quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Blackout

Era uma noite inteira sem luz e o instante em que mais vida emanou de cada bueiro, beco e esquina da cidade. Uma cidade cantando aos escuros, aquela organização tão estável sendo fragmentada pelo caos. Por horas de um retorno ao passado, uma reação dos instintos, a permissão de ser humano.
Os namorados se entregando ao preto e cinza - já não se viam. Os desconhecidos trombando com as não faces. E riam. Os dançarinos das ruas entre seus diários passos bêbados encostavam e não ouviam xingos. Entrariam, agora, nos ônibus.
Os carros seguindo o ritmo dos passantes. Auto organização instintiva, o homem se permitiu ser animal por àquelas horas. Se deliciou ouvindo boa música aos olhos fechados. Teve aqueles que até deixaram uma lágrima cair. Ninguém veria.
Ficaram nus, se reuniram a família, deram abraços e riram um pouco mais. Era um país inteiro sem luz. Um país de Saramago... Estagnado, dos homens sem papéis. Deixaram seus cargos e foram as ruas tomar cervejas quentes, andaram descalços em plena Avenida Paulista. Acenaram pra Lua, alguns viram o coelho estampado no branco. Mandaram mensagens dizendo: “Queria estar ao seu lado”. Sentiram o lúdico tomando conta e subiram no sofá com as crianças, amanhã poderiam dar alguma desculpa no trabalho. Dormiram mais tarde, ou mais cedo.Foram, ao menos , horas diferentes...
Toda semana deveria existir um dia em que apagassem todas as luzes da cidade.

Lucas Galati

2 comentários:

Mayara Facchini disse...

Cheguei a me arrepiar! Adoro seu jeito de dizer as coisas.

Unknown disse...

Fico feliz de ouvir...