Era ontem ainda. E lá fora chovia. Da minha janela, um cigarro aceso. Meu.
Da janela, viam-se grades. Não só minhas. Grades de minha janela e de outras. Dos tantos.
Grades protegendo e a chuva . Meu cigarro aceso. Protegido da água que caia. Que dançava.
Fumaça também dança. As minhas, numa ciranda entre grades. Tocava a água e desaparecia.
Cinza, translúcida e interna. Num compasso da vontade de um externo instante. Calmaria.
A água tinha passos livres. Gotejava na grade, provocava a fumaça do humano protegido.
Porém do telhado era chuva que caia. Inconstante, acariciava telhas, fazia o ralo cantar.Natural. Inveja aos feitos humanos.
Não haviam regras, o além das grades convencia. Num ritmo que o protegido desconhecia, que a fumaça esquecia a dança e errava os passos.
Desconhecida, uma música que poucos ouviam. Calava o barulho de cidade, apagava o cigarro e desprotegia aquele que olhava entre grades. Que só sabia ser assim.
Aquele que ainda queria aprender a dançar chuva. Ao menos, uma vez.Naquele instante.
Lucas Galati
Um comentário:
Grades...
A prisão é sinistra, amarga e feia
Dum velório tem pouca diferença
Não conheço quem vá pedir licença
Pra entrar no portão duma cadeia
Só à noite, depois que a lua alteia
Aparecem sinais de claridade
Uma sombra distante oculta a grade
Limitando a visão do indeciso
Uma gota de pranto molha o riso
Quando o preso recebe a liberdade
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