domingo, 30 de agosto de 2009

O bilhete debaixo da porta: tapa de vida

E em truculência, eram cantos feitos a toda parte. Reclamantes, arbitrários e indecentes nas vozes dos pequenos meninos. Que deixavam de chorar e preferiam fechar-se ao mundo – que ainda mal os mostrava o tanto aquilo.
Engasgados por tamanha acidez, vociferando, algumas vezes, verborragias por eles não entendidas. Repetidas em inocente senso comum. Mas diziam. Um contentamento tão frágil, por vezes tido como irreal. Pois como se pode em pequena cabeça menina?
E dali culminam as mais tristes anomalias. Contrários inóspitos, porém aceitos em forma de acalento no já vago pensamento juvenil. Depressivos, bipolares, críticos, ríspidos, sintomáticos humanos. Rochas.
Não obstante, o ciclo não se faz linear. Uma hora, aquele interno se cansa, a vida solapa a face, ou deixa debaixo da porta bilhetinho de cor violeta. Muitos sem coragem não abrem. Alguns arriscam e tiram daquela mensagem o sorriso diário, a covinha, um adendo. Muitos desaprendem a julgar. Outros não a entendem .
O bilhetinho de cor violeta carregava consigo as seguintes letras: AVIV e à mim foi entregue por menina de sorriso choroso , e choro sorriso. Ao pé do ouvido contou-me um segredo: Espelho.
Não somente o bilhetinho. Não apenas o bilhetinho e o espelho. Mas a menina. Os seus olhos. A saudade. O tapa da vida.
Aos pequenos meninos sintomáticos, a crença de que meu “viva” apareça de alguma forma. De que se permita as paixões, as caídas, os descasos e acasos. Dessa oportunidade tão frágil e singela. Dessa tão criticada. Menosprezada. Calada. O pensar de que para os meninos um bilhetinho ainda seja entregue.

Lucas G.

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