segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Meio amargo

Era doce.
Doce de papel.
Pequeno, colorido.
Era doce de gotas.
De segundos.

Ingere-se e sonha.
Engole e se é.
Sem controle,
De máscaras caídas,
De conversas dispersas
E inteligíveis.

No entardecer,
As dunas ganham almas.
E da paisagem uma grande
Exposição de quadros.
Feitas daquele momento,
No meio e do meio – era ali que me encontrava.

Aflora-se personalidades,
E a essência dos homens transita
Junto ao escovar de dentes.
As cores vibram e os toques queimam.

O doce, de gosto amargo
Trouxe consigo a sensação de se andar em argila,
De sentir grãos litorâneos na face,
De querer entrar no quente,
Trouxe uma busca ao centro da terra.

Trouxe também
Risos, altos, sem sentido e veementes.
De uma força
Que não cabia nas flexões do abdômen e nem
Em lágrimas alegres.
Trouxe inquietação, medo e instabilidade.
Vontades inconstantes e jamais satisfeitas.

O doce,
De papel colorido
Trouxe-me dos dedos
A boca, dos passos ao nada,
Mostrou-me a fome inexistente.

Reconheci-me nos outros
Na facilidade de um assovio.
E mais cores, tantas cores.
Insônia, sons e vontades.

Ao final, os olhos fecham
E tudo pára.
Fica apenas o som do meio do
Peito que
Progride, propaga e incomoda.
A cabeça pensava, sem seqüência,
Disforme.
E foi assim.
Sem uma noite, sem sono,
De olhos fechados.

Talvez, sempre assim.

Lucas G.

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