terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Meu presente de Natal (ou o Último)



E de praxe, após semanas e noites de intensa felicidade, a véspera de Natal resguardava uma valiosa caixinha.
Nunca fui daqueles que via em acasos ou destino alguma informação a ser solenemente verdadeira. Nunca achei que houvesse razões desconhecidas ao próprio indivíduo e que fossem capazes de modificar ou entender detalhes que o reflexo no espelho denegria.
Porém, por motivos ainda tão indefinidos, vivenciei um ano, onde a descrença em tais aspectos tornou-se impossível. E, hoje, os acasos tomaram conta da roda de amigos e a cerveja desceu amarga.
Por diversos motivos tudo se entende. Não se gosta, são outras sintonias, medo, inexistência, retrocesso temporal, irritação, lástimas...
Para tudo, sempre acreditei que alguma falha realmente existisse, um vão no qual não pudesse ser preenchido, um excesso de fidelidade e transparência altamente desnecessário, uma atitude expositora por demais.
Atitudes e ações que clamavam e transbordavam dentro de mim e que sempre se expressavam em tentar ser nítido o suficiente para ser entendido. Contudo, ao mesmo tempo, minha inexperiência delegava a mesma inexpressão e dúvidas a algo tão evidente aos olhos dos outros.
Os comentários de alguns, a busca por informações de outros conduzia apenas a minha permanente necessidade de gritar: EU NÃO SEI! Pergunte a outrem!
Não conseguia mais ter o mesmo papel do passado, ver nos olhos das pessoas a hipocrisia de uma normalidade tão fictícia e num momento que tudo o que existia era altamente palpável.
Junto a tudo isso, a caixinha se abria lentamente. O engano das pessoas em achar que realmente tivesse existido mudanças e que aquele indivíduo tinha conseguido reavaliar e descobrir importância a alguém antes facilmente descartável. A insensibilidade das pessoas em se passarem por cartas a serem compostas num leque predefinido conforme as inquietações efêmeras de alguém tão superficial.
Mesmo assim, tentei entender.
O medo de se perder uma amizade, um amor, um companheirismo. O esquecimento de que reais relações não se perdem num convívio tão próximo. Retive em tais épocas, as caras feias, os bocejos, o silêncio, a seriedade. Absorvi o afastamento, os goles secos, as farpas, as inúmeras mágoas.
Porém , em algum momento, a caixa se abriu e dali não enxergou-se mais soluções. Certamente, pois de um lado a nostalgia e a angústia de ver uma reorganização tão instável e falha, e do outro, a satisfação em se ver em outra fase e o reaparecimento de relações baseadas em palavras bonitas e gostosos depoimentos de carinho e ternura.
Mas aos meus olhos aquela pessoa era conhecida e interpretada de uma forma que, talvez, nem ela tivesse noção. Totalmente compreensível acreditar na retórica dos bons usuários das palavras, entender as caras expressivas e os ápices de um diálogo altamente intenso.
Inegavelmente, apagava-se o som de um: “Deixa eu só falar” ou daquele “não tive vontade de responder”. Engoli acidamente os “oks”, as carinhas piscando na tela do computador. Consegui suportar a arrogância de textos e palavras tão expressivas, vi-me como errado , galguei a bipolaridade inexistente da pessoa referida, as tantas fases e esquecimentos repentinos.
Inesperadamente, hoje, olhei no fim da caixa e vi o antigo rubro poço. Aquele que há muito deveria ter visto, aquele que achei já ter enxergado. Entendo o cansaço dos colegas ao ouvir palavras repetidas, as inverdades tão afirmadas, mas adotar o “se permitir sentir” teria suas parábolas. E, talvez, possa ter sido apenas mais uma. Ao mesmo tempo, pode ter sido a última. Já não sei como meu corpo e o órgão titubeante iram reagir. De qualquer forma, apenas mais uma sei que não foi – acerca dos acasos, antes, tão desacreditados.
Não se abre o livro e encontra o conto perfeito, não se tem um abraço como aquele todos os dias, não se olha no espelho e se sente feliz com as atuais mudanças, não se despede com um frio toque e secura na véspera de Natal de um grande amigo , não se olha na face da pessoa sonhada e idealizada pelo amigo, não se beija daquela forma.
Foram acasos desprovidos da caixa aberta e do peito escancarado com verdade e tentativas. De qualquer forma, ouvir aquele : “E aí, beleza?” Fez eu acreditar que realmente nada havia feito de errado e solucionar a vontade de fugir do individuo e o silêncio nas conversas.
Estranhamente, ditados nessas horas conseguem explicar alguma coisa - “O feitiço virado ao feiticeiro”.
Fez tudo aquilo, ouviu-se tantas pessoas, sonhou com os inúmeros olhares, escreveu-se cartas, para ouvir de uma criança um “E aí ? Firmeza?”
Com certeza você não entenderia o que algum dia quis te dizer. Percebi que, talvez, nunca sofri , apenas sonhei, disse e fui sincero. Se paga um preço por isso? Talvez, mas prefiro ver-me nítido a ter de me encontrar apenas revelando segredos pessoais e ingerindo olhares.
Hoje, descobri ser feito de carne e osso. E a isso urro um muito obrigado.

Lucas G.

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