sexta-feira, 24 de abril de 2009

A uma ausência




"Sinto-me, sem sentir, todo abrasado

No rigoroso fogo que me alenta

O mal que me consome me sustenta,

O bem que me entretém me dá cuidado.


Ando sem me mover, falo calado,

O que mais perto vejo se me ausenta,

E o que estou sem ver mais me atormenta;

Alegro-me de ver-me atormentado,


Choro no mesmo ponto em que me rio,

No mor risco me anima a confiança

Do que menos se espera estou mais certo.


Mas, se de confiado desconfio,

É porque, entre os receios da mudança,

Ando perdido em mim como em deserto."


(Fênix Renascida, Gregório de Matos, 1716)

3 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Adorei essa frase: "Ando perdido em mim como em deserto"

Ve Gonçalves disse...

Gregório de Matos é incrível. Esse poema é muito impactante...