terça-feira, 5 de maio de 2009

Pincel e vidro

Duas pinturas. De um mesmo período, de cores reais e traços surrealistas.
Duas pinturas. Uma com moldura, outra a frente de um espelho.
Os tons parecidos, a marca do pincel em ambas ainda permanecia.
Aos despercebidos, cópias. Aos apaixonados, continuações. Aos detalhismos, estupidamente diferentes.
Eram duas pinturas, de diferentes autores e de longínquas localidades. Porém , pinturas de uma mesma situação. Daquela mesma sensação, de um ritmo que , apesar da distância, batia em sintonia e isso se via.
Uma com o espelho servia de reflexo a outra. Nunca olharam de lado e o espelho , hoje, ali jazia, pois eram duas pinturas, de um mesmo período, de uma mesma estória. Apenas por isso. Eram , talvez, complementos. Adendos, inversas, ou prolixas.
Eram retóricas e despedidas.

Não se desmente. Ambas imaginavam como seria um olhar de frente, o reconhecer das cores, as mesmas pinceladas, os contrários: da mesma cor, mas outro sentido, da linha exata , mas vermelho sangue. De suas particularidades e sinestesias.
Existem aqueles que afirmam que o espelho foi realmente criado na estória dessas pinturas apaixonadas, descabidas, esquecidas.
Alguns , recontam dizendo que sempre lá esteve, porém passou a realmente existir quando a pintura do espelho, finalmente precisou de seu reflexo sem moldura para ver seu complemento. Vendo-se, avistou a outra que ao seu lado sempre permanecia.

Desse conto, sabe-se apenas que o espelho e as duas pinturas formaram a síntese de uma retórica perfeita. Se realmente se encontraram? Os ditos afirmam que ainda carregam a vontade de se ver de frente.Porém,do contexto, emana o oposto: Talvez, só existam, pois jamais conseguiram se olhar de tal forma.

Lucas G.

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