domingo, 15 de novembro de 2009

Vanessa Love, Lambe, Limbo



Visitavam-na apenas a noite. Quando muito, ela ainda torneava os cílios com um lápis preto dado pelo último namorado, quer dizer, pela última promessa. Quando ela ainda caia nelas, quando ainda acreditava que as fábulas podiam não ter cores, quando achava que a Lua podia ser algo além da iluminação natural de todo dia, além de um raio de sol noturno.
Exaltava os beiços no espelho de bolso e o batom riscava aquele pedaço de carne humana, invertendo a ordem. Sangue por fora, lábio para dentro. Ajeitava os cabelos castanhos tingidos recentemente com uma escova de cabo carcomido. A bota alta preta,micro saia e micro blusa também no estilo vermelho sangue. Sempre gostou de combinar e aquela cor era atrativa aos olhares masculinos. Com passos largos, o branco da Lua refletia na sua roupa, reavivava a feminilidade de todos os dias, mas hoje era diferente, se sentia bonita, mexia os cabelos levemente ondulados e estava feliz. A noite desejava ela e ela não via à hora de se entregar.
Puta! Chega aqui! Flertes, passadas de mal, risadas... Falsas, e o fim sempre aquele: 150 a hora, interessa? Entra no carro, o falo já erguido à sua frente... Sente vontade de ir embora, regado a certa tentação, gostava daquilo e sabia fazer bem. Cede e entre gemidos ecoa seu fingir durante aquela uma hora, segredo da esquina, anos de passos refletidos por Luas.
O dentro por tanto mostrado. O dentro do fora. Não foram picas que algum dia fizeram o coração dela bater mais rápido. Ela tinha uma vida fora aquela do teatro, do vermelho sangue, da rua. Era Vanessa, geminiana, 25 anos de idade, com vontade de prestar uma faculdade, conhecer Barcelona e alguém que a tirasse daquela vida. Enquanto o tempo a desacreditava, escrevia sua estória e guardava na poupança, remontaria o quebra cabeça, daria volta por cima e se mandaria para fora.
Não era um karma aquela vida, gostava do sexo, gostava de se sentir desejada, se protegia todas às vezes e já não bebia há muito tempo. Mas uma hora aquilo tudo cansa.Estar tão próximo do que muitas nunca nem viram, posições mirabolantes, gozos e tantos orgasmos. Músculos, pêlos, virilidade e entrega. Mas nunca um grito de amor, um sentir que a tirasse do teatro, que a fizesse cair do palco. Nunca. Eram cenas repetidas. Duas, três, quatro até oito vezes dependendo da noite. Na sua casa, nos motéis, em Audis, Blazers e Fuscas... Sete da manhã volta e sua casa com o gosto de madrugada ainda, os lençóis revirados, a cama quente da sua última trepada. Cansava. Adentrada, no limbo, lambendo a sua não satisfação e a masturbando diariamente com mais shows, cenas e mentiras. Mas tinha dinheiro na poupança e em outro lugar poderia ser conhecida apenas por Vanessa... Love, lambe, limbo – seu nome da noite cairia, seria esquecido e seu celular desativado. Uma nova vida, um recomeço, mas não ainda... Mais dinheiro, mais Luas, vermelhos, gemidos, novas temporadas de uma peça que parecia não ter mais fim.

Lucas Galati

4 comentários:

Fontes disse...

Opa, seu blog tem o mesmissimo layout que o meu. Gostei, vou voltar mais vezes.

Ah, aqui é o Felipe Fontes, das entrevistas pro SBT.

"pectrai" é a minha verificação de palavras. Soa bem.

Lucas Galati disse...

Que bom que curtiu!
hehe
Volte sim...
como era o seu mesmo?

Fontes disse...

Se clicar no meu nome você descobre.

"topse", dessa vez.

Lucas Galati disse...

Percebeu meu conhecimento blogueirístico...hehehe