domingo, 14 de novembro de 2010

Armando e Rogério

Do Armando ela tinha a companhia. Uma tarde no cinema, um café depois , quem sabe uma cerveja. Com ele, ela conseguia conversar sobre seus problemas financeiros, as crises na família e a vontade de ser mãe.
Ela falava de seus livros e ele de seu amor por carros. Ela reparava em mendigos e ele pulava poças.
Uma manhã no Ibirapuera, beijos na nuca e cafunés. Ao deixá-la em casa sempre seu celular tocava: "Boa noite querida! Durma bem, amanhã te ligo.
E Armando ligava.


Rogério a consternava. Dois anos mais novo e morava com os pais. A cama como a melhor poesia. Arquitetavam posições em ângulos sexualmente perfeitos. O tempo inexistia e o ápice era atingido todas as vezes.Em horas ou segundos. Sua boca, os pêlos de seu peito, ela tinha vontade de ter aquilo por dias. Semanas. Ela queria poder ligar, queria mandar mensagens ou passar tardes no Ibirapuera.
Mas Rogério sumia.
A conversa dos dois era feita de corpo, suor e altas dosagens alcóolicas. Denso o suficiente para quase esquecer preservativos. Intenso , percorria distâncias. Partindo sempre dela. Ela estudava horários, buscava alguma brecha, um resto de salário.
Ele desmarcava.


Armando e Rogério. A companhia de um, o sexo do outro. Ela: mulher formada, independente, de casa alugada e viagem planejada no final do ano. Ela: amante de coração infantil, vagava nas promessas de Rogério, se divertia com os comentários de Armando. Cada um, saciava uma particularidade, acalmava seu interno ainda tão imaturo. Não decidia e não pedia mudanças, vivia esperando mensagens de Rogério e acalentava as ligações de Armando.


Dessa forma, ela conseguia o status de menina-mulher. Uma auto aprovação, uma brincadeira feita por ela e com ela mesma, uma forma encontrada de se vangloriar dizendo ser adepta aos relacionamentos abertos. Ela não era.


Na aparência ou na arrogância. Na incerteza ou no orgasmo. Na completude ou no inato. Até que a morte os separe.


Ela já não sonhava com vestidos brancos.

Lucas Galati

Nenhum comentário: