segunda-feira, 19 de julho de 2010

Marionete

Num repente, desenharia sua cabeça. Colocaria nela chuteira, nuvens, homens, mulheres e um cuspe unindo tudo em um retrato difuso. Daqueles que não se tem um jeito certo de se olhar.
No peito, latejaria um círculo cortado ao meio. De um lado, o vermelho do crayon mais antigo, do outro um preto feito por nanquim. Por qualquer razão, o círculo dispararia e ficaria difícil delimitar as duas cores do começo.Artifício pictórico.
No meu desenho, traçaria duas genitais. Assim , me supriria mediante a qualquer rompante ou necessidade diária. Dos meus traços, te faria o ser mais incompleto. Não sendo homem, muito menos mulher. Você existira somente frente as minhas consternações e da maneira que eu o quisesse naquele dia.
De suas pernas, faria canelas dançantes. Rabiscaria passos jamais inventados e apenas seus. Só para poder me levar junto num dia de inverno e bom vinho.
Das orelhas, a percepção pelo pequeno som e, todo dia, comporia uma tablatura nova de tantos sujeitos. De tal forma, eu não me enjoaria. No meu desenho,você faria do vento , uma música e de um beijo, uma estrofe.
Nas mãos, traços de piano misturados com os quadros braçais de Amaral. Pela dualidade, misturaria o jeito e a força e, ao chegar em casa, me faria cafunés.
Na voz, cantaria em acordes femininos e em gracejos tão singelos como um carinho a uma parte do corpo há muito esquecida.
Seus olhos sempre estariam fechados, pois te encantaria pelo som das palavras.
Te faria de grafite e deixaria guardado em um caderno no fundo do armário. Você seria só meu e todos os testes findariam,não haveria jogos, pois quando quisesse poderia modificá-lo.
Por não ser, você me completaria. Na irrealidade de uma folha sulfite, na rapidez de batidas inconstantes, em ritmos únicos, em sexos relativos, em cantigas de interior...
Todos os dias. Até o cansaço chegar, até a razão esfaçelar. Não sendo, porém meu. Até...

Lucas G.

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