terça-feira, 13 de outubro de 2009

Desejo amanhecido

Era uma rosa, um pedaço de um pipa, ou talvez, uma carta. Era quadrado de bordas corroídas, há muito guardado ali estava.
Já não sabia desde quando não fitava. Dentro da cabeça, a memória e a certeza da forma.Pensado tinha se tanto, que o novo parecia inexistir.
De dentro, o caderno ressecava aquele pedaço. Agora, já amarelo. Memórias esquecidas, esfriadas, cor de antigo. De um passado tido importante. Descabido. Transviado e , de fato, existente.
Se a rosa, chega-se perto e cheira. Se o pedaço de pipa, acaricia lembrando a textura do tecido. Se uma carta, lê-se as palavras inscritas em grafite já bastante apagado.
E então, da rosa vê-se o sangue , sobrara um espinho.
Do pedaço de pipa, o doído levar do vento, baforada levando longe aquilo que permanecia: chão, pedra e folhas de papel chorado.
Das cartas, os escritos mais internos, de um eu , na época, tão desconhecido. As palavras intragáveis da situação que não se fazia.
Ao fechar o caderno, onde dentro , talvez, a pipa, quem sabe a carta, ou mesmo a rosa... via-se que sempre um adendo existia. Sempre um detalhe que culminava em sangue. Dentro ou fora, vermelho ou pulsante. De uma estória repetida, inventada, recontada.
De um conto inexistente, de adendos, pudores e enfins.
Nada havia mudado.
O caderno volta pro mesmo lugar, as memórias aquecidas e uma lágrima rasgando a face já bastante enrijecida do alguém que nunca chegou perto do desejo amanhecido. Do pensar permanente. De pétalas, sangue, farpas e escritos. Seus e sóis. Abrindo caminho para romances futuristas e contos de fadas.

Lucas Galati

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