segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Semáforos, semblantes e centelhas

O carro que, agora, galopava
em um trote descompassado.
Daqueles que as costas doíam
num céu de janeiro,
e o suor fazia bolhas nas mãos cuidadas
do menino urbano.

Segurava as rédeas,
mas delas não detinha controle,
guiava-se com a força dos ventos,
com o cheiro das árvores - imerso.
Nesse instante, o cavalo das quatro rodas metálicas
já nem fumaça soltava.

Nostálgica, a mente relembra a Nancy de Capote,
os acordes de Piaff,
a segurança da voz conhecida.
Corre e anda, sem olhar para trás
até um rio distante,
até um limiar,
até entender sua parabólica natureza.

Ele lembra da rua numa fria madrugada paulistana,
a sincronia das cores dos semáforos com os pés executivos.
Os galopes da “Ordem e Progesso”.
Os costumes, as certezas, o compasso.

Sua?
Era minha origem
- o coração pulsa –
Minha fala
- percebo um risco de luz no céu-
Retórica
- sentido de pertença.

Sempre fora eu?
Sou o que?
Sou o menino?
Mas logo eu!
Eu de tantos e
dos tantos em mim.

A definição me escapa
nas palavras de uma roda de samba.
Ele não era,
eu nunca fui,
somos muitos.
Os muitos das características normatizadas,
Das convenções,
Das idiossincrasias.
Eu era nós.
Nós dos tantos semblantes.
Porém uno, ao rever o cantar dos semáforos.
Eu era seu, quando vi aquela centelha no céu.

(Uma buzina e, em seguida, uma torre coberta de insul-film – estava próxima de casa)
Lucas G.

2 comentários:

Juliana Romano disse...

Fantástico! Metáforas da vida? A vida, uma metáfora? Enfim, bela escolha de palavras!!! Adorei!

Unknown disse...

Foooda de mais! Sem palavras, amo os seus textos!