segunda-feira, 9 de agosto de 2010

De tão pouco

Caro Alberto:

Por aqui, as pessoas ainda namoram em carros e as azaléias continuam com cor.
Ainda olham nos cantos dos olhos e procuram o mar para esquecer.
Aqui, vê-se a fé acesa numa ceia de Ano Novo e o companheiro enrolado em cobertores degustando latrina. Rezas ecoam em vazio.
Vácuo congruente, um acordo entre o dentro e o fora.
Uma balança equânime pesando o nada -
E ainda se paga caro por isso.

Desses arredores, há mães que correm atrás de filhos,
há filhos que choram a ausência de mães.
Alguns cantam para as gotas de chuvas,
outros declamam em cima de palcos.
Por aqui, dicotomias aglutinam:
Rico de alma tão pobre,
pobre que oferece o pouco obtido.
Neste lugar, pessoas acreditam em amores invisíveis,
outras enlouquecem.

Poucos conhecem a palavra escrita.
Já não se pensa,
se posta.
Por aqui, ser humano vira bicho,
anseia sangue,
suga em seco,
fede e não se olha.

Os cientistas afirmam retrocesso,
os poetas clamam por cinco reais.
Por aqui, já não se vive...
se vaga.

Neste lugar, nunca mais alguém olhou para cima

Lucas G.

2 comentários:

/ / / disse...

que foda.

disse...

Por aqui há quem guarde a história, há quem detalhe e tente, ainda que sutilmente, alertar.
Parabéns!