segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Páginas frias

Desconheceu metáforas por
anos de ardência.
Em cima da cama,
debaixo da mesa,
em perfumes e canetas.
Em nuvens.
No inverno.

Um corpo.
Seu corpo.
As mãos, apunhalavam carícias.
No peito, o desejo de uma vida longe de tudo.
Longe de si.
Daquilo.
Do que seria.

O passado ainda não tinha feito páginas e
ele ainda não tinha chorado.
Rascunhava um texto,
indolor, de página única e seu personagem já não tinha nome.

Da primeira palavra, escorreu amor de forma juvenil.
Pelo recente, desconhecia sentimentos.
E se deliciou nas suspeitas,
num bombear silencioso,
em lembranças de luas e jangadas.

Início errado?
O pequeno começava apenas a acreditar.
Das corridas, um gozo.
De porradas, sua forma.
De poemas, os sonhos.

Ele amava assim.
Um romântico em potencial,
um sádico ou um louco?

E por anos, calado permaneceu.
Numa noite, deu um nome.
Especificou aquilo que ele tão pouco sabia.

Na tarde seguinte,
a porra esfriava em cima da pia,
os textos haviam sido cortados,
os poemas, agora, em sátiras.
E o tão pequeno ainda não entendia.
E , talvez, nunca entendeu.

Vieram anos,
e ele murmurou já em ápices de insanidade:
seria o vento lá fora? Ou a janela sempre esteve fechada?
Não se via.
Se culpava.
Tinha aprendido a amar assim.

No vigente,
descobriu que o distante novamente se aproxima.
O inexistente tão tácito no recente,
fará vida em confins. Em corpos de outras terras.
Tentará outro nome.

E o pequeno sempre rasurado, terminará em folhas frias.
Buscando alguém que possa colocar cor no grafite de tempos antigos.


Lucas G.

2 comentários:

disse...

Seus textos me deixam sem fôlego!

Lucas Galati disse...

E seus comentários me trazem sempre o tão feliz!