terça-feira, 8 de setembro de 2009

Na ordem inversa?



A escada que cansava pelos imensos degraus, daqueles que se abrem bem as pernas, apóia as duas mãos no joelho, conta um , dois e vai.A folha de jornal dobrada em formato de barquinho. Perfeito chapéu.
As tentativas frustradas de se colocar os pés nos chão quando sentado na cadeira durante o jantar. O quão difícil amarrar os tênis, ou segurar da forma certa no lápis durante a lição de casa. O cachorro como cavalo e a vassoura a mais potente espada. Derrotando demônios e monstros por sons de socos e chutes emitidos pela boca.
O dente no chão preso pela linha amarrada na porta recém batida pela irmã mais velha, os pés descalços e a cara lisa. A vontade de ter barba, espinha. “Cadê meus cravos?”.
Vestir o terno do pai, querer sair à rua assim. O gosto ruim da acelga, a surpresa dada pela mãe depois de “rapar o prato”.
O choro doído ao cair. A primeira visão do vermelho vivo rachando de um corte. O medo do escuro, dormir abraçado aos pais. Gato-mia, barra manteiga, lego, playmobil.
Quando ainda assim se é parece tudo ser tão grande. Grande de fora, enorme lá dentro. Coração de criança bate mais forte, fala dos dedos aos mindinhos. Respira essência e vai atrás daquilo que se quer. Sabe-se exatamente o querido.
Aí, talvez, se esconda o grande karma humano. Ver os anos passarem e a cada dia tudo menor ficar. Desapercebe o diferente, aparece o indizível, as ações se repetem, as coisas ficam sem sentido. Nasce a raiva, dá-se um grito e vai dormir de peito retorcido. Como desculpa, o desejo do dia seguinte: ser indiferente. Um pouquinho menor , menor, invisível ... e evaporar.


Lucas G.

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