tag:blogger.com,1999:blog-72709275921753865922024-02-07T17:46:51.593-08:00Em goles ácidos" A sombra que me move, também me ilumina"Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.comBlogger260125tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-80272074652651639332011-02-14T17:48:00.000-08:002011-04-19T08:50:55.251-07:00<a href="http://www.diadorando.blogspot.com/">www.diadorando.wordpress.com</a>Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-35272593310562204052011-01-04T09:07:00.000-08:002011-01-04T16:15:23.194-08:00FimAinda lembro o dia que decidi criá-lo. O medo de colocar o primeiro texto. De receber críticas fervorosas, de não ser entendido, de perceber que as palavras não saiam da forma que eu queria.<br />No entanto, afirmo que o objetivo durante todos os três anos foi de essência totalmente terapêutica. O emgolesacidos trouxe para mim um entendimento da minha escrita, dos meus sentimentos e fortaleceu uma identidade, no começo altamente juvenil.<br />O blog surgiu numa fase de grandes mudanças, num limiar entre a criança e o adolescente.Hoje, o finalizo carregando grandes conquistas internas. Conquistas que optei por dividir com as pessoas e que, por mais embaraçoso que tenha sido, fui ouvido e até confortei muita gente.<br />No emgolesacidos eu falei de amor, decepção e sofrimento. Eu esbravejei, discordei e escrevi textos pautados naquilo que vivia. Nas grandes dúvidas, em pequenos momentos de felicidade. O blog mostrou para mim que as palavras te tornam. Elas te fazem permeando um interno tão seu e o cuspindo em forma de crônicas, poemas e cartas.<br />Em minha vida, ainda prematura, eu engoli ácido, já me cortaram fundo, eu cultivei o sofrimento. Não obstante, me sinto feliz em dizer que transformei essa amargura em arte.Numa arte tão pessoal. Minhas palavras, por mais sulfúricas que tenham sido, foram as provas de que vi a vida. E que amei. E que sofri.E amei de novo. Enlouqueci. Cai. E levantei.<br />Engulo ácido e cuspo palavras. Esse foi o blog e a sua função em minha vida.<br />Hoje, o finalizo. Deixo de aqui escrever, pois talvez, me sinta invadido. Não pelas pessoas que o visitam, mas pelas lembranças que ele me traz. Os inícios sempre tão meus, o romantismo em doses extremas, a dor latente em casa letrinha aqui lida.<br />Ele traz memórias de menino. E não que as queira esquecer,muito pelo contrário, elas são parte de minha escrita, porém a vontade de começar uma nova fase. Uma nova maneira , já não tão ácida. Ou talvez, mais ácida ainda. Num outro lugar ou quem sabe aqui mesmo. Não anularei o blog, todos teremos acesso. Contudo, chegou o momento de escrever por outras bandas, em outros estilos. Chegou o momento de aprimorar, ler mais, conhecer novos autores e me entender nessa arte tão mutável.<br />Aos que acessaram agradeço cada texto lido. Aos comentários afirmo já ter estancado algumas lágrimas. O emgolesacidos trouxe para mim o entendimento de que nunca deixarei de escrever. De me colocar no papel, de ser mulher, de ser fone de ouvido ou experimentar uma noite de orgia.<br />O blog trouxe um novo vício, a minha forma de ser e um jeito tão especial de me entender. Não sendo um , mas tantos. Querendo ser pergunta, alguns dias com cara mais de resposta. Me ver descendo a Rua Augusta ou cantando em cima de uma espaçonave. Sofrendo de amor ou relembrando o passado.<br />No blog eu fui em doses máximas - eu criei meu ácido e ainda não achei minha cura. Espero nunca encontrá-la.<br /><br />Aos interessados passo o Facebook, de tal forma, os mantenho informado quando o novo blog sair:<br />Lucas Galati<br /><br />Obrigado por tudo!<br />"A SOMBRA QUE ME MOVE TAMBÉM ME ILUMINA"<br /><br />Lucas G.Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-79314583608518337652011-01-03T17:31:00.000-08:002011-01-04T05:54:35.073-08:00E a dicotomia me enojava...<br />Não sou.<br />A divisão daquelas partes dava gastura. Eu vomitei.<br />O que eu estava pensando?<br />Não há culpados. Existem apenas realidade e folhas secas. Sangue e quadros. Empirismo e boas lembranças.<br />Incongruência.<br />Onde estaria eu com minha cabeça? Ressucitar semânticas de período tão vago. E o continuar sendo na postura do nunca ter sido.<br />Prefiro o estamento de semblante, de vulto, de autor.<br />Não há culpados.<br />Uma boa travessia!<br />Em nuncas e enfins...<br /><br />Lucas G.Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-48784230604150350712011-01-01T15:23:00.000-08:002011-01-01T15:41:43.312-08:00VivoSua amiga não se aguentava de tanta felicidade. Ainda na cabeça de menina , o Ano Novo tinha ganho aspecto de nuvens, de uma viagem sem certeza de volta, no jeito doce. Aquela noite tinha começado com uma promessa de seu namorado e terminado em suspiro de muher - forte , intenso e úmido.<br />Não era mais importante se seu namorado passava na rua e olhava para outras garotas, se já tinha beijado homens, se era magro ou se comia de boca aberta:<br />- Sabe quando a vergonha desbanca o posto de inconstestável e dali surge o anseio de finamente se ter. De sentir se ter.<br />Sabe quando à tarde passa despercebida. Vem a chuva, vem os pássaros, vem a Lua e você não quis ver com seus olhos, e sim, apenas dos olhos de uma pessoa. O seu tempo refletia em instantes da inanição mais ativa.<br />Sabe quando passam a mão pelo seu corpo, sem o toque de lábios, e você se excita.Uma ardência das intensidades mais humanas, pois não precisa mais esconder. Vocês permanecerão escondidos, ele entrando em você. Você guardando os maiores segredos dele.<br />Sabe quando você esquece da virada de Ano e se joga em um rio frio. Apenas para sentir frio. Ele vai ao seu lado, pois já não sabe se entender sozinho. Sem vícios ou simplicidades transviadas, mas de forma orgânica. De atitude meramente trivial.<br />Sabe quando você deixou um pouco de você em cima da cama, nele, no banho, em sonhos e ouviu alguém sussurar: Fica tranquila! Eu te amo!<br /><br />Não. O seu amigo não sabia.<br /><br />Lucas G.Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-67258271656782798282010-12-27T14:16:00.000-08:002010-12-28T14:20:08.367-08:00ShelterIsto aqui não é carta, poesia , prosa ou conto com um final surpreendente. Aqui escrevo por um dia de fraqueza, um dia em que assumo a primeira pessoa, um dia em que não conseguiria colocar sentimentos meus em nomes de outrens. Não seria personagem feminino, não teria nome bíblico, não deixaria figuras de linguagem falarem por mim. Hoje, eu não conseguiria.<br /><br />Um louco. Para muitos apenas artíficio, uma auto proteção ou algo para se contar numa roda de cerveja e passar por companheiro divertido. Para alguns, uma constante;não se lembrar, cair, quebrar alguma parte do corpo ou abraçar a privada enquanto amigos riem do lado de fora do banheiro.<br /><br />Muitas vezes, sentenciam-me essa definição. A insanidade cuspida aos quatro ventos, a não moral, o desprendimento como resposta para um entendimento pifio e doloroso. E já com preguiça, passei a concordar e gostar disso.<br /><br />Passaria eu a discordar de sinais tão expressivos de loucura? Criador de histórias - Certamente, nunca acredite na palavra de alguém que já passou a noite dentro de um carro na frente da casa do amado . Bipolaridade - Ainda há alguma dúvida? Vou de ápices de felicidade à pensamentos suicidas, um quebra cabeça kafkaniano. Infatilidade -Pois é, ainda acredito em livros. Claustrofóbico - ambientes fechados somente em casos de bebedeiras extremas. Por essas e tantas outras, evidencia-se que louco , em meu caso, é apenas apelido. Além dessas , acrescentaria a definição de importância regente ao meu eu, hoje, plenamente exaltado. Ironia - Sim, releia todo o parágrafo.<br /><p>Loucura deveria ser artigo de luxo. E em meu caso, a loucura permeia atitudes altamente conhecidas, tanto para mim como para os poucos que, algum dia, tiveram o mínimo contato com ela. Não dormi na porta de amados, não sou de quebrar a cabeça e utilizo Kafka apenas para inspiração ou estudos acadêmicos.</p><p>No entanto, após um final de semana de fimes percebo que já consegui ter o gostinho da insanidade. Mas assumo que não cheguei perto de um final que eu julgasse de filme. Não convenci alguém com minhas palavras ou tive uma batida em minha porta da pessoa esperada ,em lágrimas, na calada da noite. </p><p>Afirmo que já senti o cheirinho gostoso de cartas, a esperança sensacional em lê-las, seguida após o fim do último parágrafo de um: "Puxa, quase lá! Quem sabe mais algumas provocações e não consigo o que quero?" E o que eu tanto quero encontro apenas em filmes. Por mais clichê que esta realidade seja, finais de filmes me suprem. E se no real , estes não existem. Que puta vida de merda. </p><p>Prefiro que os casos de uma semana que julgam me conhecer apontem o dedo em minha cara e continuem a me chamar de louco. Porra, muito mais legal. Ganho destaque e a auto estima vai a mil. Sem finais de filme, até o THE CHOSEN ONE perde a graça. E olha que esse há muito anda sem sal. </p><p>A permanência do trato frígido, a manutenção da filosofia do "foi bom enquanto durou" ou "o que tive com você nunca terei novamente" são enfadonhos e dignos de descrença. </p><p>Gente, originialidade nas relações amorosas. Se permitam a loucura. Vamos deixar "Querelle" no chão, fazer de Almodóvar um mero retratista do cotidiano humano. Vamos amar "pelicularmente" - entenderam a sacada?</p><p>Aqui vos fala, um jovem que pouco fez. Porém, alguém que consegue algum tipo de felicidade com ácidas doses de egocentrismo, um jovem que consegue deixar o medo de lado com algumas vodcas, alguém que ainda sabe chorar por amor. </p><p>O bode é tamanho, eu sei. Porra,fica mais fácil apertar o play - você chora da mesma forma e nunca com uma história sua. Conheço tanta gente assim...</p><p>Eu ainda sou chamado de louco </p><p>Lucas Galati</p><p></p>Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-85146363160001780562010-12-23T10:57:00.000-08:002011-01-01T15:12:12.315-08:00Almas Gêmeas / Luiz TatitSe faço uma cara carente<br />É melhor me mimar<br />Se tenho expressão de doente<br />É melhor me curar<br />Se a minha cabeça está quente<br />Cê deve assoprar<br />E mesmo proposta indecente<br />Convém aceitar<br />Cê tem que cuidar<br />Cê tem que<br />Cê tem que evitar<br />Que a esta altura da vida<br />Eu despenque<br />Você me aparece sempre<br />Na hora certa<br />Você é a dependência<br />Que me liberta<br />E conserta<br /><br /><br />Se estou com frio<br />Você sabe o que é bom<br />Pra aquecer<br />Se estou vazio<br />Você vem preencher<br />Se desconfio<br />Você fala de um jeito<br />Que eu volto a crer<br />Se me arrepio<br />Você chega a tremer<br />Quando inicio<br />Você lá na frente<br />Põe fim, conclui!<br />Se sou vadio<br />Me substitui<br />Nunca uma dupla<br />Foi tão homogênea<br />Almas gêmeas!<br /><br /><br />Se faço uma cara de fome<br />Vem me alimentar<br />Se vivo morrendo de sede<br />É melhor me molhar<br />Se digo sempre a mesma coisa<br />É bom concordar<br />Se pensa ir embora pra sempre<br />É só me levar<br />Por onde cê for<br />Eu sigo<br />Não posso viver<br />Muito tempo<br />Sozinho comigo<br />Você é o chão seguro<br />Em que eu piso<br />Você é o que ainda resta<br />Do meu juízo<br />É isso<br /><br /><br />(a incerteza de um achado/ achado incerto/ certo não acho/ se ache certo/acerto)Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-5142278630177384662010-12-21T15:41:00.001-08:002010-12-21T15:49:44.646-08:00Pingente de ouroFaço de ti, peça minha<div>Escapulário de Deus tão próprio. </div><div>Relíquias daquelas que adentram mar escuro, </div><div>já não pedindo voltar. </div><div>Ressuscito histórias e as prendo em pingente de ouro.</div><div><br /></div><div>Sou maré,</div><div>conheço o som de ressaca.</div><div>Sou peça de mar e carrego em relicário contos antigos, </div><div>primeiros encontros. </div><div>De marinheiros pegos por Iemanjá, presos pela areia, </div><div>escondidos em parágrafos de Amado. </div><div><br /></div><div>Escrevo por navegantes de pele escura e tatuagem no pescoço.</div><div>Homens que de tanta água se perderam em terra. </div><div>Homens que desconhecem leitura e,em tempo livre,</div><div> fazem poema de frente para a Lua </div><div><br /></div><div>Homens de mulheres infindas, mas de única amada - Amor de terra distante. </div><div>Marinheiros que apenas desconhecem o caminho de voltar. </div><div>Vida de mar, retorno em samba. Em choro. </div><div>Assim são seus poemas, </div><div>Assim são suas marolas,</div><div>Assim são esses homens do cais.</div><div>Assim sou eu:</div><div>maré, </div><div>ressaca e amor. </div><div><br /></div><div>Lucas G.</div><div>(poema dedicado à Constance Sotos, amiga que entendeu minha necessidade de solidão)</div>Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-7400753693353259262010-12-09T18:03:00.000-08:002010-12-09T18:11:09.428-08:00E tenho dito...<span class="Apple-style-span" style="font-family: tahoma, 'Trebuchet MS', lucida, helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; ">Texto de Drauzio Varella na Folha do dia 4/12<br /><br /><strong>Violência Contra Homossexuais</strong><br /><br />A HOMOSSEXUALIDADE é uma ilha cercada de ignorância por todos os lados. Nesse sentido, não existe aspecto do comportamento humano que se lhe compare.<br />Não há descrição de civilização alguma, de qualquer época, que não faça referência a mulheres e a homens homossexuais. Apesar de tal constatação, esse comportamento ainda é chamado de antinatural.<br /><br />Os que assim o julgam partem do princípio de que a natureza (leia-se Deus) criou os órgãos sexuais para a procriação; portanto, qualquer relacionamento que não envolva pênis e vagina vai contra ela (ou Ele).<br /><br />Se partirmos de princípio tão frágil, como justificar a prática de sexo anal entre heterossexuais? E o sexo oral? E o beijo na boca? Deus não teria criado a boca para comer e a língua para articular palavras?<br /><br />Se a homossexualidade fosse apenas uma perversão humana, não seria encontrada em outros animais. Desde o início do século 20, no entanto, ela tem sido descrita em grande variedade de invertebrados e em vertebrados, como répteis, pássaros e mamíferos.<br /><br />Em alguma fase da vida de virtualmente todas as espécies de pássaros, ocorrem interações homossexuais que, pelo menos entre os machos, ocasionalmente terminam em orgasmo e ejaculação.<br /><br />Comportamento homossexual foi documentado em fêmeas e machos de ao menos 71 espécies de mamíferos, incluindo ratos, camundongos, hamsters, cobaias, coelhos, porcos-espinhos, cães, gatos, cabritos, gado, porcos, antílopes, carneiros, macacos e até leões, os reis da selva.<br /><br />A homossexualidade entre primatas não humanos está fartamente documentada na literatura científica. Já em 1914, Hamilton publicou no "Journal of Animal Behaviour" um estudo sobre as tendências sexuais em macacos e babuínos, no qual descreveu intercursos com contato vaginal entre as fêmeas e penetração anal entre os machos dessas espécies. Em 1917, Kempf relatou observações semelhantes.<br /><br />Masturbação mútua e penetração anal estão no repertório sexual de todos os primatas já estudados, inclusive bonobos e chimpanzés, nossos parentes mais próximos.<br /><br />Considerar contra a natureza as práticas homossexuais da espécie humana é ignorar todo o conhecimento adquirido pelos etologistas em mais de um século de pesquisas.<br /><br />Os que se sentem pessoalmente ofendidos pela existência de homossexuais talvez imaginem que eles escolheram pertencer a essa minoria por mero capricho. Quer dizer, num belo dia, pensaram: eu poderia ser heterossexual, mas, como sou sem-vergonha, prefiro me relacionar com pessoas do mesmo sexo.<br /><br />Não sejamos ridículos; quem escolheria a homossexualidade se pudesse ser como a maioria dominante? Se a vida já é dura para os heterossexuais, imagine para os outros.<br />A sexualidade não admite opções, simplesmente se impõe. Podemos controlar nosso comportamento; o desejo, jamais. O desejo brota da alma humana, indomável como a água que despenca da cachoeira.<br /><br />Mais antiga do que a roda, a homossexualidade é tão legítima e inevitável quanto a heterossexualidade. Reprimi-la é ato de violência que deve ser punido de forma exemplar, como alguns países o fazem com o racismo.<br /><br />Os que se sentem ultrajados pela presença de homossexuais que procurem no âmago das próprias inclinações sexuais as razões para justificar o ultraje. Ao contrário dos conturbados e inseguros, mulheres e homens em paz com a sexualidade pessoal aceitam a alheia com respeito e naturalidade.<br /><br />Negar a pessoas do mesmo sexo permissão para viverem em uniões estáveis com os mesmos direitos das uniões heterossexuais é uma imposição abusiva que vai contra os princípios mais elementares de justiça social.<br /><br />Os pastores de almas que se opõem ao casamento entre homossexuais têm o direito de recomendar a seus rebanhos que não o façam, mas não podem ser nazistas a ponto de pretender impor sua vontade aos mais esclarecidos.<br /><br />Afinal, caro leitor, a menos que suas noites sejam atormentadas por fantasias sexuais inconfessáveis, que diferença faz se a colega de escritório é apaixonada por uma mulher? Se o vizinho dorme com outro homem? Se, ao morrer, o apartamento dele será herdado por um sobrinho ou pelo companheiro com quem viveu por 30 anos?</span>Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-47489803529863780652010-11-29T17:52:00.000-08:002010-11-29T18:20:37.249-08:00E se...E se te quero, por favor, não pense,<div>Pois quando sofro, regurgito verbos. </div><div><br /></div><div>Não ataco, colho flores e olho céu.</div><div>Do todo pequeno, cresci de recortes. </div><div>Sou partes, </div><div>sou apenas, contudos e entatos.</div><div><br /></div><div>Não faço sentido, </div><div>eu blasfemo. </div><div>Finjo não olhar, </div><div>e no escuro, escorro vermelho.</div><div><br /></div><div>E se te falta, </div><div>sonho o toque, </div><div>recolho-me, </div><div>ululo e </div><div>prometo preencher suas ranhuras, </div><div>reescrever seus parágrafos. </div><div>Arrancar sorrisos. Nunca meus. </div><div><br /></div><div>E se te choro,</div><div>afago cartas em copos de pinga, </div><div>recolho véus</div><div>e gasto aquarelas. </div><div><br /></div><div>E se te minto, </div><div>faço por não ter noites a pensar, </div><div>faço incompreendido, </div><div>faço pelo prazer de desconfiar, </div><div>faço por poesias e redundâncias. </div><div>Meu hedonismo, sua juventude. </div><div><br /></div><div>E se te corto, </div><div>abro um caderno velho </div><div>e escrevo que o melhor amor é aquele que nunca existiu. </div><div><br /></div><div>E se te tenho...</div><div><br /></div><div>Lucas G. </div><div> </div><div> </div>Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-8290114297266734452010-11-28T19:03:00.000-08:002010-11-28T19:07:59.933-08:00Tabacaria / Fernando PessoaNão sou nada.<br />Nunca serei nada.<br />Não posso querer ser nada.<br />À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.<br /><br />Janelas do meu quarto,<br />Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é<br />(E se soubessem quem é, o que saberiam?),<br />Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,<br />Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,<br />Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,<br />Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,<br />Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,<br />Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.<br /><br />Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.<br />Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,<br />E não tivesse mais irmandade com as coisas<br />Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua<br />A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada<br />De dentro da minha cabeça,<br />E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.<br /><br />Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.<br />Estou hoje dividido entre a lealdade que devo<br />À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,<br />E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.<br /><br />Falhei em tudo.<br />Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.<br />A aprendizagem que me deram,<br />Desci dela pela janela das traseiras da casa.<br />Fui até ao campo com grandes propósitos.<br />Mas lá encontrei só ervas e árvores,<br />E quando havia gente era igual à outra.<br />Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?<br /><br />Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?<br />Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!<br />E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!<br />Gênio? Neste momento<br />Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,<br />E a história não marcará, quem sabe?, nem um,<br />Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.<br />Não, não creio em mim.<br />Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!<br />Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?<br />Não, nem em mim...<br />Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo<br />Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?<br />Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -<br />Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,<br />E quem sabe se realizáveis,<br />Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?<br />O mundo é para quem nasce para o conquistar<br />E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.<br />Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.<br />Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,<br />Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.<br />Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,<br />Ainda que não more nela;<br />Serei sempre o que não nasceu para isso;<br />Serei sempre só o que tinha qualidades;<br />Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,<br />E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,<br />E ouviu a voz de Deus num poço tapado.<br />Crer em mim? Não, nem em nada.<br />Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente<br />O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,<br />E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.<br />Escravos cardíacos das estrelas,<br />Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;<br />Mas acordamos e ele é opaco,<br />Levantamo-nos e ele é alheio,<br />Saímos de casa e ele é a terra inteira,<br />Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.<br /><br />(Come chocolates, pequena;<br />Come chocolates!<br />Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.<br />Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.<br />Come, pequena suja, come!<br />Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!<br />Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,<br />Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)<br /><br />Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei<br />A caligrafia rápida destes versos,<br />Pórtico partido para o Impossível.<br />Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,<br />Nobre ao menos no gesto largo com que atiro<br />A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,<br />E fico em casa sem camisa.<br /><br />(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,<br />Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,<br />Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,<br />Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,<br />Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,<br />Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,<br />Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -<br />Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!<br />Meu coração é um balde despejado.<br />Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco<br />A mim mesmo e não encontro nada.<br />Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.<br />Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,<br />Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,<br />Vejo os cães que também existem,<br />E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,<br />E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)<br /><br />Vivi, estudei, amei e até cri,<br />E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.<br />Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,<br />E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses<br />(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);<br />Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo<br />E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente<br /><br />Fiz de mim o que não soube<br />E o que podia fazer de mim não o fiz.<br />O dominó que vesti era errado.<br />Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.<br />Quando quis tirar a máscara,<br />Estava pegada à cara.<br />Quando a tirei e me vi ao espelho,<br />Já tinha envelhecido.<br />Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.<br />Deitei fora a máscara e dormi no vestiário<br />Como um cão tolerado pela gerência<br />Por ser inofensivo<br />E vou escrever esta história para provar que sou sublime.<br /><br />Essência musical dos meus versos inúteis,<br />Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,<br />E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,<br />Calcando aos pés a consciência de estar existindo,<br />Como um tapete em que um bêbado tropeça<br />Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.<br /><br />Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.<br />Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada<br />E com o desconforto da alma mal-entendendo.<br />Ele morrerá e eu morrerei.<br />Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.<br />A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.<br />Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,<br />E a língua em que foram escritos os versos.<br />Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.<br />Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente<br />Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,<br /><br />Sempre uma coisa defronte da outra,<br />Sempre uma coisa tão inútil como a outra,<br />Sempre o impossível tão estúpido como o real,<br />Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,<br />Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.<br /><br />Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)<br />E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.<br />Semiergo-me enérgico, convencido, humano,<br />E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.<br /><br />Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los<br />E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.<br />Sigo o fumo como uma rota própria,<br />E gozo, num momento sensitivo e competente,<br />A libertação de todas as especulações<br />E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.<br /><br />Depois deito-me para trás na cadeira<br />E continuo fumando.<br />Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.<br /><br />(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira<br />Talvez fosse feliz.)<br />Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.<br />O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).<br />Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.<br />(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)<br />Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.<br />Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo<br />Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.<br /><br />Álvaro de Campos, 15-1-1928<br /><br />Indicação preciosa, caro Bruno Flaixer!Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-12966901315670278102010-11-22T17:33:00.000-08:002010-11-22T18:12:57.570-08:00Páginas friasDesconheceu metáforas por <br />anos de ardência. <br />Em cima da cama, <br />debaixo da mesa,<br />em perfumes e canetas.<br />Em nuvens. <br />No inverno.<br /><br />Um corpo. <br />Seu corpo. <br />As mãos, apunhalavam carícias. <br />No peito, o desejo de uma vida longe de tudo. <br />Longe de si. <br />Daquilo.<br />Do que seria. <br /><br />O passado ainda não tinha feito páginas e <br />ele ainda não tinha chorado. <br />Rascunhava um texto,<br />indolor, de página única e seu personagem já não tinha nome.<br /><br />Da primeira palavra, escorreu amor de forma juvenil. <br />Pelo recente, desconhecia sentimentos. <br />E se deliciou nas suspeitas, <br />num bombear silencioso, <br />em lembranças de luas e jangadas. <br /><br />Início errado?<br />O pequeno começava apenas a acreditar. <br />Das corridas, um gozo. <br />De porradas, sua forma. <br />De poemas, os sonhos. <br /><br />Ele amava assim. <br />Um romântico em potencial, <br />um sádico ou um louco?<br /><br />E por anos, calado permaneceu. <br />Numa noite, deu um nome. <br />Especificou aquilo que ele tão pouco sabia. <br /><br />Na tarde seguinte, <br />a porra esfriava em cima da pia, <br />os textos haviam sido cortados, <br />os poemas, agora, em sátiras. <br />E o tão pequeno ainda não entendia.<br />E , talvez, nunca entendeu. <br /><br />Vieram anos, <br />e ele murmurou já em ápices de insanidade:<br />seria o vento lá fora? Ou a janela sempre esteve fechada?<br />Não se via. <br />Se culpava. <br />Tinha aprendido a amar assim. <br /><br />No vigente, <br />descobriu que o distante novamente se aproxima. <br />O inexistente tão tácito no recente, <br />fará vida em confins. Em corpos de outras terras.<br />Tentará outro nome. <br /><br />E o pequeno sempre rasurado, terminará em folhas frias. <br />Buscando alguém que possa colocar cor no grafite de tempos antigos. <br /><br /> <br />Lucas G.Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-90035915615405443122010-11-14T11:03:00.001-08:002010-11-15T06:41:47.747-08:00Armando e RogérioDo Armando ela tinha a companhia. Uma tarde no cinema, um café depois , quem sabe uma cerveja. Com ele, ela conseguia conversar sobre seus problemas financeiros, as crises na família e a vontade de ser mãe. <br />Ela falava de seus livros e ele de seu amor por carros. Ela reparava em mendigos e ele pulava poças. <br />Uma manhã no Ibirapuera, beijos na nuca e cafunés. Ao deixá-la em casa sempre seu celular tocava: "Boa noite querida! Durma bem, amanhã te ligo. <br />E Armando ligava. <br /><br /><br />Rogério a consternava. Dois anos mais novo e morava com os pais. A cama como a melhor poesia. Arquitetavam posições em ângulos sexualmente perfeitos. O tempo inexistia e o ápice era atingido todas as vezes.Em horas ou segundos. Sua boca, os pêlos de seu peito, ela tinha vontade de ter aquilo por dias. Semanas. Ela queria poder ligar, queria mandar mensagens ou passar tardes no Ibirapuera. <br />Mas Rogério sumia. <br />A conversa dos dois era feita de corpo, suor e altas dosagens alcóolicas. Denso o suficiente para quase esquecer preservativos. Intenso , percorria distâncias. Partindo sempre dela. Ela estudava horários, buscava alguma brecha, um resto de salário. <br />Ele desmarcava.<br /><br /><br />Armando e Rogério. A companhia de um, o sexo do outro. Ela: mulher formada, independente, de casa alugada e viagem planejada no final do ano. Ela: amante de coração infantil, vagava nas promessas de Rogério, se divertia com os comentários de Armando. Cada um, saciava uma particularidade, acalmava seu interno ainda tão imaturo. Não decidia e não pedia mudanças, vivia esperando mensagens de Rogério e acalentava as ligações de Armando. <br /><br /><br />Dessa forma, ela conseguia o status de menina-mulher. Uma auto aprovação, uma brincadeira feita por ela e com ela mesma, uma forma encontrada de se vangloriar dizendo ser adepta aos relacionamentos abertos. Ela não era.<br /><br /><br />Na aparência ou na arrogância. Na incerteza ou no orgasmo. Na completude ou no inato. Até que a morte os separe. <br /><br /><br />Ela já não sonhava com vestidos brancos. <br /><br />Lucas GalatiLucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-67071741286978358062010-11-10T09:56:00.000-08:002010-11-10T10:32:25.482-08:00Meu ladrão, o nunca.Desse todo tão pequeno,explorei garranchos de alta estatura. Já provei sabores de outras terras, fui atrás daquilo que não conhecia. Longe da alma de aventureiro e léguas das descrições de horóscopo. Sim, sagitariano e só. Do signo, característico apenas minha intransigência. Diria melhor, minha inconstância. No entanto, desde quando astros podem falar de mim. <br />Não satisfeito, caminho.<br />Relembrar, sangra<br />e quando perfura, <br />sofro. Sozinho. <br />Nesse caminho, me faço egocêntrico e consciente de meu escudo. Seria esse humano tão enfadonho em falar de seus próprios sentimentos? Seria niilista um jovem colecionador de nostalgias? Afirmo minhas pífias experiências, mas o que poderia eu escrever senão aquilo passado, o que tanto teria pra dizer aos outros senão que amo. Que sofro. E que, de certa forma , aprendi a dizer . Não por respostas, mas perguntando.<br /><br />Delimitar um começo? A primeira vez que ele me roubou tudo. Ele me roubou o Chico,o Tom e o Vinicius. Ele tirou todo o sabor de minha Clarice e me proibiu de ler Kafka. <br />Se aponto um final? O dia em que conseguir ter tudo isso de volta.<br /> <br />Crescer é se desconhecer. Cada dia um pouco mais. Deitar em sua cama já com os cabelos todos brancos e não ter resposta alguma. Não saber dizer se foi bom e sentir vontade de começar de novo. <br />A vida brinca com os sujeitos da vida. Cabe a nós entender que o tempo só finda abaixo da terra e que ser humano será sempre duvidar. <br />E que o final sempre se deu na palavra nunca. <br /> <br /><br />(texto dedicado a Juliana Yzumida que numa tarde relembrou um lado meu esquecido em asfalto)<br /> <br />Lucas G.Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-62989402850426600792010-11-07T11:42:00.000-08:002010-11-07T11:43:30.157-08:00Metade Oswaldo MontenegroQue a força do medo que tenho<br />Não me impeça de ver o que anseio<br /><br />Que a morte de tudo em que acredito<br />Não me tape os ouvidos e a boca<br />Porque metade de mim é o que eu grito<br />Mas a outra metade é silêncio.<br /><br />Que a música que ouço ao longe<br />Seja linda ainda que tristeza<br />Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada<br />Mesmo que distante<br />Porque metade de mim é partida<br />Mas a outra metade é saudade.<br /><br />Que as palavras que eu falo<br />Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor<br />Apenas respeitadas<br />Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos<br />Porque metade de mim é o que ouço<br />Mas a outra metade é o que calo.<br /><br />Que essa minha vontade de ir embora<br />Se transforme na calma e na paz que eu mereço<br />Que essa tensão que me corrói por dentro<br />Seja um dia recompensada<br />Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.<br /><br />Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.<br /><br />Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso<br />Que eu me lembro ter dado na infância<br />Por que metade de mim é a lembrança do que fui<br />A outra metade eu não sei.<br /><br />Que não seja preciso mais do que uma simples alegria<br />Pra me fazer aquietar o espírito<br />E que o teu silêncio me fale cada vez mais<br />Porque metade de mim é abrigo<br />Mas a outra metade é cansaço.<br /><br />Que a arte nos aponte uma resposta<br />Mesmo que ela não saiba<br />E que ninguém a tente complicar<br />Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer<br />Porque metade de mim é platéia<br />E a outra metade é canção.<br /><br />E que a minha loucura seja perdoada<br />Porque metade de mim é amor<br />E a outra metade também.Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-48058659653316549342010-11-07T10:31:00.000-08:002010-11-07T10:32:21.767-08:00NÃO SE MATE Carlos Drummond de AndradeCarlos, sossegue, o amor<br />é isso que você está vendo:<br />hoje beija, amanhã não beija,<br />depois de amanhã é domingo<br />e segunda-feira ninguém sabe<br />o que será.<br /><br />Inútil você resistir<br />ou mesmo suicidar-se.<br />Não se mate, oh não se mate,<br />reserve-se todo para<br />as bodas que ninguém sabe<br />quando virão,<br />se é que virão<br /><br />O amor, Carlos, você telúrico,<br />a noite passou em você,<br />e os recalques se sublimando,<br />lá dentro um barulho inefável,<br />rezas, vitrolas,<br />santos que se persignam,<br />anúncios do melhor sabão,<br />barulho que ninguém sabe<br />de quê, pra quê.<br /><br />Entretanto você caminha<br />melancólico e vertical.<br />Você é a palmeira, você é o grito<br />que ninguém ouviu no teatro<br />e as luzes todas se apagam.<br />O amor, no escuro, não, no claro,<br />é sempre triste, meu filho, Carlos,<br />mas não diga nada a ninguém,<br />ninguém sabe nem saberá.Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-70238417947841203652010-10-24T13:32:00.000-07:002010-10-25T03:59:49.986-07:00A noite(...)E só então entendi que histórias de amor não precisam de cavalos brancos, trilha sonora ou um conhecimento de anos. Elas podem durar instantes, estar permeadas por doses de álcool ou mesmo acontecerem dentro de uma balada. Elas são feitas pelo imprevisível e emaranhadas por uma sintonia da não explicação. São tácitas e palavras são falhas quando se tenta uma descrição. Elas acontecem em noites de quinta ou feriados prolongados. Elas ficam na cabeça e tem um gosto bom, pois viram capítulos. Registros eternos, documentação pessoal e altamente restrita. <br />Pela irrealidade, muitos desacreditam. À mim, faço tônico. Uma tarde de escrita, quem sabe. Relembrar carícias, beijos e suspiros, que mal há nisso? - simplesmente acordar e se ver bonito. <br />Que noite!<br /><br />Lucas G.Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-2022951656529671452010-10-20T19:22:00.000-07:002010-10-20T19:30:40.012-07:00Sem título ou LembrançasAntes de noites de sonho, <br />relembro a passagem retratada em simples instante. <br />Três almas que se entregaram a uma paixão visceral, <br />etérea, <br />três jovens que criaram uma fábula <br />e não imaginaram final. Seria perda de tempo. <br />E se tivessem o feito, não seria o que se prontifica.<br />Por isso, a estante expõe o instante, <br />para espantar lembranças ruins, <br />pesadelos<br />e refrescar a mente de todo o dia ou <br />,talvez, dormir coçando certezas.Quem sabe desta forma poder sonhar.<br /> <br />Na atual conjuntura, isso basta.<br /><br />Lucas G.Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-48164769831342035252010-10-17T11:46:00.000-07:002010-11-29T18:31:10.472-08:00Dia cinzaAquele marasmo voltava a cansar e se eu te dissesse , você não acreditaria: ao sair lá fora o dia estava cinza.<br />Cor aquela de um tom só, pesada, arqueava as costas e dava vontade de voltar pra cama. Com muito esforço, ainda consegui deitar por ali mesmo. Não queria o conforto, dar risadas teatrais ou beber uma cerveja. Queria um dia assim, queria estar deitado naquela posição. Queria sentir a espinha estranhando o gelado do concreto. Não queria pássaros coloridos, uma mão acariciando meu pêlo ou uma música ao fundo. Não queria ninguém de família, ou de relativa proximidade, queria olhar a cor e fazer dela responsável por qualquer devaneio.<br />Naquele dia eu não queria palavras humanas. Poderia vomitar frente a qualquer sinal de mimetismo descabido ou de uma falação a respeito de rodopios empíricos, quase sempre inexistentes.<br />Eu estava farto dessa necessidade e do dia cinza não haveria água, pomba ou gritos de criança que me tirasse daquele estado de inanição.<br />Eu degustava o momento. Sólido, aos poucos, controlava as dores de meu corpo após uma noite de balada, tinha esquecido o comentário ríspido do amigo que tentava impressionar o namorado e conseguia deturpar a face de meu maior engano - levantava a bandeira da auto proteção.<br />Na cabeça, apenas a insatisfação de ter que dar certo, a infelicidade do dia seguinte, em que novos relatórios esperavam para serem preenchidos. Eu estava cansado.<br />Seguir um contrafluxo teria seus desenganos?<br />Para ser estranho , você precisa de permissão.<br /><br />Havia me cansado até das noite de bebida. As mesmas pessoas, fazer aquele olhar na esperança de ser reconhecido. Na possibilidade de alguém te olhar e captar algum sinal de conectividade que não se baseie apenas em dentes bonitos , um corpo musculoso e uma calça de marca. Não querer chamar a atenção por razões que não vão além de um copo a mais de vodca.<br />Queria me sentir homem, queria alguém que sentisse sem pesares e grandes elocubrações.<br />Queria , uma vez, abraçar e me sentir protegido.<br />Mas não. Não naquele dia.Não naquele dia cinza. Ao me olhar no espelho, estava sem cor e não tinha a menor aptidão para reverter situações ou processos altamente definitivos.Estava longe de querer vermelhos, rosas ou azuis. <br />Propagaria em sinal de protesto. Até um dia que finalmente pudesse sentir que alguém , de fato, olhava pra mim e não para o meu copo de vodca.Uma pessoa que simplesmente não mandasse na manhã seguinte: "Desculpa! Estava muito bêbado! Você curtiu?". Alguém que não sumisse.<br />Esperava um dia que pudesse voltar a ter cor. <br /><br />Lucas G.Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-2575420677945717282010-09-19T18:15:00.000-07:002010-09-20T07:55:17.728-07:00Maria AlguémEla já havia chegado aos seus 70 anos. Carregava consigo uma bolsa de flor, andava com parcimônia e suas pintas começavam a criar pêlos. <br />Nas tardes quentes gostava de andar pela praça e jogar comida aos pombos, num estereótipo perfeito da terceira idade. <br />Tinha se casado, já criara seus filhos e tinha três netos. Nas tardes frias, gostava de sentir o arrepio ao entrar na piscina aquecida para aula de hidro.<br />Seu nome não importa. Quando viveu? Muito menos. Ela odiava especificações... Nome era apenas para os conhecidos e nostalgia deixava para roda de amigas no carteado de todas as quartas. <br />Em qualquer outra situação, se julgava Maria Alguém. Dessa forma, acreditava ser tão normal quanto o nome Maria, ao mesmo tempo se julgava diferente por se sentir viva, ter cabeça fresca, como gostava de dizer, e sentir já poder escrever um livro. Uma crônica. Talvez, uma estrofe. Era alguém. <br />Alguns dias mais Maria, outros com doses maiores de Alguém. Fato é que ela chegara ao posto de setentona em forma e saúde de ferro.<br />Essa Maria nunca tinha traído, nunca arriscou transar sem camisinha e nunca conseguiu ser moralista com os pequenos. Já deu cigarro para filho, escondido do pai. Já havia fumado um beck com a irmã mais nova. E chorava de dar risadas com os amigos de seu neto. Dormia ao fechar os olhos e nunca teve grandes abalos psicológicos.<br />Numa noite de muito frio, tinha reunido uma pesada munição de cobertores e se ajustava até encontrar a melhor posição para dormir. Deu um beijo em seu marido Alberto, que já roncava e , antes de apagar a luz, abriu a gaveta do criado mudo, tateou o fundo do móvel até encontrar um papel já bastante amassado. Ao abrí-lo, as lágrimas vazaram e teve de colocar o travesseiro na boca para os soluços não serem ouvidos. <br />Maria Alguém tinha um segredo. Algo nunca antes dito. Uma preciosidade em forma de papel. Terminou de ler tudo que ali estava escrito, beijou a folha e ,quando estava colocando de volta, sentiu algo em seu peito. O coração bateu uma , duas e na terceira cansou do movimento de toda uma vida e resolveu descansar e adormecer Maria.Maria não acordou mais. Dormiu com a carta ainda em suas mãos. <br />Alberto acordou e tomou um susto ao ver Maria toda fria. Ainda tentou chacoalhar, beijar, mas nada adiantou. Maria já dormia. Sono pesado, levado para o algum lugar ao som das últimas três batidas. Quando levantou e se preparava para avisar toda a família , viu a carta na mão da esposa. <br />Na frente, uma caneta de pena dizia: A minha Maria Alguém. Desenrolou com cuidado, pois o papel estava em péssimo estado. Seguia cada linha e a água cortava seus olhos, rachados pelo tempo. Era Maria gélida em sua frente ou tudo o que lia?<br /> <br />"Minha Maria, a sua voz por aqui ainda ficou. Todas as elocubrações regadas, agora, a cervejas americanas. Lembro ainda de nossos sonhos. E não esqueço de você me dizendo que o real amor se esconde".<br />Nos escondemos em armários, verborragias e suspiros. Nos resguardamos para nós mesmos.Apenas ali, intensos. Entrega por instantes. Demos formas a uma mentira já tão sólida. Sentimos gosto de verdade. De forma faceira, inconsequente e infantil.<br />Olho e não te vejo, meu amor. <br />Porque não veio comigo?<br />Do seu amado, <br />Antônio".<br /><br />Essa foi Maria. Sem nome e sem idade.Foi também sem forma, traçou duas vidas e morreu sendo ninguém aos braços. Morreu ao som de três batidas e Alberto remoendo toda a verdade. A certeza de que, ao longo de setenta anos, sua Maria era mais conhecida e tão mais incompleta. A certeza de que seu coração sossegava com as letras de Antônio. Com o gosto de saudade. Do pouco. Do efêmero. Que seu coração sossegava com o real amor.E não era ele. <br /><br />Antônio não foi ao enterro. <br /> <br />Lucas GalatiLucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-72687076115793723032010-09-15T19:35:00.000-07:002010-09-16T07:20:36.282-07:00O mar de AmadoLembro de pegar o saveiro quando a tarde ainda caía. De Seu Antônio contando as estórias dos sete metros de carne branca. Lembro de barbatanas costurando as marolas.Rápidos instantes cor de rosa.<br />Lembro do caminho até a praia e do cheiro de boas vindas do mar. Maconha e areia molhada. Lembro ter tirado uma foto. <br />Do pouco tempo na terra do olho discreto, fui atrás de caranguejos e nadei com sereias criadas; fiz de buracos na terra, cadeiras de vento. De uma despedida do Sol, um motivo para dar um abraço. Nessa viagem quase disse te amo e entrei em água de rio. Nadei com crianças que voltavam da escola, tomei cachaça da terra. <br />Corri na velocidade de trovões, escalei montanhas e cortei o pé.No pouco tempo , interpretei colorindo sentidos,pulsões e vontades. Fiz desenhos e algumas poesias. Dancei agarradinho e descobri a congada. <br />Pouco tempo foi este em terra de ninguém. De peito aberto e trejeitos tão inatos, de malícias ilusionistas, um malabarista de estrofes extinguindo um passado cinza e ganhando asa de gaivota - pose para fotografia. <br />A intensidade faz falta.Daquela forma. Hoje ganho arreio e tênis de lata. Sou cinza e dizem que desaprendi a chorar. A certeza apenas de um coração bombando hemácias pelas memórias.Pelo um antigo escondido em caderno amarelo.Vermelho. De vento. Amado. <br /><br />Lucas G. <br /><br />(texto feito após ler o livro Mar Morto de Jorge Amado)Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-67658578251455829952010-09-08T04:11:00.000-07:002010-09-08T07:17:27.571-07:00Sem títuloVocê ainda dirá que sou louco, <br />enquanto eu murmurar não saber. <br /><br />Saiba que feliz fico com a liberdade, <br />minha e sua. <br />Não tenho vontade de copiar passos ou <br />de reafirmar insólitas semelhanças. Já nada existe. <br /><br />Tendo o vazio, aprendo com as não escolhas. <br />E há muito não sofro. <br /><br />Estranho pensar nas guinadas dessa vida. <br />Quero apenas que se lembre de que nada sabia e que <br />desconhecendo , fizemos as mesmas escolhas!<br /><br />Lucas G.Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-87918993582626842562010-08-09T20:04:00.000-07:002010-08-09T20:41:59.895-07:00De tão poucoCaro Alberto:<br /><br />Por aqui, as pessoas ainda namoram em carros e as azaléias continuam com cor. <br />Ainda olham nos cantos dos olhos e procuram o mar para esquecer. <br />Aqui, vê-se a fé acesa numa ceia de Ano Novo e o companheiro enrolado em cobertores degustando latrina. Rezas ecoam em vazio. <br />Vácuo congruente, um acordo entre o dentro e o fora.<br />Uma balança equânime pesando o nada - <br />E ainda se paga caro por isso. <br /> <br />Desses arredores, há mães que correm atrás de filhos, <br />há filhos que choram a ausência de mães. <br />Alguns cantam para as gotas de chuvas, <br />outros declamam em cima de palcos.<br />Por aqui, dicotomias aglutinam: <br />Rico de alma tão pobre, <br />pobre que oferece o pouco obtido. <br />Neste lugar, pessoas acreditam em amores invisíveis,<br />outras enlouquecem.<br /><br />Poucos conhecem a palavra escrita.<br />Já não se pensa, <br />se posta. <br />Por aqui, ser humano vira bicho, <br />anseia sangue, <br />suga em seco, <br />fede e não se olha.<br /><br />Os cientistas afirmam retrocesso, <br />os poetas clamam por cinco reais. <br />Por aqui, já não se vive...<br />se vaga.<br /><br />Neste lugar, nunca mais alguém olhou para cima <br /><br />Lucas G.Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-18350790524632431812010-08-09T19:51:00.000-07:002010-08-09T20:03:57.694-07:00Pout Pourri do Amor / Lu Lopes"Eu vou te amar , você vai ver. <br />Só não vale economizar amor para se proteger. <br /><br />Já cresci , sem querer. <br />Invisível movimento .<br /><br />O amor está escrito, <br />não nas folhas de papel. <br /><br />Repare <br />Repare, <br />já te escrevi um livro <br />são letrinhas redondinhas. <br /><br />Os olhos escrevem sem querer, <br />para quem vier ler em sliêncio. <br /><br />Eu vou te amar , você vai ver. <br />Só não vale economizar amor para se proteger".Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-74739778727309780202010-08-04T20:35:00.001-07:002010-08-04T20:56:06.817-07:00Fone de ouvidoEra ação diária. Te tirava da minha bolsa e colocava nos ouvidos. As vezes, você me fazia chorar; em outras, minhas pernas não se aguentavam de tanta vontade de dançar. Em noites de lua cheia, você ouvia meus segredos, dando-me os sussurros em doses exatas, numa precisão que escorria em gozo perfeito. <br />Teve dias que te coloquei apenas para ouvir um outrem. Nem percebia você ali, sua função era basicamente repercutir ,em afagos e risadas, as intenções do outro que tanto me dizia. <br />Muitas vezes, você me pintou, fez eu me sentir dentro de um filme da década de 20 ou me impulsionou numa atitude almodovariana. Em contrapartida, já fez eu esquecer. Numa sinergia, em um fluxo constante de interno e externo, de música e corpo, do certo e do descabido.<br />Você também já fez eu lembrar. Memórias de não saber, das mentiras transformadas em grandes verdades. Primeiros amores. Graças ao seu som, eu cultivei instantes e escrevi cartas. <br />Por você, dei ritmo aos meus passos, pulei paralelepípedos e consegui dar 360° em um poste. Com você, voltei a ser criança; não tive vergonha e ganhei um beijo. Engolido pelas ruas da Augusta, consternado em um sonho juvenil. Você me deu a boa música, fez eu personificar divas e criou minha tatuagem. <br />Por som, choro, metáforas, ereções e flertes, assumo o trabalho cumprido.Tudo que me entregou por eu apenas ter te tirado da bolsa. Não gosta de escuridão? <br />De fato, na luz, você reluziu, marcou e muniu com cuidado e apreço os instantes de minha vida.<br /><br />Lucas G.Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7270927592175386592.post-66017019504263476222010-07-28T04:26:00.000-07:002010-07-28T20:05:55.833-07:00ÂnsiaMais uma elucidação de uma vã hipocrisia? Não surpreende. <br />Se sempre tão longe do real; mantenha-se também distante de memórias que não são suas. <br />Não chegue perto do passado dos outros, das lembranças bonitas, de pequenos instantes jamais contados.De um sentido tão pessoal. <br />Saber que aconteceu já me enoja. E, dessa vez, fechei as mãos, algo que há muito não fazia, apenas para agradecer as escolhas feitas.<br />A noite fria de ontem, trouxe dois novos esclarecimentos. Ambos de uma sujeira e de uma baixeza incabível.<br />Não posso delimitar ou querer trasmitir princípios de berço a corações tão mais confusos , ou apenas, mais gélidos. Porém, posso me abster. <br />Quando ouvi pela primeira vez, revirou um sentimento de indecência. Tentar o disfarçe frente ao incrédulo.Mas foi maior, muito maior...<br />E senti , mais uma vez, aquela vontade de sumir. <br />Pois cansa tamanha irrealidade; pois irrita a falsa proximidade; pois consterna ver que tudo não se passou de um jogo. Um jogo para acalentar a si próprio e , quando for possível, se satisfazer. <br /> <br />E um vento cortou a cara. E avistei a torre iluminada da Paulista e eu estava ali perto. Poderia tirar satisfação, cuspir, ou quem sabe até bater. Por razão nenhuma, apenas para eu finalmente deixar alguma marca. Senão memorável, pelo menos dolorida. E o que me adiantaria?<br />Logo então, comprovei aquilo por muito negado. A falsidade da sua postura, a leveza de sua fala, as risadas pelas angustias alheias. O seu desejo em colocar para baixo aquilo que jamais teve. A sua maior insegurança: a realidade. <br />Se fazer presente, galgar um caminho sólido de consquistas e reciprocidades, nunca existiu em seu discurso. Ao ponto de me perguntar, quem afinal seria o tal pseudo? <br /><br />Existem as mensagens não respondidas, as experiências de um dia e o discurso bem elaborado a outrem. Mas , pare e pense, palavras tão hipócritas que ao serem ditas poderiam refletir, pois assim ou quem sabe assim, ninguém derramaria lágrimas, enquanto você caísse no riso. Ninguém sonharia, enquanto você goza, ninguém sofreria, enquanto você se contorce numa noite descabida.<br /><br />Ontem, senti nojo de ti. Capcioso discurso. Travestir-se em uma pessoa que não é e nunca existiu. Ou eu nunca conheci. <br />Ontem, não foi só vento, barulho de carro e goles de cerveja. Foi também ver em você sombra, um vulto que por impulso tenta descobrir como é viver. Viver de fato. <br /><br />Lucas G.Lucas Galatihttp://www.blogger.com/profile/08878349769919504214noreply@blogger.com0