segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Fim

Ainda lembro o dia que decidi criá-lo. O medo de colocar o primeiro texto. De receber críticas fervorosas, de não ser entendido, de perceber que as palavras não saiam da forma que eu queria.
No entanto, afirmo que o objetivo durante todos os três anos foi de essência totalmente terapêutica. O emgolesacidos trouxe para mim um entendimento da minha escrita, dos meus sentimentos e fortaleceu uma identidade, no começo altamente juvenil.
O blog surgiu numa fase de grandes mudanças, num limiar entre a criança e o adolescente.Hoje, o finalizo carregando grandes conquistas internas. Conquistas que optei por dividir com as pessoas e que, por mais embaraçoso que tenha sido, fui ouvido e até confortei muita gente.
No emgolesacidos eu falei de amor, decepção e sofrimento. Eu esbravejei, discordei e escrevi textos pautados naquilo que vivia. Nas grandes dúvidas, em pequenos momentos de felicidade. O blog mostrou para mim que as palavras te tornam. Elas te fazem permeando um interno tão seu e o cuspindo em forma de crônicas, poemas e cartas.
Em minha vida, ainda prematura, eu engoli ácido, já me cortaram fundo, eu cultivei o sofrimento. Não obstante, me sinto feliz em dizer que transformei essa amargura em arte.Numa arte tão pessoal. Minhas palavras, por mais sulfúricas que tenham sido, foram as provas de que vi a vida. E que amei. E que sofri.E amei de novo. Enlouqueci. Cai. E levantei.
Engulo ácido e cuspo palavras. Esse foi o blog e a sua função em minha vida.
Hoje, o finalizo. Deixo de aqui escrever, pois talvez, me sinta invadido. Não pelas pessoas que o visitam, mas pelas lembranças que ele me traz. Os inícios sempre tão meus, o romantismo em doses extremas, a dor latente em casa letrinha aqui lida.
Ele traz memórias de menino. E não que as queira esquecer,muito pelo contrário, elas são parte de minha escrita, porém a vontade de começar uma nova fase. Uma nova maneira , já não tão ácida. Ou talvez, mais ácida ainda. Num outro lugar ou quem sabe aqui mesmo. Não anularei o blog, todos teremos acesso. Contudo, chegou o momento de escrever por outras bandas, em outros estilos. Chegou o momento de aprimorar, ler mais, conhecer novos autores e me entender nessa arte tão mutável.
Aos que acessaram agradeço cada texto lido. Aos comentários afirmo já ter estancado algumas lágrimas. O emgolesacidos trouxe para mim o entendimento de que nunca deixarei de escrever. De me colocar no papel, de ser mulher, de ser fone de ouvido ou experimentar uma noite de orgia.
O blog trouxe um novo vício, a minha forma de ser e um jeito tão especial de me entender. Não sendo um , mas tantos. Querendo ser pergunta, alguns dias com cara mais de resposta. Me ver descendo a Rua Augusta ou cantando em cima de uma espaçonave. Sofrendo de amor ou relembrando o passado.
No blog eu fui em doses máximas - eu criei meu ácido e ainda não achei minha cura. Espero nunca encontrá-la.

Aos interessados passo o Facebook, de tal forma, os mantenho informado quando o novo blog sair:
Lucas Galati

Obrigado por tudo!
"A SOMBRA QUE ME MOVE TAMBÉM ME ILUMINA"

Lucas G.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

E a dicotomia me enojava...
Não sou.
A divisão daquelas partes dava gastura. Eu vomitei.
O que eu estava pensando?
Não há culpados. Existem apenas realidade e folhas secas. Sangue e quadros. Empirismo e boas lembranças.
Incongruência.
Onde estaria eu com minha cabeça? Ressucitar semânticas de período tão vago. E o continuar sendo na postura do nunca ter sido.
Prefiro o estamento de semblante, de vulto, de autor.
Não há culpados.
Uma boa travessia!
Em nuncas e enfins...

Lucas G.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Vivo

Sua amiga não se aguentava de tanta felicidade. Ainda na cabeça de menina , o Ano Novo tinha ganho aspecto de nuvens, de uma viagem sem certeza de volta, no jeito doce. Aquela noite tinha começado com uma promessa de seu namorado e terminado em suspiro de muher - forte , intenso e úmido.
Não era mais importante se seu namorado passava na rua e olhava para outras garotas, se já tinha beijado homens, se era magro ou se comia de boca aberta:
- Sabe quando a vergonha desbanca o posto de inconstestável e dali surge o anseio de finamente se ter. De sentir se ter.
Sabe quando à tarde passa despercebida. Vem a chuva, vem os pássaros, vem a Lua e você não quis ver com seus olhos, e sim, apenas dos olhos de uma pessoa. O seu tempo refletia em instantes da inanição mais ativa.
Sabe quando passam a mão pelo seu corpo, sem o toque de lábios, e você se excita.Uma ardência das intensidades mais humanas, pois não precisa mais esconder. Vocês permanecerão escondidos, ele entrando em você. Você guardando os maiores segredos dele.
Sabe quando você esquece da virada de Ano e se joga em um rio frio. Apenas para sentir frio. Ele vai ao seu lado, pois já não sabe se entender sozinho. Sem vícios ou simplicidades transviadas, mas de forma orgânica. De atitude meramente trivial.
Sabe quando você deixou um pouco de você em cima da cama, nele, no banho, em sonhos e ouviu alguém sussurar: Fica tranquila! Eu te amo!

Não. O seu amigo não sabia.

Lucas G.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Shelter

Isto aqui não é carta, poesia , prosa ou conto com um final surpreendente. Aqui escrevo por um dia de fraqueza, um dia em que assumo a primeira pessoa, um dia em que não conseguiria colocar sentimentos meus em nomes de outrens. Não seria personagem feminino, não teria nome bíblico, não deixaria figuras de linguagem falarem por mim. Hoje, eu não conseguiria.

Um louco. Para muitos apenas artíficio, uma auto proteção ou algo para se contar numa roda de cerveja e passar por companheiro divertido. Para alguns, uma constante;não se lembrar, cair, quebrar alguma parte do corpo ou abraçar a privada enquanto amigos riem do lado de fora do banheiro.

Muitas vezes, sentenciam-me essa definição. A insanidade cuspida aos quatro ventos, a não moral, o desprendimento como resposta para um entendimento pifio e doloroso. E já com preguiça, passei a concordar e gostar disso.

Passaria eu a discordar de sinais tão expressivos de loucura? Criador de histórias - Certamente, nunca acredite na palavra de alguém que já passou a noite dentro de um carro na frente da casa do amado . Bipolaridade - Ainda há alguma dúvida? Vou de ápices de felicidade à pensamentos suicidas, um quebra cabeça kafkaniano. Infatilidade -Pois é, ainda acredito em livros. Claustrofóbico - ambientes fechados somente em casos de bebedeiras extremas. Por essas e tantas outras, evidencia-se que louco , em meu caso, é apenas apelido. Além dessas , acrescentaria a definição de importância regente ao meu eu, hoje, plenamente exaltado. Ironia - Sim, releia todo o parágrafo.

Loucura deveria ser artigo de luxo. E em meu caso, a loucura permeia atitudes altamente conhecidas, tanto para mim como para os poucos que, algum dia, tiveram o mínimo contato com ela. Não dormi na porta de amados, não sou de quebrar a cabeça e utilizo Kafka apenas para inspiração ou estudos acadêmicos.

No entanto, após um final de semana de fimes percebo que já consegui ter o gostinho da insanidade. Mas assumo que não cheguei perto de um final que eu julgasse de filme. Não convenci alguém com minhas palavras ou tive uma batida em minha porta da pessoa esperada ,em lágrimas, na calada da noite.

Afirmo que já senti o cheirinho gostoso de cartas, a esperança sensacional em lê-las, seguida após o fim do último parágrafo de um: "Puxa, quase lá! Quem sabe mais algumas provocações e não consigo o que quero?" E o que eu tanto quero encontro apenas em filmes. Por mais clichê que esta realidade seja, finais de filmes me suprem. E se no real , estes não existem. Que puta vida de merda.

Prefiro que os casos de uma semana que julgam me conhecer apontem o dedo em minha cara e continuem a me chamar de louco. Porra, muito mais legal. Ganho destaque e a auto estima vai a mil. Sem finais de filme, até o THE CHOSEN ONE perde a graça. E olha que esse há muito anda sem sal.

A permanência do trato frígido, a manutenção da filosofia do "foi bom enquanto durou" ou "o que tive com você nunca terei novamente" são enfadonhos e dignos de descrença.

Gente, originialidade nas relações amorosas. Se permitam a loucura. Vamos deixar "Querelle" no chão, fazer de Almodóvar um mero retratista do cotidiano humano. Vamos amar "pelicularmente" - entenderam a sacada?

Aqui vos fala, um jovem que pouco fez. Porém, alguém que consegue algum tipo de felicidade com ácidas doses de egocentrismo, um jovem que consegue deixar o medo de lado com algumas vodcas, alguém que ainda sabe chorar por amor.

O bode é tamanho, eu sei. Porra,fica mais fácil apertar o play - você chora da mesma forma e nunca com uma história sua. Conheço tanta gente assim...

Eu ainda sou chamado de louco

Lucas Galati

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Almas Gêmeas / Luiz Tatit

Se faço uma cara carente
É melhor me mimar
Se tenho expressão de doente
É melhor me curar
Se a minha cabeça está quente
Cê deve assoprar
E mesmo proposta indecente
Convém aceitar
Cê tem que cuidar
Cê tem que
Cê tem que evitar
Que a esta altura da vida
Eu despenque
Você me aparece sempre
Na hora certa
Você é a dependência
Que me liberta
E conserta


Se estou com frio
Você sabe o que é bom
Pra aquecer
Se estou vazio
Você vem preencher
Se desconfio
Você fala de um jeito
Que eu volto a crer
Se me arrepio
Você chega a tremer
Quando inicio
Você lá na frente
Põe fim, conclui!
Se sou vadio
Me substitui
Nunca uma dupla
Foi tão homogênea
Almas gêmeas!


Se faço uma cara de fome
Vem me alimentar
Se vivo morrendo de sede
É melhor me molhar
Se digo sempre a mesma coisa
É bom concordar
Se pensa ir embora pra sempre
É só me levar
Por onde cê for
Eu sigo
Não posso viver
Muito tempo
Sozinho comigo
Você é o chão seguro
Em que eu piso
Você é o que ainda resta
Do meu juízo
É isso


(a incerteza de um achado/ achado incerto/ certo não acho/ se ache certo/acerto)

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Pingente de ouro

Faço de ti, peça minha
Escapulário de Deus tão próprio.
Relíquias daquelas que adentram mar escuro,
já não pedindo voltar.
Ressuscito histórias e as prendo em pingente de ouro.

Sou maré,
conheço o som de ressaca.
Sou peça de mar e carrego em relicário contos antigos,
primeiros encontros.
De marinheiros pegos por Iemanjá, presos pela areia,
escondidos em parágrafos de Amado.

Escrevo por navegantes de pele escura e tatuagem no pescoço.
Homens que de tanta água se perderam em terra.
Homens que desconhecem leitura e,em tempo livre,
fazem poema de frente para a Lua

Homens de mulheres infindas, mas de única amada - Amor de terra distante.
Marinheiros que apenas desconhecem o caminho de voltar.
Vida de mar, retorno em samba. Em choro.
Assim são seus poemas,
Assim são suas marolas,
Assim são esses homens do cais.
Assim sou eu:
maré,
ressaca e amor.

Lucas G.
(poema dedicado à Constance Sotos, amiga que entendeu minha necessidade de solidão)