quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Lá onde Lua , barata e homem coexistem


Agora já faz frio na terra da garoa. A chuva limpou o céu e extraiu a lua de suas entranhas.
O sono chega, os pés molhados , a calça rasgada. A calça dobrada.
Tudo tão sólido, tudo tão sempre, tudo tão...
O cansaço bate e a música do celular pára.
Cinco segundos - acompanho o andar compulsivo de uma barata, olho de novo a Lua, olho a lua na asa da barata.
Um carro passa.
Devaneio - decido sentar.
O chão quente de um dia de calor e muitas solas. De todos os tamanhos , de todos os estilos e cores. Solas de saltos, solas de madeira, solas com merda, sola de pêlos - estou exausto.
Nas minhas costas, construções e á frente a rua e sua barata. Lá de cima, um homem de moleton vinho, calça rasgada, um colchão dobrado na mão direita e um papelão na mão esquerda, desce trocando alguns passos.
Percebo ele passar por mim. Sinto o cheiro de rua, de cidade, de estória.
Os cinco minutos dos papos de praça, que hoje, inexistem e a troca pela facilidade de se julgar a primeira vista.
Os dois se olham, ele com a cara fechada e eu com o sorriso patético daqueles que não tem nada a dizer.
Ali sentado, não julgo, não mexo. Invado.
A dualidade de um arrepio na espinha. A estranha felicidade de ter sido repelido e o anseio por diálogo. Aquele lugar não era meu território e daquele instante, a rua já não era só da barata. Já dentro da escuridão de uma casa fechada, o morador ajeita seu colchão e vai dormir após mais um dia, esperando, agora, não ser incomodado por admiradores da Lua e de baratas em volta de sua propriedade.
Lucas G.

Um comentário:

Juliana Romano disse...

O olhar de uma invasor sob a lua cheia é impagável! Genial Lu, olhares minimalistas sobre coisas grandes que olhos comuns simplesmente não vêem...