domingo, 26 de abril de 2009

Pulo

E se fez o instante junto ao som daquela última palavra pronunciada.
Aos berros, o tempo e a arritmia, os impulsos absorvidos em uma direção oposta,
Preconizavam uma normalidade fatalmente anormal – vista ao longe e entendida por batidas e securas, por enclaves e fissuras. Por não haver aonde se equilibrar.

Entender, ação vislumbrada em trajetos arrogantes de um alguém , que pelo visto, queria apenas o diferente. E o teve.
Porém, a inconstância só aumentou e o menino já não sabia a diferença entre tristeza e felicidade. Transitando na especificidade da palavra vinda de sua língua e só. Saudades.
Quantas saudades.
Os cacoetes do relógio trouxeram junto lástimas, mudanças e incertezas. E elas não param, aquele monte de areia queria apenas ser destoado por outra tonalidade, ter o cheiro de um outro corpo, poder contar estórias.
Mas o vento esbravejara em distintas direções e já não se sabe onde os grãos daquele mesmo monte, hoje, adormecem.
Quem sabe, em sonhos.
Em verborragias,
Talvez, em apaixonantes estrofes de um velho poeta.

Lucas G.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Niilismo admitido

Eu não tive daqueles dias que param. Estive longe das cenas dos filmes românticos, do suor gotejando no paletó em busca da pessoa amada, do telefonema inesperado, da mensagem criativa, da proposta de emprego certeira, ou mesmo, daquela veemência em conseguir afirmar uma profissão. Sou desinteressante, escasso e altamente paliativo.
Não faço as coisas que gosto, desisto em tentar algo possível, sou incapaz em pensar no futuro. Está nublado, é nublado, sempre foi nublado, logo, para que pensar? Das indecisões ao esclarecimento efêmero num copo de cachaça no final da semana, onde a alteridade salta aos olhos e parece que viu sentido ao mundo. Daí, eclodem promessas, fluem os desejos,até se escreve os compromissos para o dia seguinte. Outros ares, outras pessoas, outros olhares, vestir uma camisa vermelha, dar uma volta no parque, ir ao teatro, fazer yoga – longa lista.
Dos desenfreados devaneios, o dia amanhece apenas com a dor de cabeça e a dúvida: Quanta bosta falei na noite passada? Um gole de Coca junto à força dos pensamentos existencialistas. “Você disse sua essência.” “A bebida aflorou aquilo que você queria há muito dizer.” Um auto convencimento infame e de curta duração. Grande bosta, sou um bosta. Cagado, eu sou um cagado. Soa melhor.
Nessa premissa, continuo no meu dia ainda nublado, sem perspectivas e pior, sem meus goles destilados, pois o estômago embrulha só de pensar no gosto da boca nesta manhã. Ai! O edredom parece chamar e a preguiça imobilizava-me ao pensar em pegar o carro e ir para a universidade. Cada dia com melhores artimanhas, me vence na primeira tentativa.
E os dias que param, lá do começo, não chegam. Pelo contrário, tornam-se aqueles de céu preto intermináveis, acabo vidrado no movimento das asas dos ratos voadores, deixando meu legado pelos vinte minutos sentados numa cadeira velha em frente a uma máquina barulhenta. Os livros ganham um ácaro a mais a cada dia, meu armário , uma camisa amassada socada ao fundo da primeira prateleira.
Como solução, o sofá com a proteção florida contra as unhas da cachorra, assentam-me numa posição relativamente satisfatória. Ligo a televisão e fico no entendimento daqueles todos que ou fazem o mesmo que eu , ou sentem o que aqui descrevo e se calam. Tenho preguiça de viver e aliviado em conseguir dizer isso.

Lucas G.

A uma ausência




"Sinto-me, sem sentir, todo abrasado

No rigoroso fogo que me alenta

O mal que me consome me sustenta,

O bem que me entretém me dá cuidado.


Ando sem me mover, falo calado,

O que mais perto vejo se me ausenta,

E o que estou sem ver mais me atormenta;

Alegro-me de ver-me atormentado,


Choro no mesmo ponto em que me rio,

No mor risco me anima a confiança

Do que menos se espera estou mais certo.


Mas, se de confiado desconfio,

É porque, entre os receios da mudança,

Ando perdido em mim como em deserto."


(Fênix Renascida, Gregório de Matos, 1716)

terça-feira, 21 de abril de 2009

Empírico

Quando a escrita me falha, salta o nó na garganta e os venenos liláceos ocupam a atenção. Em resposta, talvez, a uma estúpida beleza. A ingenuidade? Melhor, a fugacidade de passos de areia. De passos na areia.
Abrir mão do trânsito dos desconhecidos, para pupilas nos cantos dos olhos. Grandes e retorcidas.
Adentro o silêncio, desnudo em espasmos , desenho pontilhado, mas dessa vez a tesoura já não reconhece direções e, em ziguezagues, desfaz-se o traçado pré estabelecido.

Vulgarizo aquilo que não sei.
Evidencio confiança dos poros.
Pareço, assemelho e esvaio.
Em goles secos,
Na demagogia de uma vida vã, em que bocejos pausam sentenças e metamorfoses demonizam o que já foi. O saudoso envelhecido, o que se era, o que se foi.

Lascivo, o corte rente da unha pelo dente poroso – decorrência do bruxismo.
Emerge, o azedo do primeiro dia da semana e o redundante ciclo social.
Alegra, o bater despercebido de dentro e a sensação de completude. Certa e fosca.
Agride, a distância e a incerteza de estar sangrando em cortes fundos ou cicatrizando aqueles antigos.E nada se pode fazer. Não se olha para trás, pois já foi dito. Exposto e entendido.

Pois se entendido, explícito.
-Ordinário vivido -
Se entendido,
conclusivo.
E crível.

Eu nunca estive tão feliz e tão pequeno.

Lucas G.

domingo, 12 de abril de 2009

Desvio?


Desinteresse traduzo em covardia imaculada.
Já fui entendido em palavras de sangue, uma tradução virtual quando já não se tem mais tempo. Baixeza inóspita e ,o pior de tudo, indiferente.
Dá preguiça querer entender. O sono bate quando se encanta com algum trejeito, quando a certeza evidencia que algo dali pode sublimar, e sair vivo .E belo. Visível.Roxo.

A facilidade da errônea interpretação, um buquê, o singelo artifício. Mas o peito já não se abre da mesma forma e cansou a posição, a mão debaixo do travesseiro extirpa.
Intransitivo, metódico, descrente, crédulo e juvenil. Uma costura diária,um longo cobertor, trabalho de mestre. De seus lineares dentes tirarei aquilo que você me permitir e dos brancos relâmpagos que clarearem o céu, a certeza de onde estou caminhando.


Lucas G.