segunda-feira, 9 de agosto de 2010

De tão pouco

Caro Alberto:

Por aqui, as pessoas ainda namoram em carros e as azaléias continuam com cor.
Ainda olham nos cantos dos olhos e procuram o mar para esquecer.
Aqui, vê-se a fé acesa numa ceia de Ano Novo e o companheiro enrolado em cobertores degustando latrina. Rezas ecoam em vazio.
Vácuo congruente, um acordo entre o dentro e o fora.
Uma balança equânime pesando o nada -
E ainda se paga caro por isso.

Desses arredores, há mães que correm atrás de filhos,
há filhos que choram a ausência de mães.
Alguns cantam para as gotas de chuvas,
outros declamam em cima de palcos.
Por aqui, dicotomias aglutinam:
Rico de alma tão pobre,
pobre que oferece o pouco obtido.
Neste lugar, pessoas acreditam em amores invisíveis,
outras enlouquecem.

Poucos conhecem a palavra escrita.
Já não se pensa,
se posta.
Por aqui, ser humano vira bicho,
anseia sangue,
suga em seco,
fede e não se olha.

Os cientistas afirmam retrocesso,
os poetas clamam por cinco reais.
Por aqui, já não se vive...
se vaga.

Neste lugar, nunca mais alguém olhou para cima

Lucas G.

Pout Pourri do Amor / Lu Lopes

"Eu vou te amar , você vai ver.
Só não vale economizar amor para se proteger.

Já cresci , sem querer.
Invisível movimento .

O amor está escrito,
não nas folhas de papel.

Repare
Repare,
já te escrevi um livro
são letrinhas redondinhas.

Os olhos escrevem sem querer,
para quem vier ler em sliêncio.

Eu vou te amar , você vai ver.
Só não vale economizar amor para se proteger".

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Fone de ouvido

Era ação diária. Te tirava da minha bolsa e colocava nos ouvidos. As vezes, você me fazia chorar; em outras, minhas pernas não se aguentavam de tanta vontade de dançar. Em noites de lua cheia, você ouvia meus segredos, dando-me os sussurros em doses exatas, numa precisão que escorria em gozo perfeito.
Teve dias que te coloquei apenas para ouvir um outrem. Nem percebia você ali, sua função era basicamente repercutir ,em afagos e risadas, as intenções do outro que tanto me dizia.
Muitas vezes, você me pintou, fez eu me sentir dentro de um filme da década de 20 ou me impulsionou numa atitude almodovariana. Em contrapartida, já fez eu esquecer. Numa sinergia, em um fluxo constante de interno e externo, de música e corpo, do certo e do descabido.
Você também já fez eu lembrar. Memórias de não saber, das mentiras transformadas em grandes verdades. Primeiros amores. Graças ao seu som, eu cultivei instantes e escrevi cartas.
Por você, dei ritmo aos meus passos, pulei paralelepípedos e consegui dar 360° em um poste. Com você, voltei a ser criança; não tive vergonha e ganhei um beijo. Engolido pelas ruas da Augusta, consternado em um sonho juvenil. Você me deu a boa música, fez eu personificar divas e criou minha tatuagem.
Por som, choro, metáforas, ereções e flertes, assumo o trabalho cumprido.Tudo que me entregou por eu apenas ter te tirado da bolsa. Não gosta de escuridão?
De fato, na luz, você reluziu, marcou e muniu com cuidado e apreço os instantes de minha vida.

Lucas G.