sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Dona Cila/ Maria Gadú

"De todo o amor que eu tenho
Metade foi tu que me deu
Salvando minh`alma da vida
Sorrindo e fazendo o meu eu

Se queres partir ir embora
Me olha da onde estiver
Que eu vou te mostrar que eu to pronta
Me colha madura do pé

Salve, salve essa nega
Que axé ela tem
Te carrego no colo e te dou minha mão
Minha vida depende só do teu encanto
Cila pode ir tranquila
Teu rebanho tá pronto


Teu olho que brilha e não para
Tuas mãos de fazer tudo e até
A vida que chamo de minha
Neguinha, te encontro na fé

Me mostre um caminho agora
Um jeito de estar sem você
O apego não quer ir embora
Diaxo, ele tem que querer

Ó meu pai do céu, limpe tudo aí
Vai chegar a rainha
Precisando dormir
Quando ela chegar
Tu me faça um favor
Dê um banto a ela, que ela me benze aonde eu for

O fardo pesado que levas
Desagua na força que tens
Teu lar é no reino divino
Limpinho cheirando alecrim"

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Dia Branco/ Geraldo Azevedo

"Se você vier
Pro que der e vier
Comigo...

Eu lhe prometo o sol
Se hoje o sol sair
Ou a chuva...

Se a chuva cair
Se você vier
Até onde a gente chegar
Numa praça
Na beira do mar
Num pedaço de qualquer lugar...

Nesse dia branco
Se branco ele for
Esse tanto
Esse canto de amor
Oh! oh! oh...

Se você quiser e vier
Pro que der e vier
Comigo

Se você vier
Pro que der e vier
Comigo...

Eu lhe prometo o sol
Se hoje o sol sair
Ou a chuva...
Se a chuva cair

Se você vier
Até onde a gente chegar
Numa praça
Na beira do mar
Num pedaço de qualquer lugar...

E nesse dia branco
Se branco ele for
Esse canto
Esse tão grande amor
Grande amor...

Se você quiser e vier
Pro que der e vier
Comigo

Comigo, comigo."

domingo, 25 de outubro de 2009



Guardei água de rio em uma garrafinha. Em segredo. Passavam os dias e eu ia tomando. Cada dia algumas gotinhas a mais. Pois te digo, aqui dentro está estranho. Tô tão grande. O rio levou os pensares constates, curou a ferida da alma e clareou um caminho. Me sinto enorme. Sossego vem em água de rio?

Mais um final de livro.

Tinha filhos, era casada, o ambiente em casa bastante harmônico, ao ponto de dar inveja a alguns membros da família e nunca ter precisado acender incenso. Trabalhava e no seu ramo, era bem sucedida. Como passatempo sempre teve seus livros. Uma biblioteca diversificada e uma gama de citações anotadas num caderninho guardado no criado-mudo.
Dizia sempre que os livros davam a chance de se pensar de outra forma, ser mais dura frente as adversidades, sentir-se mulher, ter orgulho do todo construído. Gostava de rever as ações tomadas, refletir. Adorava desafios. E este ela já esperava. Repetia-se sempre, tinha se habituado a essa barreira - o livro da vez estava próximo ao final.
O coração a boca esperando a última página, as linhas já passavam mais rápidas, despercebia os detalhes, queria terminar, uma conclusão naquilo que há semanas vinha se entretendo. As mãos tremiam, as unhas eram arrancadas em sintonia ao terminar de cada parágrafo.
Fim, pronto. Sabia o final da estória, um bom livro, podia agora descansar e dormir até mais um dia de trabalho, mais tarefas, poder usar o blazer novo que comprara em promoção, ver seu computador, tomar o café na padaria, o mesmo ônibus, o trânsito que no dia seguinte enfrentaria.
Fecha os olhos, o coração era sentido na boca, nos dedos das mãos, nos braços. As batidas a atrapalhavam e confundiam seus pensamentos. Começava a suar, mexia seus pés em movimento constante, algo a incomodava. A gola do pijama? Tinha feito xixi antes de dormir? O ronco do seu marido? Nada disso acontecia. Por que tanto movimento? Chega, não quero mais, posso descer?
Tudo de novo, era o final de um livro.
Pensava na sua vida. Nos amores antigos, na vida de colégio, a entrada da faculdade. A primeira gravidez, a segunda. O primeiro sexo sem camisinha. A formatura. Seu primeiro beijo. O casamento. Cada pedaçinho da sua vida ligava-se ao fechar de um livro. Mais suor... Tinham sido tantos, tantos enredos, tantas outras estórias. Diferentes, por vezes, mas conexas ao mesmo tempo. Travestia-se num personagem em algum dia, já duvidara de si mesma em outro, já se perdera tantas vezes dentro de si - levanta e troca de pijama.
Uma vida sempre muito certa. Regrada, com um começo clássico e um término previsível, ao estilo americano. Piegas, talvez. Nunca havia se questionado se era, de fato, feliz. Ou o que seria isso? Não invejava ninguém, não queria ser diferente. Por outro lado, por que os tantos livros, aquela vasta biblioteca? Cultura? Não era. Todo final de livro era sempre a mesma sensação. Sempre uma noite mal dormida.
Via nos livros um pouquinho do que ela nunca teve. Do que não sabia. Tinha medo de se desconhecer, queria ações precisas, ao tempo certo e com sorriso no rosto. Não podia ter um dia ruim. Estava viva. Uma vida perfeita, filhos saudáveis e um marido decente. Não tinha problemas e se tinha via soluções pragmáticas.
Os livros, porém, davam seus problemas, abriam feridas, curavam outras. Os livros a questionavam, inquietavam suas noites. Pois então, por que lia? Seria ela uma contraventora? Uma subversiva. Queria ela ir contra corrente? Contra a idéia de perfeição? Talvez, uma sádica? Louca por autoflagelação e masoquismo. Não lia por cultura e sabia disso. Não sabia quando esse hábito tinha se iniciado, mas agora, já era tarde para pensar nisso. O relógio marcava três e meia da manhã e mais um dia estava por vir. Ônibus, café, passos, teclas, sorrisos...
Não conseguia dormir. Ela tinha desenhado sua estória, porém seria esta a vida que queria? Seria mais feliz de outra forma? O que era ser feliz? Quem ela era? Suor e o lençol já saindo da cama por tantas viradas de corpo.


Naquela noite, ela não dormiu. Acordou e foi direto ao seu trabalho. Fez as mesmas tarefas, cansada, perturbada e com o coração a boca. Tomou seu café no mesmo lugar, digitou as mesmas teclas, conversou com as mesmas pessoas e com seu marido da mesma forma, deu um beijo de boa noite em seus filhos e quando deitou em sua cama, abriu um novo livro.

Lucas Galati.

sábado, 24 de outubro de 2009

Razões

E as palavras seguindo sempre aqueles dois caminhos: a dificuldade em dizer e a facilidade de não ser entendido. Tudo o que aqui escrevo são reflexos de instantes, são respostas sucintas de uma vida sendo descoberta. Não busco verdades, nunca tive pretensão de me fazer entender, de ouvir que o mesmo ocorria com outrem.
Todos os textos são espelhos de uma mutação humana. Inconstante, brinco nas afirmações, nego o antes certo, confundo o errado, crio sentidos, inverto a ordem. Não sou um, sou os tantos, às vezes, os poucos que faz do passar dos dias algo a ser pensado, discutido e valorizado.
Descobri um dos maiores prazeres com o “emgoles ácidos”, entendi o que era a escrita pra mim e quão bem ela me fazia. Uma forma de tratamento pessoal, de reavaliar decisões tomadas, uma autocrítica constante, uma forma de descobrimento paulatino e gustativo.
Jamais desconfiei o poder das palavras, jamais pensei que outros poderiam se reconhecer em meus escritos. Por outro lado, também não imaginava que um blog poderia ser a forma perfeita de acariciar o ego de alguns, de irritar outros, de perpetuar algo não querido, de afunilar até não se ver outras saídas, outros temas, outras escritas.
Eu entreguei meu ácido a muitos, porém acabei sendo definhado por ele. Acabei acreditando numa vida de duas portas, endossando minhas repetições, anulando outros caminhos. Reafirmei demais um inexistente corrosivo e me perdi dentro de acentos , formalidades e metáforas.
Não penso mudanças, apenas se meus textos são instantes e pensamentos tão pessoais, prefiro deixar marcado um questionamento por muito evitado. Engoli meu ácido e me portei acreditando em apenas duas saídas, quando na realidade, a vida chacoalhava e cuspia a diversidade em minha cara. Não posso e não quero mudar o que aqui escrevo, mas de fato, é de suma importância anunciar o cansaço. Um corpo fervendo em angústia,perdido em unhas roídas e cacoetes. Cansado e absorto em meio ao ácido de meus goles.

Lucas Galati

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Desconhecido conhecer

Reconhecido está,
De um jeito desconhecido
Do aquilo
Que sempre se achava,
Mas nunca se era.

Teatro e aplausos,
Mágico de facetas e o às de copas
Em punho.
Apresentação de circo com
O de dentro.
Baderna, murmúrio...
Desapego em dança.

Aquela não era a pessoa que
, um dia,
Olhos viram,
Refletiram – credo,
Afeto.
Olhos fechados em amor.

Fins de semana virão,
Anos passarão,
Dias , horas
E aqueles minutos de sangue.
Mar e lua, conexos naquele instante,
Um refletindo o outro e a
Intensa vontade do não esquecer.
O lembrar daquela primeira pessoa,
Que hoje some.
Também em dias, em horas,
Em braços de outros.

Vulto, cócegas, vago.
Em pó de borracha, permaneço.
Já não se faz idéia o quão fundo a marca fica,
Em silêncio,
escondida nos sorrisos e no reverter
daqueles sonhos.

A marca és segredo,
Sangra em angústia,
Reluzindo as maiores fraquezas e inseguranças.

Ao fim, certo algo fica.
Não era aquela pessoa que havia marcado,
Se sonhado,
Traduzido ou lacrimejado.
Um alguém desconhecia,
Disforme,
Perdido. Vão...
Em inconstância e pequenas doses de felicidade.
Pois assim seja,
Passo à metáfora,
Ao não dito,
Ao evitado.
Passo a esquecer,
Sou esquecido,
Na mais forte memória:
O não dito,
Aquele sempre calado.

Feliz seja,
Em seus toques pelo mundo,
Sem nunca ter provado gosto de terra,
Carinho de rio,
Ou marola de mar.
Sem nunca,
Em não toques,
Evita-se,
Um brinde à ti,
para sempre.

Lucas Galati

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A noite desce/ Fernando Pessoa


"A noite desce, o calor soçobra um pouco,
Estou lúcido como se nunca tivesse pensado
E tivesse raiz, ligação direta com a terra
Não esta espécie de ligação de sentido secundário observado à noite.
À noite quando me separo das cousas,
E m'aproximo das estrelas ou constelações distantes —
Erro: porque o distante não é o próximo,
E aproximá-lo é enganar-me."

Passos despercebidos

Lajota fria e passos.
Um homem ao chão,
Passos frios e
humanos.

O homem e o chão,
Frieza em passos,
Lajotas humanas.

Homem-chão,
Caía,
Aos passos,
Despercebido às lajotas –
Humanas.

Chão humano,
Feito de homem,
Feito os passantes,
Imóvel como a fria lajota
Daquela rua paulistana.

Lucas Galati.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Novas músicas

E eram repetições não intencionais,
o pensar embriagado:
Será que ainda se deixa as gotas de vodca amanhecida
pela realidade de um capítulo lido?

Irreal premissa,
desfigurando entre avessos e
toques da maneira mais simples.
O não permitido, mas desejado,
dentro da cabeça
titubeando variáveis conformistas.

Porém, a música aumentou,
a dança tinha ganhado novas cores,
um ritmo desconhecido,
ludibriante. Quem sabe,
inexistente.

Gritar aos ventos:
Não pense! Entre nessa roda,
pintemos outras cores dessa estória em preto e branco.
Cópias cada vez mais sincrônicas de realidade minha.
Transviada ou errônea?
Acalentava. De fato, acalentava e
dava vontade de cantar.
Mais uma vez até o não saber,
até o sol raiar.



Lucas Galati

domingo, 18 de outubro de 2009

Sem título

Não.
não seria.
O fato.
De fato.

As cores
e a luz por outros lados,
Recaia em doses esparsas
a face tombada.

Evitar, por fim, seria.
Adiar... melhor assim.
Deixar pra dentro da cabeça,
até ela gritar de novo.
Em breve,
amanhã,
até o dia em que entenda a razão disso tudo
e se possa dormir.

Lucas Galati

Cume



E cada vez mais, quero dizer o quanto quero.
O por quanto errado, mas desejável. Apenas.
O nunca é deixado de lado,
lugar tem-se, agora, aquela uma vez.
Uma vez de intenções explicitamente diferentes,
opostas. Antagônicas.
Mas,uma vez existente. Após todo aquele tempo, uma estória. Una.
Desenhos diferentes, momento qualquer - cócegas a ti. Junto ao instante, especial - as fotos.
Sim , as fotos!

Dito se está -
inanição induzida,
desejos em altas doses,
embriaguez e críticas
e toda aquela ansiedade.
Crises, o toque martelado na cabeça. Mais críticas.

E não sairia. Bastava, agora, silêncio. Pois era tudo
velado, era engessado. Tudo imutável.
Já não seria o da foto e sabia. Seria eu sempre o porta retrato,
sustentando frustrações e os tantos outros instantes.
E não sendo , por fim e enfim, viu-se o tudo refletido numa imagem dentro do que jamais deixara de ser...
aquele porta retrato em cima da estante

Lucas Galati

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Não há título que explique...

Hoje, foi além de tudo o que eu mais esperava. Foi melhor, veio sentido nas veias, no palpitar sentido em ponta de dedos, no toque, na fala retorcida. Foi daquelas definições que chegam bem próximo ao perfeito. Ao perfeito, hoje, palpável. À mim.
Suas palavras sincronizavam junto a um olhar jamais visto. Minha verdade desnudando em frente a fumaças de cigarros. Minhas e suas. Numa simplicidade e recolhimento que não sabia existir.
Trouxe-me acalento em doses de água de mar, de frasquinho de cor transparente. Trouxe sossego e ajuda a um alguém que tanto necessitava. Ser ouvido, melhor, ser entendido.
Tarefas ardilosas a dualidade de (des)conhecer. Porém, para mim cada letra têm força, encravando em frases e acentos que penetram e , de fato, marcam. Não sabia.
Marcam como facas, como livros, lágrimas. Expus a ti todo meu passado não vivido, toda minha ânsia de mudar, esquecer, transformar, finalmente ponto em sinal de fim.
E só contigo, recolhido em seus braços pude ter certeza que conseguiria. Tinha já trilhado caminhos, mas acreditei poder ,mais uma vez, fazer de tudo pó de borracha e reconstruir mais um erro.
Mais um ? Dessa vez não. Faz-me mal, dessa droga fiz meu fim e tracei começos importantes. Sem a droga, agora, trilho minha vida. Rasgo em grito a dor de vício, porém ao seu lado e para sempre.
Vendo-me antes de tudo.E de qualquer outro. Acreditando em algo que já denegria.rascunhava.
Enegrecia.
Em mim.À mim. Junto a ti. Assim pra sempre!
Obrigado , muito obrigado...

Lucas Galati

Desejo amanhecido

Era uma rosa, um pedaço de um pipa, ou talvez, uma carta. Era quadrado de bordas corroídas, há muito guardado ali estava.
Já não sabia desde quando não fitava. Dentro da cabeça, a memória e a certeza da forma.Pensado tinha se tanto, que o novo parecia inexistir.
De dentro, o caderno ressecava aquele pedaço. Agora, já amarelo. Memórias esquecidas, esfriadas, cor de antigo. De um passado tido importante. Descabido. Transviado e , de fato, existente.
Se a rosa, chega-se perto e cheira. Se o pedaço de pipa, acaricia lembrando a textura do tecido. Se uma carta, lê-se as palavras inscritas em grafite já bastante apagado.
E então, da rosa vê-se o sangue , sobrara um espinho.
Do pedaço de pipa, o doído levar do vento, baforada levando longe aquilo que permanecia: chão, pedra e folhas de papel chorado.
Das cartas, os escritos mais internos, de um eu , na época, tão desconhecido. As palavras intragáveis da situação que não se fazia.
Ao fechar o caderno, onde dentro , talvez, a pipa, quem sabe a carta, ou mesmo a rosa... via-se que sempre um adendo existia. Sempre um detalhe que culminava em sangue. Dentro ou fora, vermelho ou pulsante. De uma estória repetida, inventada, recontada.
De um conto inexistente, de adendos, pudores e enfins.
Nada havia mudado.
O caderno volta pro mesmo lugar, as memórias aquecidas e uma lágrima rasgando a face já bastante enrijecida do alguém que nunca chegou perto do desejo amanhecido. Do pensar permanente. De pétalas, sangue, farpas e escritos. Seus e sóis. Abrindo caminho para romances futuristas e contos de fadas.

Lucas Galati

sábado, 10 de outubro de 2009

O Prédio, O Tédio e o Menino Cego/ Santiago Nazarian/ página 55

" Ninguém controlava. Lá embaixo o mar se agitava e chegava até lá em cima... seu som e seu cheiro, pizzas amanhecidas, anoitecidas. Alguém notava? Provavelmente não , porque eram meninos que moravam na Praia. O cheiro já fazia parte. Mas o Mestiço provavelmente sim, porque era isso que ele mais sentia, lá de cima: o cheiro de mar, lá embaixo, indicando a que altitude estavam. Não era só a música do mar que ouvia, era a música da música. Diversão.Maçãs do amor e paqueras noturnas, em doses diminutas, verdade, porque aquela noite ainda não era temporada. Não eram férias, nem final de semana, para os outros que não passavam por greves escolares. Então a diversão que ocorria era só entre gente desocupada, ou gente descompromissada, ou gente muito perdida, ou muito desajustada aos climas e às estações. Mas afinal, é de se esperar que qualquer um dentro de um livro seja, por que as estações passam e os personagens ficam como flores secas, distantes de suas verdadeiras naturezas, que já fluíram, já esvaíram, já se foram com seus leitores. E por isso suas histórias são mais interessantes, são mais diferentes, mais inusitadas. A história dos loucos só pode ser lida pelos sãos."

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A espera de um fim

Esperando olhar e se ser.
Cercear um momento,
fazer dele mais segundos,
minutos,
tempos ou novas fases.

Pisar ao chão gelado,
encontrar os pés,
sentir os corpos protegidos em lençois,
em avessos tão similares,
meu sexo e teu hálito.

Dar a mão em vertical,
inesperado impulso
e feito naquele mesmo instante podado.

União de estórias,
de outros instantes
cuspindo novas linhas,
apagando refluxos,
invertendo arestas,
achando outras vértices
do sem final.

Quero um andar seguro,
olhar de que agora se pode,
se deve e se faz.
Incerta certeza, porém galgada.
De fato , enfim.
Olhar de espera,
ansiando o sem fim.

Lucas G.

domingo, 4 de outubro de 2009

Os dígitos/ Kléber Albuquerque

"Os dígitos vermelhos do rádio-relógio
Ainda marcam a hora exata em que você saiu da minnha vida
A chuva fria, o automóvel, o olhar de falsa loura
O adeus como um bombom de goma arábica na boca

Ter de sair assim do seu caminho
Ter de agora virar "amiguinho"
Você não sabe eu estou tão sozinho

Os olhos vermelhos de assistir TV
Na madrugada em que você saiu da minha vida
O vídeo, o telefone, o faz, o diempax, a pizza gelada
A janela escancarada respingando céu na roupa
Olhando asfalto como se fosse praia
Conversando com as samambaias
(elas entendem os de minha laia)

Ter de sair assim do seu caminho
Ter de agora virar "amiguinho"
Você não sabe eu estou tão sozinho

Tudo ficou tão quieto
Os gatos do vizinho, as goteiras do teto
Tudo ficou tão chato
Que eu já não sei, que eu já não sei
Tudo ficou tão chato
Banho de porta aberta, deitar na cama de sapatos
Tudo ficou tão quieto, tudo ficou tão quieto
Tudo ficou tão chato

O mundo agora está tão absurdo
Desabafei com um criado-mudo
(ele concorda comigo em quase tudo)

Ter de sair assim do seu caminho
Ter de agora virar "amiguinho"
Você não sabe eu estou tão sozinho

Tudo ficou tão quieto
Os gatos do vizinho, as goteiras do teto
Tudo ficou tão chato
Que eu já não sei, que eu já não sei
Tudo ficou tão chato
Banho de porta aberta, deitar na cama de sapatos
Tudo ficou tão quieto, tudo ficou tão quieto
Tudo ficou tão chato"