segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Previsões juvenis

Como gostava da exclusividade. O laço preto amarrado ao pé da cama, presente de pessoa importante. Bracelete rosa estampado em letras já bem apagadas: "Multishow", aquela rave e as drogas - Inesquecível. Um piercing, o grito aos pudores sociais. Uma carta amarelada, nunca arrancada do caderno. Hoje, já não relida.Rascunhos .
Um canguru em miniatura, seu intercâmbio. A água girava ao contrário por aquelas bandas.
E girando não só a água... A exclusividade trasmutava pelo passar de ponteiros. Agora, uma foto relembrava cores e cheiros, o abraço de um pai, o ouvir daquele primeiro te amo. Soava gostoso. Um aperto de mão seguido de um: "Amanhã a gente se fala", e de fato, acontecer. Ou uma simples carona após uma viagem de horas.Melhor... não ouvir perguntas apenas, mas palavras, uma frase,quem sabe. Querer dialogar.Estar ali. Não sentir medo.
Perguntas, por vezes, calam mais que respostas. Os dizeres da antiga carta amarelada deixaram o exclusivo e passaram ao trivial. Ao escritor, o renegar escorrido vermelho. Para o leitor, cócegas na lembrança. Dizeres que os giros de água calavam. Uma rotina ali, uma viagem acolá, uma nova pessoa e pronto, tudo estaria esquecido. Como quase já se tinha sido.
Sobra ao remetente a vontade de não ter sido apenas formador de cicatrizes. Que lembrado tenha sido por suas pequenas exclusividades.
Os medos que escorriam da carta ainda tão juvenil, eram as verdades abstraídas do agora. Caladas, cínicas e imutáveis. Uma mistura preta adjunta do vermelho das primeiras intenções. Uma nova cor ainda se forma.E por ontem, virou a folha e outras novas previsões foram escritas. Esperará, mais uma vez, pelo amarelar.

Lucas Galati

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