segunda-feira, 24 de maio de 2010

Texto Feito em 31.12.2009

Apaga a luz. E deixa o sol queimar. Deixa as mentiras do lado de fora e te veste pra mim.
Te veste do que tu és, e nunca foi. Desfaz tudo aquilo que te disseram, que te botaram. Limpa aquela mancha e te suja (de mim).
Apaga a luz e vê. O tempo que perdemos. A distância que inventamos. Inventa palavra pra fingir que esquecemos.
E esquece. Do corpo que tens e que pensas que não é teu. Veste teu cabelo, veste tuas costas. Veste-te de ti e seja outro.
Seja borboleta, hoje. Brinca de nuvem. Desmancha-te no concreto do céu. Firma os pés no chão e voa.
Confunda tua cabeça com teus poros. (Lê sem usar os dedos. Amplie seu detalhes.)
Reinventa o agora. Distorce o tempo. Contorce a nuca. Comprime os lábios e grita.
Grita pra todos ouvirem. Chama os outros. Faz escarcéu e seja apenas meu.
Ata minhas mãos e me afoga. Entra em mim como canoa ao mar, que se fica à deriva.
Deixa-te e me controla. Dirige-me ao imenso. Traga-me a dor do ser. E a pureza do estar.
Conforta-te em meus peitos e finge que nunca esteve aqui. Transcende. Abusa de mim pra sentir que é verdade.
Minta. Diz que acabou. E goza, entregando aos lábios a culpa.
Cresce, com a força de criança que procura acalanto. Com medo do escuro, chora.
Agarra-te em minhas mãos, em minhas costas, em minhas pernas.
Sinta o prazer que ainda tenho e me completa. Como quem usa o amor de máquina.
E lembra que choras. Enxuga minhas lágrimas.
Dita poema com os pés. Inventa canção de sopro. Beija meus olhos e vira.
Aceita-te como berço, pro meu parto de mim.
Sejamos pequeno, e eternos.
(E que continuemos, na escuridão de nós.)

(Livia Albano)

A beleza era tamanha que não tive como não propagar esse rio de palavras tão lindas.

Um comentário:

Mari entre linhas disse...

Não é um rio de palavras lindas. É o oceano inteiro...