segunda-feira, 7 de junho de 2010

Pequeno flat

Então, você entrou. Deixou as chaves naquele mesmo lugar. Estralou as costas, dizia estar cansado das horas de trabalho. Foi até a geladeira, pegou uma cerveja da marca que mais gostava e a abriu com os dentes. Deu um primeiro gole e disse estar estranha. Seriam todas ou você não gostava da bebida? Nunca perguntei.
Foi até minha cama e procurou por mim. Gritei do banheiro que terminava o banho.
Tirou suas calças, abriu a gaveta esquerda do criado mudo e passou o resto de perfume que ,um dia, disse que gostava. Se olhou no espelho, ajeitou os cabelos e viu que o bigode já dava os primeiros sinais de gilete. Não ligou.
Entrou no banheiro.Eu não ouvi.Apagou as luzes e de dentro do box eu gritava verborragias ao velho síndico e aos problemas elétricos do pequeno flat.

Silêncio...
Uma mão e estava erguido.
Quente, o cheiro do cabelo no momento em que a água começava a cair.
Era doce e vagarosa. Preenchia cada ranhura.
Em passos , nas bocas.
Duas bocas, o não movimento de corpos amantes.
Nossos.
Seu instante e minha alma esvaindo-se pelo ralo. Água de dentro e resto de cama.
Dois brincando de um só.
Num beijo, no falo, da noite.
Vieram também promessas e você abriu minha mochila e pegou o shorts que gostava de dormir. Eu aceitei.
E sonhei.

Na manhã seguinte, deixou em cima da mesa da sala, um bilhete. Já não voltaria. Dizia que a gira do mundo segue e que outros cantos davam viço a uma alma envelhecida. Se utilizou de sóis, luas e nossos poemas como possíveis explicações. Fechou a porta e arrastou a chave para debaixo da porta. Saiu. Eu não ouvi.

Uma última noite ou objetos estrategicamente alocados?
Eu nunca mais te vi.

Lucas G.

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