para dentro. Ajeitava os cabelos castanhos tingidos recentemente com uma escova de cabo carcomido. A bota alta preta,micro saia e micro blusa também no estilo vermelho sangue. Sempre gostou de combinar e aquela cor era atrativa aos olhares masculinos. Com passos largos, o branco da Lua refletia na sua roupa, reavivava a feminilidade de todos os dias, mas hoje era diferente, se sentia bonita, mexia os cabelos levemente ondulados e estava feliz. A noite desejava ela e ela não via à hora de se entregar.
Puta! Chega aqui! Flertes, passadas de mal, risadas... Falsas, e o fim sempre aquele: 150 a hora, interessa? Entra no carro, o falo já erguido à sua frente... Sente vontade de ir embora, regado a certa tentação, gostava daquilo e sabia fazer bem. Cede e entre gemidos ecoa seu fingir durante aquela uma hora, segredo da esquina, anos de passos refletidos por Luas.
O dentro por tanto mostrado. O dentro do fora. Não foram picas que algum dia fizeram o coração dela bater mais rápido. Ela tinha uma vida fora aquela do teatro, do vermelho sangue, da rua. Era Vanessa, geminiana, 25 anos de idade, com vontade de prestar uma faculdade, conhecer Barcelona e alguém que a tirasse daquela vida. Enquanto o tempo a desacreditava, escrevia sua estória e guardava na poupança, remontaria o quebra cabeça, daria volta por cima e se mandaria para fora.
Não era um karma aquela vida, gostava do sexo, gostava de se sentir desejada, se protegia todas às vezes e já não bebia há muito tempo. Mas uma hora aquilo tudo cansa.Estar tão próximo do que muitas nunca nem viram, posições mirabolantes, gozos e tantos orgasmos. Músculos, pêlos, virilidade e entrega. Mas nunca um grito de amor, um sentir que a tirasse do teatro, que a fizesse cair do palco. Nunca. Eram cenas repetidas. Duas, três, quatro até oito vezes dependendo da noite. Na sua casa, nos motéis, em Audis, Blazers e Fuscas... Sete da manhã volta e sua casa com o gosto de madrugada ainda, os lençóis revirados, a cama quente da sua última trepada. Cansava. Adentrada, no limbo, lambendo a sua não satisfação e a masturbando diariamente com mais shows, cenas e mentiras. Mas tinha dinheiro na poupança e em outro lugar poderia ser conhecida apenas por Vanessa... Love, lambe, limbo – seu nome da noite cairia, seria esquecido e seu celular desativado. Uma nova vida, um recomeço, mas não ainda... Mais dinheiro, mais Luas, vermelhos, gemidos, novas temporadas de uma peça que parecia não ter mais fim.

Lucas Galati

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Blackout

Era uma noite inteira sem luz e o instante em que mais vida emanou de cada bueiro, beco e esquina da cidade. Uma cidade cantando aos escuros, aquela organização tão estável sendo fragmentada pelo caos. Por horas de um retorno ao passado, uma reação dos instintos, a permissão de ser humano.
Os namorados se entregando ao preto e cinza - já não se viam. Os desconhecidos trombando com as não faces. E riam. Os dançarinos das ruas entre seus diários passos bêbados encostavam e não ouviam xingos. Entrariam, agora, nos ônibus.
Os carros seguindo o ritmo dos passantes. Auto organização instintiva, o homem se permitiu ser animal por àquelas horas. Se deliciou ouvindo boa música aos olhos fechados. Teve aqueles que até deixaram uma lágrima cair. Ninguém veria.
Ficaram nus, se reuniram a família, deram abraços e riram um pouco mais. Era um país inteiro sem luz. Um país de Saramago... Estagnado, dos homens sem papéis. Deixaram seus cargos e foram as ruas tomar cervejas quentes, andaram descalços em plena Avenida Paulista. Acenaram pra Lua, alguns viram o coelho estampado no branco. Mandaram mensagens dizendo: “Queria estar ao seu lado”. Sentiram o lúdico tomando conta e subiram no sofá com as crianças, amanhã poderiam dar alguma desculpa no trabalho. Dormiram mais tarde, ou mais cedo.Foram, ao menos , horas diferentes...
Toda semana deveria existir um dia em que apagassem todas as luzes da cidade.

Lucas Galati

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Quando se diz,
Finda.
A mais pura ignorância , quem sabe...
Por muito acreditei no gesticular de mãos,
Hoje, fico mais com o beijo da mulher de uma vida toda,
Com os fogos em véspera de Ano Novo,
Com os peixes na beira do mar.

Dizendo se pinta,
Um quadro, aquela metade.
Aquarela e o seu lápis de olho,
As mãos de céu,
Pincelar de nuvens.
Seu olho azul mergulhando
Na palidez de minha íris...
Uma canção me escolhendo,
Uma vez, enfim.

Aos riscos , me completo.
Paradoxal,
Verborrágico e amante.
Amante do dramático,
Guerrilheiro do tempo,
Vazio no dentro.
Hoje, redescobrindo em seus azuis,
No olho de festa,
No jeito faceiro,
Um sentido mais sólido de vida.

Lucas Galati

sábado, 7 de novembro de 2009

Tarde quente

Um caminho limpo , de terra batida e árvores dos muitos sabores. Caminho livre, dos carros inexistindo, dos pássaros de Mia Couto trazendo o lusco fusco em uma caixinha dada a mim. Presente de despedida.
Uma tarde minha e do meu caminhar finalmente permitido. Passos que não traziam mais lágrimas, a poeira não vinha das pedras que antes caiam, não havia mais asfalto machucado nessa estória. A poeira, por fim, era baixa. Vinda do meu silêncio, do não saber mais questionado e mais exposto. Aquelas indagações de conseqüências mutáveis, transfigurando-se em cortes, em sangue. Por vezes, água e sorrisos. Mas de final sempre vermelho e gotinhas pulando em azul para fora do olho.
O meu não sei do final sabido. O duvidar daqueles que dentro carregam seguros passos e entendimentos, e que numa tarde, resolvem sair para levantar poeira e ver pássaros. O livro tinha acabado, estava quente lá fora e por alguns anos deixara de beijar o vento. O instante fez-se agora, em um não sei sabido.

Lucas Galati

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Querer

Não pedia muito. Queria por um dia, uma hora, talvez até meia, poder ser arrogante como alguém muito bonito, ter o nariz empinado dos atores, queria passar e ver que alguém me olhava, queria que me pegassem pelos braços e sem perguntar ganhasse um beijo, queria passar na rua e conhecer um desconhecido, ou talvez, ser conhecido por alguém desconhecido. Um texto só para mim, queria uma declaração anônima, mas sem flores ou carros espirrando papel prata. Por um dia gostaria de ter o passado, mas não ele todo, em momentos. Fragmentos saudosistas, um drible na realidade. Queria pensar a mesma coisa que alguém, queria um sonho comigo, queria um sexo recíproco e intenso, queria a Lua mais perto, poder viajar a hora que quisesse. Queria não ter compromissos, viver ao acaso, queria sair do cinema de mãos dadas, queria uma relação de anos, da mesma forma, um encontro único de um dia.Gozo imediato. Um trabalho reconhecido, dinheiro de forma prazerosa, queria não me irritar com o fora, queria poder acalmar o dentro. Queria um mergulho de cachoeira e depois sentir o vento no cabelo, um secador natural. Queria ser sincero, e as vezes, mais mentiroso. Queria um lugar inóspito com alguém querido, queria goles de segurança, certezas em terrenos movediços, queria vontades ditas, desejos saciados e mais sonhos, queria conhecer outros quereres, uma vez ter de me adaptar com o diferente, com outro corpo. De alguém que valesse a pena. Queria...

Lucas Galati

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Meus textos por outros lugares,
agora, se vão.
Calados,
em goles,
secretos
eu me faço inteiro.

Nesse labirinto dos tantos,
encontrei acalento e repouso,
um refúgio...
dali diz-se tudo e
já não sinto o não permitido.

Lucas Galati

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

E a cada dia, do todo instante, do não tido, do intacto ao palpável, do insoso,do temerário, do duvidoso, daquele esperar inquieto...chegava-se a mesma conclusão: o cansar da espécie humana. Cansaço...

Lucas Galati