sábado, 10 de outubro de 2009

O Prédio, O Tédio e o Menino Cego/ Santiago Nazarian/ página 55

" Ninguém controlava. Lá embaixo o mar se agitava e chegava até lá em cima... seu som e seu cheiro, pizzas amanhecidas, anoitecidas. Alguém notava? Provavelmente não , porque eram meninos que moravam na Praia. O cheiro já fazia parte. Mas o Mestiço provavelmente sim, porque era isso que ele mais sentia, lá de cima: o cheiro de mar, lá embaixo, indicando a que altitude estavam. Não era só a música do mar que ouvia, era a música da música. Diversão.Maçãs do amor e paqueras noturnas, em doses diminutas, verdade, porque aquela noite ainda não era temporada. Não eram férias, nem final de semana, para os outros que não passavam por greves escolares. Então a diversão que ocorria era só entre gente desocupada, ou gente descompromissada, ou gente muito perdida, ou muito desajustada aos climas e às estações. Mas afinal, é de se esperar que qualquer um dentro de um livro seja, por que as estações passam e os personagens ficam como flores secas, distantes de suas verdadeiras naturezas, que já fluíram, já esvaíram, já se foram com seus leitores. E por isso suas histórias são mais interessantes, são mais diferentes, mais inusitadas. A história dos loucos só pode ser lida pelos sãos."

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