domingo, 28 de março de 2010

Cabeça inimiga

E , então, retorno. Não ainda com aquela certeza encabeçada de que tudo daqui pra frente se ordenará diferente. De que foi uma fase, uma maré de azar que se seguiu depois daquele ano passado tão incrível.
De seguro, carrego que muita coisa foi tirada dessa hecatombe que completa aniversário de dois meses dia seis de abril.
Ensinamentos que vieram em ondas de Gardenal e ansiolítico. Período em que nada abstraia, o pensamento desembocava em um lugar só e dava vontade de mexer a perna embaixo da mesa.
A resposta era sempre aquela, teria de ser aquela: Vocês não entendem!
Os achismos e uma gama de opiniões que gotejavam desespero e davam vontade de desmaiar. Um corpo cansado de uma mente inimiga.
E, disso tudo,relativizei preceitos, ou melhor, dogmas que sempre carreguei em minha vida. As memoráveis lembranças de Clarice na época do colégio, aquele gostinho tão saboroso de começar uma nova fase, de provar de um desconhecido e começar a se encontrar nele. Lembrava aquela brincadeira da caixa, um objeto escondido e com perguntas alguém no final arremata dizendo: É UMA CANETA??
À mim, chegou o momento, em que na caixa nem eu sabia o que se escondia e que as perguntas passaram a cortar, dar sudorese e crise de desespero.
Nada era tão bonito. Não existia o amor perfeito. E minhas lágrimas não findariam depois daquela primeira vez.
Jamais poderia dizer que Clarice errou ao querer ser aquela pergunta, mas isso não seria para mim. A certeza pautava minha vida, a apuração até chegar a verdade máxima, querer o incontestável. Dormir abraçado com ele e nunca titubear em afastá-lo do dia dia.
Mas , as vezes, tudo é reordenado. A vida vira de ponta cabeça e , como mostrou Buñuel, não se pode sair da sala até que tudo volte a posição inicial.
Hoje, já consigo dormir. Aqueles sonhos voltaram. Consigo sorrir e os cortes das tantas perguntas estão cicatrizando. Faço desta passagem por aqui , uma forma de galgar respostas as minhas perguntas mais escondidas. Talvez, não podendo ser uma pergunta,porém estar apto a encontrar várias respostas. Coloridas, recíprocas e minhas.

Lucas Galati

domingo, 14 de março de 2010

Fechado para reparos

Ainda é muito estranho. E o tudo muito mais complicado. Aliás, não apenas o tudo , mas doses cavalares de tanto...Excessos que invertem, ao acaso. Eu tremo agora e já não sei do que tenho medo.E não quero. Enrijeço, desconsidero, mas tem sido tão forte. E cansa... e dói.
A cabeça doente, o coração na boca e a dúvida aniquilando os poucos momentos de tranquilidade. Até uma prova , um veredito,até não sentir água saindo do corpo, ou quem sabe, parar de tremer.
Ter proteção, um aconchego, um entender que deixe a inconstância e se faça presente. Deixar de lado o cultivo de fotografias e lembranças do preto e branco. Ocupar o tempo, fazer uma viagem, namorar.
Faço-me decrépito, um resto de sujeira apodrecendo no canto esquerdo do espelho. Que de tão perto , que por tanto tempo, perdeu o reflexo, e se faz de espelho. Amorfo , numa postura fatídica, num achar despercebido.Quase arrogante. Mas pessoas passam e olham.
Alguns nem ligam, outros nem sabem que existe. Mas há sempre aqueles que farão o possível para limpar e fazer o espelho voltar a ter o mesmo brilho.
Espremer o parasita até sair o sangue, até abrir as patas e dilacerá-lo com uma faca.
Os seres humanos e seus sadismos.
Saudade daquilo que gosto, do cheiro de chuva, do esfregar de mãos dentro de três cobertores num dia de muito frio, uma lareira, o prazer de um ônibus vazio.
Saudade do meu reflexo, do meu espelho. A minha sujeira enegreceu tudo o que lutei para ver refletido. Me fez sombra, vulto. E tento limpar, mas tem sido tão difícil.

E aquela velha estória da madeira e dos pregos não sai de minha cabeça. Tudo estaria cumprido?